Comportamentos

Como educar sem “rótulos”?

 
A tarefa de educar é sempre um desafio para todos quantos acompanham diariamente o desenvolvimento de uma criança.

 
As muitas solicitações dos mais novos, a falta de tempo e, muitas vezes de paciência, dá lugar a expressões pouco ponderadas que podem deixar marcas severas na vida de uma criança; aquilo a que vulgarmente chamamos de rótulos. Para evitar essa situação, vale a pena refletir acerca do assunto e perceber o quão grave tal pode ser interpretado pela criança ou jovem.
 
Sem qualquer intenção os pais e outros cuidadores dizem coisas do género “és preguiçoso/a”, “és sempre a mesma coisa; não passas daí”, “és isto ou aquilo” quando na realidade deveriam punir o comportamento errado.
 
Assim, é melhor interpretado por quem ouve uma repreensão ao que fez do que afirmar que é. A título de exemplo, fica melhor dizer “não gostei que tivesses demorado tanto tempo a realizar esta tarefa”, “que não tivesses arrumado os teus brinquedos”, “para a próxima vez tem mais cuidado com as tuas coisas”, “não deixes isto desarrumado” e daí por diante.
 
O mesmo se passa com os nomes que muito vulgarmente se chama a uma criança ou jovem, o que no entendimento de quem ouve é um rótulo ou uma condenação. O nome que se chama é como que uma autorização para se ser assim. Ao chamarmos preguiçoso, mandrião, mentiroso ou qualquer outro nome depreciativo, estamos a dizer à criança que ela é assim e ponto final, quando se nos focarmos no comportamento, ela irá compreender: “não é bonito mentir, para a próxima vou zangar-me porque não gosto disso”. É importante repreender dando a possibilidade de quem errou poder corrigir o comportamento, por isso, “vou aceitar que demoraste muito tempo hoje, mas na próxima vez tens de te despachar”.
 
Os filhos adoram agradar os pais, de tal modo que é muito mais gratificante um elogio e um sorriso que um brinquedo, por isso, os pais podem “usar” esse fato a favor de uma educação mais equilibrada e feliz.
 
Ao sorrir e incentivar a criança ou jovem, fará com que erre muito menos. Depois, ao usar a possibilidade de correção da asneira, está a dar oportunidade ao seu filho de ser mais cauteloso e de prevenir os erros, já que assumirá uma responsabilidade muito maior face aos seus comportamentos.
 
Sendo o foco no comportamento e não na pessoa em si, quem recebe a repreensão sabe que, apesar de zangados, os pais ou cuidadores respeitam-na e gostam dela na mesma, simplesmente aspiram que se comporte melhor, que pondere melhor as suas atitudes e que evite determinados comportamentos dados como errados.
 
Nunca é demais sublinhar que, quem educa deve ter sempre em conta o lado positivo e não enaltecer demasiado o negativo: “fizeste isto muito bem, mas ainda te falta isto”, “certamente que, para a próxima vai correr melhor, mas hoje ainda faltam alguns detalhes”.
 
A criança deve compreender o mais possível a mensagem que lhe é transmitida para que possa evoluir e crescer mais confiante, pelo que o discurso deve ser adequado à sua idade e etapa de desenvolvimento, mas sempre num tom assertivo e mudando as expressões do rosto em função daquilo que se pretende transmitir.
 
Uma expressão menos sorridente será sempre encarada como algo que correu menos bem, pelo que não precisa de falar muito alto que a criança ou jovem já entendeu que algo se passou, depois é explicar de forma clara e sem margem para dúvidas.
 
Note-se que, quem educa tem essa responsabilidade de se fazer entender, de se certificar de que a mensagem foi compreendida para depois poder cobrar: “é importante comer sopa todos os dias porque faz bem à saúde”, “se comeres muitos doces ficas doente, por isso vamos ter sempre esse cuidado e pensar antes de pedir e antes de os comer”.
 
Não se esqueça de que é muito fácil uma criança alterar o seu comportamento quando vê os pais envolvidos no processo, quando sente apoio e amizade, por isso, evite ao máximo o castigo sem fundamento, os nomes sem necessidade e a repreensão infundada, pois especialmente a partir dos 5 anos, as crianças ficam muito magoadas quando desiludem os pais, quando são chamadas à atenção de uma forma brusca ou quando se sentem injustiçadas.
 
Fátima Fernandes