Sociedade

«Coisas» que deve evitar dizer a uma grávida

 
Tendo por base o livro de Joana Gama, «Estou Toda Grávida», importa ter em conta alguns comentários que não se devem fazer a uma grávida, isto porque, a fase é de maior fragilidade, de receio e ansiedade em que, a mulher procura ultrapassar, através dos momentos consigo mesma, e quando «contacta» com o seu bebé.

 
Por ser um longo tempo e com diferentes etapas, a mulher tem de se adaptar rapidamente a tudo e estar disponível para viver alterações profundas no seu aspeto físico e no seu organismo, pelo que, em nada ajuda ao processo, o «lote» de comentários que parecem «estudados» para quando se encontra uma grávida na rua, no supermercado ou em qualquer momento social.
 
No seu livro, Joana Gama confessa, "Irrita-me a forma como falam com as grávidas nos sites e nos livros. Tratam-nos como se fossemos uma espécie de Carris metal: somos úteis para transportarmos pessoas, mas suspeita-se sempre de um atraso."
 
De forma irónica e muito bem disposta, Joana Gama ilustra o retrato de «estar grávida em sociedade» e de receber toda a sabedoria popular quando se tem de ouvir os especialistas: "Na última consulta, a Dra. tinha dito que era uma menina, mas que só tinha 80% de certeza. Agora vimos o pipi! Não da Dra., claro." É aí que a vizinhança discute porque, «afinal a barriga era muito arredondada para ser um menino».
 
Com esta forma livre de expressar o que uma mãe sente, a autora mostra-nos o quão é delicada a tarefa de lidar com as naturais incertezas de mãe, sobretudo em primeira viagem, e depois com a pressão social em torno da barriga, do aumento de peso, do aspeto, da «adivinhação» em torno do sexo da criança e daí por diante.
 
É caso para dizer que, «só quem já esteve grávida é que sabe o que é lidar, muitas vezes, com um sorriso forçado, a tantas informações gratuitas, pois não se pediu nada a ninguém, só queríamos ter um bebé no seio de um casal feliz e estar prontos para recebê-lo, independentemente do sexo, do nome que vamos escolher e de tudo o que parece tão importante para os outros e que, a seu tempo, terá a devida relevância para os pais».
 
É incomodativo estar sempre a recordar a grávida do seu peso, da roupa que usa e a que deveria usar, dos colares que «não deve colocar porque o bebé vai enrolar-se no cordão umbilical», dos locais que não deve frequentar porque, está grávida, das compras que não deveria carregar mesmo quando se sente preparada, e não recebeu qualquer restrição médica e, daí por diante.
 
Depois, sem intenção de ferir, mas magoando pelo excesso, desdobram-se opiniões acerca do parto… «ui, com essa barriga, vais estar lá muito tempo, vais!»
 
A maioria das grávidas receia o momento do parto, mas é quando se insiste mais em acrescentar esse medo: «eu tive 22horas na sala de partos, o bebé já estava com dificuldades respiratórias e teve de ser logo assistido», mas também as mais otimistas: «Deus queira que não seja como eu, pois fizeram-me uma cesariana à hora e não ganhamos para o susto».
 
Claro que, quando se vê uma senhora grávida, a primeira tendência é logo começar a falar sobre o assunto e a contar as mais hilariantes histórias que nos aconteceram ou que conhecemos de outras pessoas, mas será que tem mesmo de ser assim?
 
Será que temos de encarar uma grávida como um ser sem capacidade para pensar acerca da sua vida, da sua gravidez e da sua família? Será assim tão importante contar as nossas histórias quando nada se repete? Se cada pessoa é igual a si mesma, terá de ser banalizada socialmente só por estar grávida? 
 
Mesmo os desconhecidos têm uma enorme facilidade em se aproximar de uma grávida num qualquer local e de meter conversa: «é menino ou menina?» Claro que a pergunta é inocente e inofensiva, mas pensemos que é feita centenas de vezes ao dia e, no fundo, o que é que isso importa para os outros? O que importa para um desconhecido saber o sexo da criança, se é o primeiro ou o décimo filho?
 
E para os amigos e familiares… tem algum problema ter duas meninas em vez do casalinho? Os pais não têm direito a amar duas crianças do mesmo sexo, só porque a sociedade «queria» que todos tivessem um casal?
 
De todo que, de forma mais ou menos inocente, é angustiante e cansativo ser analisada na rua e colocada à prova enquanto mãe quando mal se sabe do assunto. Isto já para não falar que aparecem sempre aquelas senhoras, mães de 5 filhos, cheios de experiência que se disponibilizam para explicar tudo acerca dos primeiros cuidados com o bebé no supermercado!
 
A «receita» é simples: deixar que a grávida faça a sua vidinha e procurar respeitá-la como antes de estar nessa condição, sem esquecer que lhe deve só dar prioridade nas filas e, entender que a mulher na gravidez não pode ser encarada como um meio de transporte de um bebé e, muito menos público!
 
Fátima Fernandes