Família

Como amar um filho

 
No passado, os pais nem se preocupavam com o sentido da palavra “amor”. Nos nossos dias, é tanto o afeto que se dedica aos mais novos que nos esquecemos de os educar.

 
É evidente que podemos e devemos amar os nossos filhos e demonstrar-lhes esse amor honesto e sincero, mas devemos também colocar a educação ao serviço desses sentimentos.
 
Quer isto dizer que, quanto mais amarmos os nossos descendentes, mais sentimos necessidade de os preparar para a vida e para o mundo. Um pai e uma mãe que ama os filhos, gosta de vê-los colher sucessos, felicidade e realizações, mas para que tal aconteça é necessário que se aposte numa boa base educativa e numa formação à altura daquilo que a sociedade lhe vai exigir.
 
Evitar a todo o custo que os nossos filhos passem por frustrações dá lugar a um fraco desenvolvimento de habilidades e competências pessoais e sociais.
 
Uma criança que cresce sem saber o significado da palavra “não”, certamente que não vai estar preparada para lidar com as muitas frustrações com que vai contactar ao longo do seu percurso.
 
A vida é repleta de contrariedades e, só nos preparamos para elas se vivermos intensamente e se não privarmos os nossos filhos dessa realidade.
 
Saber dizer “não” e explicar-lhes o motivo da negação de um objeto, de um brinquedo, do seu prato favorito, de uma saída à noite, entre outros, é mostrar aos nossos filhos que os amamos, mas que nem tudo lhes é permitido. É transmitir-lhes que, os pais são responsáveis pela sua qualidade de vida e bem-estar, mas também de os ensinar a proteger dos perigos, de lhes fornecer regras de boa convivência e, acima de tudo, de lhes mostrar os limites.
 
Claro que amar um filho não é punir só porque os pais estão de mau humor, não é privar só porque alguém disse que assim é que se exerce a autoridade, muito menos proibir só porque os pais são mais velhos e podem fazê-lo. É importante que os pais tenham um motivo razoável para limitar as ações das crianças e que lhes expliquem a razão pela qual os privam disto ou daquilo.
 
Nada custa dizer a um filho que não pode comer doces porque os mesmos em excesso fazem mal à saúde, que só pode comer um fast food por semana porque esse tipo de refeição não é saudável, que deve arrumar os seus brinquedos para que a casa fique arrumada e daí por diante.
 
Com um esclarecimento sobre a regra, com amor, carinho e compreensão, as crianças entendem muito bem o que se pretende e. vão ser elas que, na próxima situação, vão alertar os pais para a importância de cumprir essa orientação.
 
Na posição dos especialistas, são muitos os pais que passam pela infância dos filhos sem que lhes tenham dito um “não”, sem que lhes tenham explicado uma regra, sem que os tenham proibido de fazer algo e sem que tenham uma conversa sincera acerca de um tema importante. Isso é um erro, pois não prepara os mais novos para o mundo real, sustentam os mesmos entendidos.
 
Em muitos casos, proíbe-se, não se explica, castiga-se e depois retira-se a proibição ou nem se repreende com medo que as crianças fiquem traumatizadas ou infelizes. Nada mais errado, já  que  o cérebro precisa de disciplina para que se desenvolva corretamente e para que o indivíduo saiba que nem tudo lhe é permitido.
 
É essencial que a criança aprenda a pensar antes de agir e de reagir e, para isso, precisa de saber que há sinais proibidos e permitidos tal como nas regras de trânsito. Há orientações que devem ser cumpridas e, acima de tudo, há um motivo para que seja assim, daí a pertinência em explicara razão da limitação.
 
Muitos pais também fazem que não percebem a desobediência da criança para evitar repreendê-la, mas a chave é conversar sobre o assunto para que evite cometer esse erro em futuras situações.
 
Não tenhamos dúvidas de que os mais novos absorvem tudo o que os pais lhes ensinam, pelo que, ter uma criança bem educada e cumpridora das regras, é simplesmente dedicar-lhe tempo, atenção e amor, já que esses são os ingredientes para que aprenda. Um outro requisito é o bom exemplo dos pais, pois de nada nos serve proibir se os adultos fazem. Se todos entrarem em sintonia, certamente que não há crianças mal educadas, mas sim futuros adultos com limites, regras e com capacidade de lidar com a frustração.
 
Assim, registe que, amar dá trabalho e exige tempo e dedicação. Tal como numa relação amorosa é preciso investir diariamente para que o casamento perdure, com os nossos filhos também temos de estar ao lado deles nas mais variadas situações, permitir e restringir e, em jeito de jogo e de desafio, fazer com que a criança entenda que é fácil cumprir as orientações dos pais porque todos se amam, respeitam e querem o melhor, mas que, para se chegar lá, é preciso rir, chorar, investir, pensar, conversar e acima de tudo, libertar o que se sente.
 
Na relação há situações mais desafiantes do que outras, há momentos de harmonia, há brincadeira, há desentendimento, mas acima de tudo, há muita vontade de facilitar a boa convivência e uma relação duradoura, intensa e interessante.
 
Não se esqueça também que, a relação entre pais e filhos é certamente a mais longa e desafiante que podemos viver, daí ser tão importante o respeito, a compreensão e a cooperação. Amar também é ensinar e aprender em conjunto.
 
Fátima Fernandes