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Como as tecnologias estão a afetar as relações pessoais

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O bebé alimenta-se a ver um vídeo, os pais almoçam com o smartphone ao lado e os jovens não querem perder uma notificação seja em que momento for.

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É caso para perguntar o que é feito das refeições em família, do convívio salutar entre irmãos ou da aprendizagem contida nas histórias que se contam à mesa…

As tecnologias invadiram o nosso mundo e nem nos demos conta do que temos colocado em segundo plano com a necessidade de “saber mais e mais” sobre a vida dos nossos amigos virtuais e daqueles que não mais são do que conhecidos, mas que têm ganho terreno nas nossas casas.

Não é fácil gerir um novo mundo tecnológico em que tudo nos é acessível a partir de um clique, mas estamos a colher o resultado dessa nossa falta de alternativas, alertam os entendidos nesta matéria.

As pessoas estão cada vez mais distantes umas das outras e o mais grave: de si mesmas. Sem nos darmos conta, os ecrãs desligam-nos das emoções, da capacidade de analisar, de refletir, de estarmos connosco próprios, de desfrutarmos de um momento a dois sem um alerta de notificação, de passearmos livremente no campo, na cidade ou na praia sem termos de preocupar-nos com alarmes.

Também é um facto que, as tecnologias aproximam quem está longe, que facilitam muito as interações entre as pessoas que não podem encontrar-se presencialmente, mas segundo os psicólogos, «o problema é que igualmente estão a substituir o contacto de quem até vive na mesma casa e que está completamente mergulhado no seu mundo virtual». E, não são só as crianças e os jovens, os adultos sentam-se ou deitam-se no sofá completamente envolvidos nos conteúdos do seu smartphone e esquecem-se da organização da casa, da limpeza, das compras e de tudo o que envolve a vida familiar, “como se não pudessem perder a última informação de alguém”, alertam os especialistas.

Aos poucos, tem-se perdido o prazer da leitura, da música, do silêncio, da reflexão, análise, da opinião sentida, pois as redes sociais ilustram muito bem o quanto nos é fácil seguir a tendência do primeiro comentário, como se estivesse certo e se fosse a única posição a tomar sobre um determinado assunto.

E, nas famílias, a situação não é muito melhor. Os jovens passam uma boa parte do seu tempo ligados aos ecrãs e os mais novos acabam por começar o seu percurso também nos mesmos moldes, seja porque imitam os mais velhos, seja porque não têm ninguém para brincar ou fazer outra atividade com eles. Rendemo-nos literalmente à luz azul que deveria ser um passatempo quando não temos nada para fazer e que acaba por preencher muitas horas no trabalho de quem pode desligar-se das suas responsabilidades e “viajar” sem limites pelo mundo virtual, acumulando tarefas, aumentando o stress e a ansiedade, porque não se consegue nem cumprir os prazos, nem se desligar do vício.

É como se de uma fuga do mundo real se tratasse, sublinham os especialistas em comportamento humano.

E o que fazer? Mudar, mudar, mudar o quanto antes, alertam os cientistas. Tudo é positivo quando bem gerido e regulamentado, por isso, os adultos devem estabelecer regras para si mesmos e para os mais novos e cumpri-las! Devem desligar os aparelhos à hora das refeições e conversar, estar disponíveis também para escutar e, aos poucos, vão aprendendo a viver sem ruído externo enquanto desfrutam de momentos de prazer com quem amam.

Os mais novos devem ter alternativas aos ecrãs. Os jogos de tabuleiro são uma excelente opção para transmitir regras, valores e para se divertirem em família. A leitura é fabulosa para estimular o cérebro e para aproximar os relatos de cada um. Podem fazer uma leitura em voz alta em que todos participem, basta escolherem livros adequados.

O exercício físico é uma grande fonte de prazer e de bem-estar que pode ser aproveitada em família. Não é preciso um grande investimento para brincar à apanhada com os seus filhos na sala de estar, para atirar almofadas uns aos outros, correr num parque ou no jardim nos finais de tarde, saltar à corda no quintal, dar uns saltos livres no tapete ou jogar à bola num campo perto de si. Às vezes, só nos falta ganhar coragem para começar porque temos mesmo tudo à mão e, a saúde agradece tanto o movimento do corpo que nem deveríamos pensar duas vezes entre estar sentados ou a fazer uma caminhada de meia hora diária em família.

As idas à praia, ao campo, à cidade, devem ser como que uma oportunidade para observar a vida em redor e aprender com o que se vê, desfrutar do que se sente e simplesmente estar em família. No restaurante, certamente que o propósito é saborear a refeição com quem nos é agradável, por isso, os ecrãs não devem estar sobre a mesa a limitar esse contacto presencial.

É importante registar que, a falta de racionalidade conduz-nos a comportamentos desajustados, a cometer mais erros e a ter mais dificuldades em encontrar soluções e, a exposição excessiva aos ecrãs faz precisamente com que pensemos menos, encontremos menos alternativas, vivamos mais momentos de tensão acumulada e de ansiedade. O corpo não se movimenta, as ideias não fluem, as emoções ficam contidas e, ao mínimo deslize, estamos prontos para discutir, para entrar numa “crise de nervos” com algo que não se justifica. Andamos mais impacientes, queremos tudo no imediato e simples, caso contrário, perdemos o controle. Então qual é o benefício de não reservarmos um tempo diário para pensar no nosso dia, na nossa realidade e nos nossos problemas para os podermos ultrapassar? Nenhum! Acabamos por acumular instabilidade, insegurança, medos e raiva, tudo porque não temos momentos para estar, descomprimir e pensar, sobretudo pensar no que é melhor para nós e para aqueles que amamos.

Chegamos ao ponto de procurar nas redes sociais as soluções para os nossos dramas pessoais, de pesquisar na Internet respostas para o que sentimos e por funcionar em modo de aprovação. Publicamos algo e ficamos à espera que alguém nos dê a sua opinião… fará isto algum sentido? Saberão os nossos seguidores mais da nossa vida do que nós próprios? Terão os amigos virtuais mais conhecimento sobre nós mesmos, sobre a nossa relação, sobre o que nos inquieta e conforta do que aqueles que vivem ao nosso lado? Vale mesmo a pena pensar nisto porque temos um mundo na mão, mas estamos cada vez mais sozinhos.