Saúde

Enfermeiros da Urgência de Obstetrícia de Faro estão "exaustos" e pedem reforço

 
A equipa de enfermagem da Urgência de Ginecologia e Obstetrícia do hospital de Faro está a manifestar “sinais de exaustão”, tendo muitas vezes de fazer dois turnos seguidos e ficar semanas sem tirar folga, alertaram hoje enfermeiras daquele serviço.

“Estamos exaustos porque temos para cobrir páginas e páginas de turnos extra. O fecho de Portimão veio apenas aumentar a nossa sobrecarga de trabalho, que já é muita”, desabafou Cristina Galucho.
 
A enfermeira falava aos jornalistas à porta da unidade de Faro do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), depois de ter sido entregue à administração do centro um abaixo-assinado onde a equipa alerta para a “enorme pressão” a que está sujeita.
 
Com o título “Manifesto por um parto seguro”, os enfermeiros descrevem no documento que o “cansaço físico e psicológico acumulado” comporta riscos para o serviço, avisando que, caso não haja reforço de pessoal, serão forçados “a definir prioridades de intervenções” de enfermagem.
 
“Nós temos de cumprir 35 horas semanais, mas vamos muito além das 35. Nós fazemos 42, 44, 60, 70, o que calhar, porque a equipa não foi reforçada. E, portanto, não é só a falta de médicos, é a falta de enfermeiros”, alertou Cristina Galucho.
 
Cláudia Ponte, que é também enfermeira especialista em saúde maternoinfantil, acrescentou que a situação se agravou “nos últimos dois meses” e que “não estão a conseguir cumprir as dotações seguras”, porque deveria haver 12 enfermeiros por turno, quando há nove, e oito no turno da noite.
 
“Vou a casa dormir, tomar banho, mudar de roupa, descansar e tentar lavar alguma roupa para poder vir trabalhar e pouco mais consigo fazer”, lamentou, sublinhando que às vezes é preciso sortear quem vai ter de seguir para um segundo turno e fazer 16 horas seguidas.
 
Por ser segunda substituta da enfermeira chefe do bloco de partos, Cláudia Ponte assume muitas vezes o papel de chefe de equipa e, ultimamente, tem-se visto confrontada com o facto de “obrigar colegas a seguir turno”, porque “ninguém” quer seguir.
 
“O único critério para não seguir turno é a incompatibilidade de horário, não posso deixar alguém trabalhar 24 horas. Fora isso, não me posso preocupar se tem filhos, se tem uma consulta ou um compromisso, tenho de ter uma pessoa para seguir turno e, ou decidem entre elas, ou faço um sorteio e fica a quem calhar”, referiu.
 
Nos últimos dias têm-se sucedido os encerramentos das Urgências de Ginecologia e Obstetrícia um pouco por todo o país, por dificuldades em assegurar escalas, situação que se verifica desde as 21:00 de terça-feira na unidade de Portimão do CHUA e se vai prolongar até às 09:00 de segunda-feira.
 
No entanto, segundo as enfermeiras, o fecho de Portimão não é maior problema, uma vez que se trata de uma situação que já é recorrente, tendo, até, começado a ser habitual as grávidas de Portimão dirigirem-se em transporte próprio para Faro.
 
Na ocasião, Nuno Manjua, dirigente regional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), disse já ter sido enviada uma carta a solicitar uma reunião com a ministra da Saúde, Marta Temido, para expor o problema e pedir a contratação de mais enfermeiros.
 
“Se não for encontrada uma solução, vão ter de ser encerrados alguns postos de trabalho, como a sala operatória de cesarianas”, alertou, considerando “lamentável” que o plano de contingência apresentado por Marta Temido na segunda-feira abranja apenas os médicos.
 
Lusa