O Ministério do Ambiente contabiliza 808 estruturas - entre casas, casebres e barracões - que serão demolidas nas Ilhas Barreira até ao final de 2015.
Para demolições e recuperação dos espaços naturais prevê-se um investimento total de mais de 17 milhões de euros, no entanto, o processo está longe de ser pacífico, já que, por parte dos autarcas e associações do Algarve, «o problema não pode ser encarado só na perspectiva do Ministério do Ambiente, mas sim incluindo as pessoas e as suas vontades».
Ao mesmo tempo, «as casas não são o problema ambiental», defende António Pina, presidente da Câmara Municipal de Olhão.
Para o autarca, o problema ambiental reside no descongestionamento das barras, no saneamento e na desobstrução dos canais, «simplesmente tem havido uma enorme incongruência por parte do Governo no tratamento do problema. Vejamos, no Farol, uma parte da ilha está concessionada, na Armona, uma grande parte da área também está concessionada, tal como acontece na ilha de Faro, então por que não atribuir os mesmos critérios às restantes áreas?».
Ao Algarve Primeiro, António Pina adiantou que, «apresentei na semana passada em reunião de câmara, uma proposta com um pedido de alteração do Plano de Ordenamento da Orla Costeira que foi aprovado em Assembleia Municipal e faremos chegar o mesmo ao Ministério do Ambiente».
O edil olhanense reforça que, «o Governo tem de ouvir a outra parte do problema e conhecer a realidade das pessoas, pelo que cabe a nós, os eleitos locais, que estamos junto das populações, essa luta e determinação por aquilo que é a realidade de quem cá vive».
Esta tomada de posição, surgiu após a recusa do pedido do deputado Miguel Freitas.
Recorde-se que, o deputado socialista solicitou uma comissão parlamentar com o ministro do ambiente, onde estivessem presentes autarcas do Algarve e associações que representam os habitantes das áreas que vão ser intervencionadas, mas o pedido foi recusado, «os deputados do PSD e do CDS só aceitaram ouvir o Sr. ministro do ambiente. Isto é uma vergonha. Passados 40 anos após o 25 de Abril, assistirmos a uma situação destas. É uma vergonha que a Assembleia da República não queira ouvir a outra parte do problema» sublinhou o edil olhanense.
Para António Pina, «é inaceitável a forma como este governo está a tratar o problema, pois colocou a questão das casas como o principal obstáculo ambiental da Ria Formosa, mas isso é uma falsa questão. A defesa do ambiente passa pelo descongestionamento das barras, pela desobstrução dos canais e pelo saneamento. Note-se que, estas demolições custam 5 milhões de euros aos cofres do Estado. Essa poupança serviria para reforçar o cordão dunar e para ajudar as autarquias na melhoria da qualidade do saneamento. Isso sim, seria uma medida ambiental e, ao mesmo tempo, uma proposta que apoiaria a vontade das pessoas que cá vivem e que desejam manter as suas casas».
Com este pedido de alteração do POOC, o autarca olhanense pretende «assumir uma posição face à realidade e à vontade das pessoas e mostrar ao Ministério do Ambiente que a questão não se pode colocar só numa perspectiva».
No total, entre os ilhotes - Ramalhete, Deserta, Cobra, Ratas, Coco e Altura - somam-se 193 casas ou casebres para deitar abaixo até ao final do ano.