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Contar os seus objetivos aos outros pode levá-lo ao fracasso: A ciência ponta os motivos

Ao partilhar os nossos projetos com outras pessoas, na maioria das vezes, acabamos por perder as forças.
Ao partilhar os nossos projetos com outras pessoas, na maioria das vezes, acabamos por perder as forças.  
Foto - Freepik
Há muito que a sabedoria popular diz que não se deve contar os nossos segredos aos outros, mas a ciência vai mais longe e aponta os motivos.

Em linhas gerais, os especialistas revelam que, quando contamos os nossos objetivos aos outros, perdemos uma boa parte da motivação para realizar o que pretendemos e, ao mesmo tempo, o nosso cérebro enfrenta modificações que igualmente não são muito positivas.
 
No passado, falava-se muito em inveja, dando conta de que, se contássemos os nossos objetivos a alguém, essa pessoa poderia fazer de tudo para nos impedir de realizar o que pretendíamos. Hoje a ciência fala de fracasso quando contamos aos outros aquilo que ainda temos em mente e que ainda não conseguimos materializar e, os motivos são vários e concretos, pelo que vale a pena seguir este conselho.
 
Registam os cientistas que, não devemos contar mesmo as coisas mais simples como iniciar uma dieta para perder peso, fazer uma alteração na nossa casa, desabafar algo que se quer fazer com a pessoa amada e daí por diante. Muito menos devemos falar de mudanças que almejamos, o ingresso num curso, relatar uma paixão, iniciar um novo negócio entre outros pontos.
 
É um facto que as redes sociais são “uma tentação” e um espaço onde tudo parece ter lugar, mas também não é o local mais adequado para publicar objetivos, desejos e sonhos. Pode optar por mostrar uma ou outra conquista, mas já depois de a ter alcançado, alertam os mesmos entendidos.
 
Para atingir um objetivo, é fundamental que tenhamos a crença de que é possível alcançá-lo. Há pessoas cuja convicção no seu projeto é sólida, mas também é comum que haja dúvidas e medos e que não se tenha a certeza necessária para avançar. Em ambas as situações, é importante que saibamos reservar apenas para nós esses objetivos porque, quando os partilhamos, expomo-nos a opiniões e conselhos de todos os tipos, ouvimos as mais variadas críticas e acima de tudo, são raras as pessoas que nos encorajam para seguir em frente. Em muitos casos, ficamos apavorados e desistimos, noutros reformulamos tantas vezes o que estamos a pensar que perdemos a energia e a motivação para prosseguir e noutros, avançamos, mas com pouca convicção.
 
Por muito consistentes que sejam os nossos planos, está provado que, quando os colocamos à consideração dos outros, estes acabam por não reunir tanta energia e certezas, a ponto de vacilarmos, de os colocarmos em causa e de darmos muito ênfase aos nossos medos, sublinham os entendidos.
 
Se contamos os nossos objetivos a uma pessoa pessimista, então é garantido que vamos mesmo desistir, pois essas pessoas são arteiras em demover os sonhos dos outros, enfatizam os mesmos cientistas.
 
Ao mesmo tempo, a nossa biologia também pode jogar a favor ou contra no que se refere ao alcance de metas, e o sucesso depende em grande parte dos neurotransmissores. Quando libertamos dopamina em resposta a um estímulo ou ação que realizamos, sentimos prazer e o valor de uma recompensa, o que nos leva a querer repetir a ação ou continuar no mesmo caminho, uma vez que estamos motivados para prosseguir.
 
Quando definimos uma meta e a dividimos em pequenas submetas, realizar cada uma delas dá-nos a  agradável e reconfortante sensação de dever cumprido. E, pelo mesmo motivo, continuamos até ao fim.
 
Quando contamos os nossos objetivos, quando falamos regularmente sobre o assunto, na prática, estamos a receber a mesma dopamina, uma vez que, com pessoas bem intencionadas, conseguimos colher motivação e entusiasmo, mas não estamos a avançar no que realmente interessa. Falamos, ouvimos, mas nada se altera, não se trabalha ou desenvolve. Desgastamo-nos a falar, a ouvir, mas em termos concretos, não estamos a fazer evoluir os nossos planos. Desta forma, a motivação de que precisamos desaparece porque, como foi comprovado, temos a sensação prematura de já ter  alcançado esse objetivo, mesmo sem nada ter feito.
 
Depois, os cientistas também referem um outro ponto a ter em conta antes de cair na tentação de contar os seus objetivos aos outros. É natural que um amigo ou um familiar, depois de saber acerca do que vai fazer, lhe pergunte com regularidade como estão as coisas e o que já fez para avançar. Em muitos casos, ficamos aborrecidos e cansados de tanto ter de responder, mas na verdade, nós é que lhe demos a conhecer os nossos segredos e é normal que a pessoa se interesse pelos avanços e que queira ver um desfecho. Naturalmente que esta é mais uma consequência da partilha de um objetivo, pois mesmo antes de o alcançarmos, já estamos fartos de ouvir falar nele e de o explicar aos outros.
 
Segundo a ciência, este é mais um aspeto que facilmente nos leva ao fracasso e a desistirmos de uma ideia. Com a falta de motivação que já está a sentir por não conseguir “dar as novidades” que os outros gostariam de receber, é natural que perca o entusiasmo, que deixe de confiar em si mesmo e que não avance com o seu projeto, muito antes de tentar e de saber se realmente tal seria possível. É por isso que, no passado se acreditava na inveja, pois dizia-se que, quando alguém nos cobiçava algo, não havia possibilidade de o mesmo dar certo, mas nós é que perdemos a força e a autoconfiança para continuar e provar que valeu a pena arriscar, lembram os especialistas.
 
Um outro elemento que nos impede de alcançar os nossos objetivos é a procrastinação, a tendência para adiar sucessivamente o que temos para fazer, de dizer a nós mesmos que logo fazemos, que agora não temos tempo, que não estamos preparados e que não é o melhor momento. Tal acontece não por preguiça, mas sim por medo. Quando damos estas desculpas a nós mesmos é porque não nos sentimos seguros para avançar e não tentamos reunir as forças necessárias para prosseguir.
 
Quando vemos a tarefa como muito exigente ou complicada, quando não confiamos que podemos realizá-la ou sentimos muita pressão sobre ela, procrastinamos. Talvez não conscientemente, mas como forma de fugir dessa responsabilidade com a qual sentimos que não estamos à altura.
 
Assim, ao partilhar os  nossos projetos com outras pessoas, ocorre um aumento tão grande na pressão para ter de o fazer que, na maioria das vezes, acabamos por perder as forças. Ao mesmo tempo, passamos a estar tão concentrados em ter de lhes dar uma resposta que, praticamente o projeto deixa de ser nosso, deixamos de o sentir e de ter prazer em realizá-lo. Só o fazemos para agradar a quem nos pergunta regularmente como estão as coisas.
 
É de registar que, há pessoas que não conseguem guardar um segredo e que não fazem qualquer projeto sem que o partilhem com um conjunto de pessoas. Para esses casos, os especialistas sugerem que partilhe apenas aquilo que já conquistou e não o que pretende realizar, pois assim poderá sentir-se muito mais seguro e com o domínio da situação. Fale do sucesso e da conquista e não dos planos e, acredite, que a sua vida lhe vai correr muito melhor!
 
Fátima Fernandes