Economia

Culatra é exemplo para ilhas europeias

Foto|D.R
Foto|D.R  
A iniciativa “Culatra 2030 – Comunidade Energética Sustentável” pretende criar uma comunidade piloto em energias renováveis na Ilha da Culatra.

 
O objetivo principal desta iniciativa é o de posicionar a região do Algarve como centro de excelência em investigação e formação em energias renováveis, com vista à descarbonização da sua economia através da criação de pontes efetivas entre a comunidade local, a investigação no setor renovável e as empresas da região.
 
Como objetivos o projeto enquadra a promoção da sustentabilidade ambiental, a adaptação da ilha às alterações climáticas e a contribuição para o aparecimento de projetos dinamizadores da economia circular.
 
A ilha da Culatra é constituída por três núcleos habitacionais: a Culatra, os Hangares e o Farol. Em termos de administração territorial está integrada no concelho de Faro, freguesia da Sé.
 
O núcleo da Culatra é o maior aglomerado da Ilha, com cerca de 1000 habitantes, integrando uma igreja, e uma escola, um centro social, um centro de saúde, um heliporto e porto de pesca. A população deste núcleo está maioritariamente ligada à atividade piscatória artesanal e ao marisqueiro.
 
Para os promotores do projeto, que reúne cerca de 30 entidades, entre elas públicas - Câmara Municipal de Faro, Ualg, CCDR Algarve, Capitania, Docapesca, Agência Portuguesa do Ambiente, Parque Natural da Ria Formosa e Sociedade Polis - a ilha da Culatra é o local ideal para testar um novo modelo económico que funcione em circuito fechado, minimizando consumos de materiais e perdas de energia. 
 
No fundo será uma verdadeira “Economia Circular” que permita a sustentabilidade ambiental da ilha e a necessidade de adaptação às alterações climáticas. A ideia do projeto piloto é a de criar uma estrutura física na Ilha, de raiz, ou aproveitando uma estrutura existente, que permita agregar diferentes conceitos de energias renováveis, adaptáveis às atividades económicas da sua população, ou seja, transformar a ilha da Culatra numa comunidade energética sustentável, de acordo com o conceito “renewable energy community”.
 
A comunidade deverá produzir energia por fontes exclusivamente renováveis, privilegiar a mobilidade elétrica ou biocombustíveis e possuir hábitos e práticas de vida sustentáveis. 
 
Acredita-se que estas comunidades energéticas podem desempenhar um papel relevante na geração de eletricidade de forma descentralizada, em que a própria população da Ilha, passe a ser autossustentável.
 
Em caso de sobreprodução, a energia produzida poderá ser mesmo exportada para a rede elétrica da EDP, garantindo-se também esta última forma de energia na comunidade.
 
A iniciativa “Culatra 2030” irá desenvolver-se de forma faseada, contemplando o fornecimento energético regular com recurso a uma estação piloto de energia renovável; instalação de uma estação de armazenamento energético; criar um conceito de micro-rede local que permita o uso inteligente da energia através da identificação das horas de pico e gestão eficiente dos recursos energéticos disponíveis; instalação de uma estação piloto de recarga de barcos elétricos para transporte de passageiros, promover a utilização de barcos solares nas atividades económicas dos moradores; desenvolver e aplicar novos conceitos de eficiência energética que permitam modernizar a habitação na ilha, integrando novos conceitos de bio-arquitetura, telhas fotovoltaicas, com climatização inteligente e adaptados às alterações climáticas; instalar uma estação piloto para o teste de fontes energéticas emergentes tais como as energias marinhas, biocombustíveis com recurso a algas, biogás e de produção de biomassa a partir de resíduos existentes na ilha; dinamizar a I&DT em dessalinização de água ou instalar uma estação piloto de transformação dos resíduos produzidos na Ilha em energia.
 
Esta quarta-feira foi realizada uma conferência de imprensa na CCDR, que envolveu representantes da Universidade do Algarve, Associação de Moradores da Ilha da Culatra e da ONG, Make it Better.
 
Sílvia Padinha da Associação de Moradores da Ilha da Culatra, disse ao Algarve Primeiro que este projeto «veio no tempo certo, em 2018 ganhámos o direito à ocupação do território, e agora o dever de o proteger e de o salvaguardar, ou seja, aplicar no terreno boas práticas em que nos próximos 10 anos, a comunidade vai aprendendo como se faz essa transição, através de ações de formação e de sensibilização».
 
A responsável da Associação referiu que o bom exemplo da Culatra, «será replicado para fora, o que para nós é uma motivação e um orgulho». Lembrou que a comunidade tem apostado nos recursos da Ria e do Mar, «agora é juntar o recurso do sol, do vento ou da água».
 
Outro cuidado a ter tem a ver com a pressão turística na Ilha, para que seja a comunidade a tirar benefício do turismo, «nós não estamos a pensar em desenvolvimento turístico, o que estamos a pedir é um plano de capacidade de carga, para manter a população ativa com as suas atividades ligadas à pesca e ao marisqueiro, em que a qualidade da água da Ria Formosa não fique pior do que aquilo que está, e com essas verbas do turismo melhorar por exemplo as casas da população, é esse intercâmbio de dar e receber que defendemos para a Culatra, porque é a identidade da Ilha que tem de ser salvaguardada», sustentou.
          
Esta manhã o Secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, participou na sessão de abertura do Workshop internacional “Culatra 2030 – Comunidade Energética Sustentável” que tem lugar no Auditório da CCDR Algarve, em Faro. Trata-se de um workshop de dois dias, que espera reunir todas as entidades envolvidas, para a apresentação de resultados concretos, e as metas a cumprir nos próximos anos.
 
Este projeto integra seis ilhas europeias que publicaram as suas agendas de transição para energias limpas, no sentido de descarbonizar os seus sistemas de energia, com um forte foco no envolvimento dos cidadãos.
 
Em fevereiro de 2019, foram selecionados pela Iniciativa Energia Limpa para Ilhas da UE da Comissão Europeia, as Ilhas Aran (Irlanda), o arquipélago de Cres-Losinj (Croácia), Culatra (Portugal), La Palma (Espanha), Salina (Itália) e Sifnos (Grécia).