O Auditório Municipal de Olhão apresentou este sábado à tarde a estreia do filme "Cavalos de Guerra", uma produção da Chimera Visuals by João Rodrigues para o Município de Olhão. A exibição serviu de mote para assinalar o Dia Nacional do Mar, que se celebra a 16 de novembro.
PUB
À hora marcada, o Auditório encheu-se de miúdos e graúdos, para verem como a maior comunidade de cavalos-marinhos do mundo, enfrenta sérios riscos de desaparecer se nada for feito. O documentário mostrou como uma equipa de mergulhadores, fotógrafos e cientistas, se empenhou para tentar salvar um dos grandes "tesouros" da Ria Formosa e de Portugal.
O documentário mostra que o desaparecimento de cavalos-marinhos na Ria Formosa, é alarmante, muito à custa da "mão" humana. Uma das maiores causas que está a levar à "razia" do cavalo marinho, é a captura ilegal desta espécie, com destino ao mercado asiático quer por crenças medicinais ou para servirem de amuletos.
Para travar este esquema lucrativo, o documentário "Cavalos de Guerra", pretende por um lado alertar para os perigos eminentes sobre a biodiversidade da Ria, mas também ser um meio de sensibilização que será rodado nas escolas do concelho de Olhão e em várias salas de cinema.
Na estreia do documentário esteve presente o executivo camarário, mas também, José Apolinário - Secretário de Estado das Pescas, João Paulo Catarino - Secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, João Fernandes - Presidente da RTA, Castelão Rodrigues - Diretor Regional do ICNF, Pedro Monteiro - Diretor Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, entre outros convidados.
O Ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos que por impossibilidade de estar presente, enviou uma mensagem em vídeo, dando os parabéns aos produtores do documentário e ao Município de Olhão, por concretizarem esta iniciativa que vai ao encontro, daquilo que o país precisa:sustentabilidade e conservação da natureza.
Após a exibição do documentário que mereceu um forte aplauso por parte do público, o Algarve Primeiro falou com o criador deste projeto João Rodrigues, biólogo marinho de formação, mas com uma grande paixão pelo fotojornalismo, ao ponto de colaborar para a National Geographic, com trabalhos realizados em vários pontos do mundo, tendo o "drama" da Ria Formosa despertado a sua atenção, sobre o risco de desaparecimento do cavalo-marinho.
João Rodrigues, que é natural de Torres Novas, mas residente no Algarve (Estoi) há 12 anos, disse que se encontrava a fazer ações de sensibilização lá fora, e quando se apercebeu deste "crash" populacional de cavalos-marinhos na Ria, «fiquei alarmado e senti-me mal por não estar a contribuir com as ferramentas que tinha ao meu dispor, para dar "voz" a estes animais que estão em perigo. Passei então à ação, fiz artigos e fotografias mas ainda assim a mensagem não estava a chegar como pretendia, aí pensei que seria melhor aproveitar o facto de ser artista para recorrer à 7ª arte, e por esta via sensibilizar de outra forma, isto é, com este documentário mostramos o que está por "detrás do pano" de um ecossistema bonito que os turistas visitam, mas que não sabem as ameaças que pairam sobre ele».
No entender deste fotojornalista, faz falta dar mais apoio às forças policiais, «como constatámos no filme, estamos a falar de 500 agentes para todo o território marítimo português, por outro lado sei que o Governo está a criar duas áreas marinhas para esta espécie, onde não podem entrar pescadores, embarcações lúdicas, nem se pode fazer mergulho, permitindo não só a recuperação da comunidade de cavalos-marinhos mas de outras espécies, para que se reproduzam, e possam repovoar outras zonas afetadas da Ria Formosa».
João Rodrigues:
Uma das preocupações passa por inverter a poluição que existe «debaixo de água», aquela que as pessoas não vêem, mas que existe e afeta todo o ecossistema, «posso dizer que a Ria Formosa está doente, mas que é possível recuperá-la se trabalharmos para isso».
Enquanto biólogo marinho, João Rodrigues está optimista «não só pelo documentário, mas também pela influência da "Escola Azul", ou na pintura de murais com cavalos-marinhos que se vão fazendo. Notamos que o património natural está a ser valorizado como nunca esteve, e isso fará a diferença. Por exemplo para este trabalho, o apoio do Município de Olhão foi fundamental, sem ele não estaríamos aqui a falar neste momento».
Também ao nosso jornal, o Presidente da Câmara Municipal de Olhão, realçou o facto do documentário "Cavalos de Guerra" ser «mais um instrumento», na salvaguarda da Ria Formosa, «em primeiro lugar pelo alerta sobre a questão da biodiversidade, mais concretamente sobre a espécie do cavalo-marinho, onde tínhamos a maior reserva destes animais a nível mundial, e que nos últimos anos assistimos, segundo os cientistas, a uma redução de 90% desta espécie».
António Miguel Pina reforçou os parabéns à equipa que realizou o documentário, que «além do tema ser importante do ponto de vista cinematográfico, surpreendeu pela qualidade da produção». Para o responsável «o esforço da preservação da Natureza não passa só pelos meios de fiscalização, mas deverá ser um esforço de todos. Porque não cada um de nós vestir a farda da polícia marítima e de sentirmos essa responsabilidade cívica de controlar, denunciar ou mesmo recriminar quando assistimos a um ato ilícito?, realçou.
De acordo com o edil, a Ria Formosa precisa «urgentemente de várias medidas», para além da sensibilização sobre as diferentes realidades económicas - pescadores, mariscadores e empresas marítimo-turísticas - «acho que tem havido uma evolução significativa, vejo os profissionais da pesca e mariscadores sensíveis ao problema, mas para que a Ria não fique mais doente, falta resolver a questão das dragagens. Pois este sistema vive da entrada e saída de água e vivia da hidrodinâmica provocada pelas ribeiras, que em virtude da seca e das barras estarem cada vez mais mais fechadas, é preciso manter essa fluidez». O autarca explicou que a evolução natural de um espaço lagunar como este, «é fechar e secar, pelo que temos de contrariar essa tendência natural de forma a que os canais continuem a ter circulação de água, permitindo que a biodiversidade se mantenha».
À semelhança de João Rodrigues, António Miguel Pina acredita que o cavalo-marinho vai ser salvo a tempo, apontando a criação de reservas da espécie na Ria, com o contributo da Universidade do Algarve,ICNF, Municípios de Olhão e Faro, e também dos próprios profissionais da pesca.