Sociedade

Dirigente da Olhãopesca teme pelo fim da Pesca com Arte de Ganchorra no Algarve

O dirigente da Olhãopesca – Organização de Produtores de Pesca do Algarve, Miguel Cardoso, teme por uma possível extinção da pesca com arte de ganchorra rebocada por embarcação na zona sul.

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Segundo este responsável, no sotavento algarvio, entre Faro e Vila Real de Santo António, operam cinquenta e uma embarcações de pesca local e costeira com licença para arte de ganchorra, todas associadas à Olhãopesca, sendo que esta é uma actividade devidamente regulamentada e organizada, tem horário de trabalho, limites de captura diários por embarcação e um defeso de 45 dias.
 
Trata-se de uma frota de pesca "única" no País, explica Miguel Cardoso, onde existem pequenos núcleos de 10/15 unidades pela costa continental, nomeadamente, Setúbal, Aveiro e Viana do Castelo, no entanto, a frota existente no sotavento Algarvio é "singular", já que tem evoluído e mantido a actividade há décadas em constante equilíbrio com os recursos naturais disponíveis, sendo uma actividade com grande importância e impacto económico para a região, tanto pela empregabilidade directa e indirecta, como pelo movimento financeiro que proporciona.
 
No entanto, nos últimos tempos, principalmente, durante o ano 2014, as anormais, constantes e longas ocorrências de interdições de pesca por presença de biotoxinas marinhas, tem provocado elevados danos aos armadores, empresas e respectivas tripulações, alerta Miguel Cardoso, pelo que a pesca com ganchorra deixou de ser uma actividade com procura em termos de mão-de-obra, os pescadores, mestres e motoristas optam por outras actividades pesqueiras, mais regulares, que não são afectadas por constantes interdições.
 
Actualmente, a Olhãopesca é promotora de um projecto no âmbito do programa Promar, co-financiado pela UE e pelo Estado Português, tratando-se de um investimento de 120 mil euros, que consiste equipar as cinquenta e uma unidades de pesca da ganchorra do sotavento Algarvio com equipamento de seguimento em tempo real durante 3 anos, cuja informação servirá para fins científicos destinados ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera, sendo, uma obrigação imposta pelo Estado Português.
 
Dado ao débil estado da actividade de pesca com ganchorra e à permanente incerteza que a envolve, Miguel Cardoso, questiona se vale a pena "tão grande investimento" por parte da Organização de Produtores, do Estado Português e da União Europeia.
 
A continuidade de frequentes interdições por presença de biotoxinas marinhas, da forma como "inexplicavelmente" tem-se verificado, levará, a médio prazo, ao colapso da actividade provocando a sua inevitável extinção, e mais uma vez, "perderemos uma actividade económica, uma arte, um saber de gerações, com consequências graves para a região algarvia", destaca o dirigente.
 
Miguel Cardoso, não compreende como é que de um ano para o outro, 2013/2014, ocorreram "tantos e tão longos períodos de interdições por presença de biotoxinas marinhas", com mais incidência na conquilha (principal espécie alvo de captura), num ano atípico, com ocorrências cada vez mais frequentes e mais longas.
 
Considera que, chegou o momento da administração, Secretário de Estado do Mar, bem como, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, virem junto dos profissionais e das empresas do sector, explicar as razões destas alterações, se são ambientais ou não e quais as perspectivas de futuro, bem como, de repensar, analisar a viabilidade da continuidade desta actividade pesqueira.