Comportamentos

Como a ansiedade afeta as relações

 
Ser uma pessoa ansiosa ou estar com um parceiro que sofra desse problema, é ter de lidar diariamente com conflitos, mal-estar e sofrimento.

Na posição dos especialistas, os transtornos de ansiedade causam um impacto muito significativo no funcionamento cognitivo,  o que afeta diretamente as relações que estabelecemos com os outros, em particular, as de maior proximidade. Uma mente hipervigilante, por exemplo, pode gerar muitos sentimentos de desconfiança, para além de promover uma preocupação excessiva.
 
A ansiedade é o problema de saúde mental mais comum na atualidade e, de acordo com os entendidos, grande parte da população sofre deste transtorno e não pede ajuda para minimizá-lo e para melhorar a qualidade de vida e das relações.
 
A pessoa ansiosa queixa-se de excesso de pensamentos e que se sente sempre em estado de alerta, mas não consegue encontrar as estratégias mais adequadas para conseguir ultrapassar esse mal-estar diário que arrasa consigo mesma e que provoca muito sofrimento na pessoa que está ao seu lado que, na maior parte dos casos, não sabe como reagir.
 
Esclarecem os especialistas que, uma pessoa que sofre de um transtorno de ansiedade, para além de não conseguir encontrar um estado de bem-estar e de felicidade, também tem limitações no que se refere à sua capacidade de amar e de ser amada, facto que prejudica e muito, uma qualquer relação amorosa.
 
«Uma mente prisioneira em si mesma, torna-se desconfiada, instável, insegura e obsessiva. Construir e manter um compromisso sólido e feliz com alguém quando um dos fatores que o condicionam é um problema de saúde mental, é uma tarefa muito complexa e requer muito apoio e compreensão, mas nem sempre a pessoa que está ao nosso lado pode substituir a presença de um profissional de saúde que é quem está habilitado para proceder ao tratamento desta e de outras patologias», explicam os especialistas.
 
No topo dos maiores problemas que os casais enfrentam estão as  fobias, a ansiedade generalizada ou o transtorno obsessivo-compulsivo que são uma fonte de sofrimento e um obstáculo à construção de um vínculo afetivo de qualidade. Ao mesmo tempo, o transtorno de ansiedade também limita a continuidade de uma relação, na medida em que se pode tornar «insuportável conviver com alguém que não consegue estar em paz consigo mesmo e com o outro», descrevem os entendidos.
 
Para que se perceba melhor a dimensão do problema, os entendidos reuniram os principais pontos que explicam como é que a ansiedade arrasa com um casamento:
 
1. Excesso de preocupação
 
A mente impulsionada pela ansiedade vive em estado de alerta constante. Qualquer problema, por menor que seja, torna-se uma ameaça intransponível. Além disso, nesse medo persistente de “algo acontecer”, a pessoa vê catástrofes que não existem e ameaças quando tudo está em harmonia. Isso põe em risco qualquer relação, alimentando-a de desconfianças e suscetibilidades.
 
Da mesma forma, é comum que analisem excessivamente cada palavra, gesto ou comportamento da pessoa amada. O ansioso dá  mil voltas às conversas, ao que foi dito ou não dito. Algo assim gera grande desgaste relacional.
 
2. Sentir-se culpado
 
Os sentimentos de culpa são como alfinetes dolorosos no cérebro ansioso. Nessa dinâmica de pensamentos excessivos, a pessoa costuma concluir que tudo o que acontece é culpa dela. A autoperceção negativa alimenta um diálogo prejudicial no qual aparecem ideias como: “Estou a falhar com o meu parceiro, logo ele vai deixar-me”, “Estou a sobrecarregá-la e vou perdê-la por minha culpa”, “Disse algo indevido e ele vai-se embora”.
 
Segundo os especialistas, essa visão exaustiva e perigosa remete facilmente a pessoa para a depressão. Sente-se culpada, não encontra soluções, tem medo de ficar sozinha e sofre intensamente, explicam.
 
3. O apego ansioso ou evitativo
 
A maneira como a ansiedade afeta o amor também se expressa no modo como nos relacionamos com o nosso parceiro. Algumas pessoas fazem-no por meio de um apego ansioso, aquele marcado pelo medo do abandono e pela necessidade de demonstrações constantes de afeto. Nesse caso, os vínculos são criados a partir da dependência e de uma obsessão pela validação constante para nutrir a autoestima.
 
Por outro lado, a ansiedade também se pode manifestar por meio do apego evitativo, aquele em que é difícil criar uma intimidade duradoura porque a desconfiança e o desejo de independência pesam muito. Como consequência, a pessoa não quer admitir a sua vulnerabilidade e constrói muros  em seu redor para se proteger.
 
4. A ansiedade impede-nos de ver o mais importante
 
De acordo com os cientistas,« a ansiedade é um demónio mental que ocupa espaços excessivos no cérebro». A pessoa que padece deste transtorno vive com medo de tudo, qualquer situação dá lugar a um enorme conflito, não consegue lucidez e discernimento para resolver os problemas, não consegue ouvir o outro, mergulha num mar de incertezas e falsas ameaças, de tal forma que nunca se sente verdadeiramente tranquila e em paz. Quem está ao seu lado é um permanente objeto de desconfiança e de obsessões, pelo que acaba por ser “atacado” em virtude desse mal-estar permanente em que a vítima de ansiedade se encontra. Estas pessoas não se conseguem concentrar nas suas vidas e ainda menos são capazes de amar e de serem amadas. O seu foco está nos problemas, pelo que não valorizam quem está ao seu lado, a vida que possuem e as conquistas em comum, daí ser muito desafiante partilhar o quotidiano com quem sofre deste transtorno, afirmam os especialistas.
 
É importante reter que, há tratamento para a ansiedade, é preciso é que a pessoa peça ajuda especializada e que se deixe apoiar. É fundamental que pense nas consequências de não se tratar e da dificuldade que terá em manter uma relação estável e saudável com alguém.
 
Os cientistas lembram que, a ansiedade afeta todo o tipo de relações sendo que, em muitos casos, também os filhos são muito afetados pelos pais ansiosos, sem esquecer as relações profissionais e sociais.
 
Fátima Fernandes