Família

Ensine o seu filho a proteger-se

 
Desde muito cedo que os pais procuram transmitir um vasto conjunto de conhecimentos aos seus filhos para que eles estejam mais despertos e para que se protejam de eventuais perigos.

 
Qualquer pai alerta, desde muito cedo, o filho ou a filha para os perigos em manusear objetos cortantes, o perigo do fogo, restringindo o acesso a fósforos, isqueiros, ao fogão, a objetos quentes, o alcance aos medicamentos está também protegido pela maior parte dos pais, no entanto, é importante alargar esse leque de perigos numa sociedade em mudança e que se quer cada vez mais consciente.
 
Os pais têm de proteger os filhos da exposição à Internet, ao sexo desprotegido, ao consumo de drogas, tal como têm de incluir a agressão e o abuso sexual no seu leque de avisos de perigo. Cada vez se aborda mais este tipo de problema na comunicação social e, não é por acaso, muito menos por estar na moda, é porque é fundamental que as nossas crianças e jovens estejam despertos para esses perigos que espreitam de forma acessível e, muitas vezes mais próxima do que se desejaria ou do que se possa pensar.
 
A violência de qualquer tipo tem de ser abordada frontalmente pelos pais para prevenir o Bullying e a violência no namoro, mas também a sexualidade protegida tem de ser um tema a colocar nas conversas entre pais e filhos para evitar uma gravidez indesejada, bem como as doenças sexualmente transmissíveis. Neste tempo, temos obrigação de preparar os nossos filhos o mais possível para a vida e, alertá-los para os riscos que podem correr é também a base da educação e um ato de amor.
 
Quanto mais informados os mais novos estiverem, melhor serão capazes de fazer face aos perigos que espreitam um pouco por todo o lado e, cabe aos pais preparar para essa proteção com a ajuda das instituições sociais que existem também com essa função.
 
Há pais, mães, tios, avós, vizinhos, conhecidos ou desconhecidos que são agressores. Há pessoas que ficam com uma criança e que a podem agredir ou pelo menos tentar fazê-lo, pelo que convém que a sua consciência não o permita. Para isso, é importante que saiba que isso não se faz e que se sinta à vontade para falar com os pais, que se queixe, que aprenda a falar sobre o que lhe acontece, seja na escola, entre amigos ou pais de outros colegas. Para isso, a criança ou jovem tem de saber quais são os limites e que, por se tratar de um adulto, isso não lhe dá o direito de a agredir, de a humilhar, de lhe chamar nomes, de lhe tentar comprar o silêncio com dinheiro e daí por diante.
 
Na mesma sequência surgem os abusos. A criança tem de estar alerta para o facto de um adulto não ter de a ver despida, muito menos de lhe tocar nos genitais ou realizar qualquer tipo de insinuação. Para tal, desde muito cedo os pais têm de alertar os mais jovens para a necessidade de protegerem a sua intimidade dando o exemplo. A criança deve ser incentivada a lavar-se sozinha, sob a vigilância dos pais, mas sempre com o alerta de que não o deverá permitir por outras pessoas. O contacto com os órgãos genitais deve ser feito pela própria criança e jamais por um adulto e ainda menos um estranho. Os pais devem dar essa liberdade à criança para que se lava e limpe sozinha, de forma a mostrar-lhe que é ela quem cuida do seu corpo e ir anotando subtilmente estas noções para que a criança as registe. Naturalmente que os pais responsáveis não só sabem explicar isto como dar o exemplo com a sua intimidade e privacidade, sendo que o importante deste ponto é conversar abertamente sobre estes temas com os nossos filhos.
 
Em caso de alguma tentativa de abuso, a criança saberá sempre recorrer aos pais e pedir ajuda. A tarefa complica-se quando são os progenitores a praticar esses abusos, pelo que, as pessoas à sua volta devem ouvi-la, estar atentas aos sinais e pedir ajuda em caso de desconfiança. As escolas já fazem um excelente trabalho nesse sentido, sendo necessário que se envolvam cada vez mais as instituições em que a criança participa para que se possa combater este crime.
 
Uma sociedade informada é uma sociedade mais justa, cívica e solidária. Não tenhamos dúvidas disso. Por essa razão, proteger os direitos de uma criança é estar à altura destes conhecimentos, fazendo face a estas necessidades e dando o nosso contributo. A solução é ajudar «sem medo de correr o risco de proteger uma criança ou jovem em perigo».
 
No caso da Internet, os pais precisam de estar cada vez mais informados para esta nova realidade a que as nossas crianças e jovens estão expostos. Em primeiro lugar, os pais precisam de estar informados para que possam proteger os filhos e orientá-los para o melhor caminho. Proibir o acesso não os ajuda a proteger, mas sim ensiná-los a regrar o tempo em que utilizam as tecnologias, os contactos que estabelecem, bem como uma fiscalização atenta e sistemática aos locais que os filhos frequentam na Internet são uma ajuda valiosa para os proteger. Os pais devem conversar com os filhos quando lhes dão esses equipamentos para as mãos e, logo aí, passar as primeiras noções sobre esses perigos. Depois, devem mostrar-lhes claramente que vão conversando acerca do assunto, uma vez que, há sempre novos perigos, novas atualizações e que, juntos vão acompanhando e protegendo-se. Os pais não podem ficar vedados de fiscalizar os equipamentos dos filhos. Quando o processo decorre bem, nem é de fiscalização que se trata, mas sim de partilha de informação. 
 
Na maior parte dos casos, são os pais quem oferecem esses equipamentos aos filhos, o que é mais uma razão para lhes mostrarem que vão estar atentos que podem ter de alterar alguma coisa. O tempo em que os filhos estão ligados aos ecrãs deve ser estabelecido logo no início e, sempre que o mesmo limite é ultrapassado, a regra deve ser recordada e aplicada. Esta postura é importante para que os jovens se sintam protegidos pelos pais e lhes falem sobre os mais variados assuntos, mas também para evitar que se cometam excessos e se possam desencadear vícios na sua utilização.
 
Nunca é demais recordar que, a Internet, as redes sociais e os jogos são mais um vício na nossa sociedade atual que tem de ser evitado tal como as drogas. Mais de quatro horas por dia ligados aos ecrãs sem ser para trabalho ou para estudo, já é motivo de alerta, pelo que deve ser controlado. Quando a criança ou jovem já não consegue cumprir esta regra, os pais devem pedir ajuda técnica especializada, já que se pode tratar de um vício. Um sinal importante a ter em conta é a irritabilidade. Quando a criança ou jovem fica muito irritado por não estar a jogar ou por não estar ligado à Internet, é um sinal de que não está a gerir da melhor forma o tempo sem estar exposto a esse estímulo. O mesmo se passa quando opta pelos ecrãs em vez de estar com os seus amigos. Os pais devem fazer esse trabalho criando condições para que se afaste dos ecrãs, quando já não conseguem dar essa resposta, é melhor optarem por pedir ajuda.
 
Os pais devem alertar os filhos para os jogos que pedem informação pessoal, fotos, dados sobre a família, a casa, horários e rotinas da família, como devem ter em conta a publicação de fotografias dos filhos que é um exemplo para que eles façam o mesmo.
 
Fotos sem roupa ou em determinados locais não devem ser publicadas de forma alguma. Este é um imperativo que os pais devem colocar nos filho para que aprendam a proteger-se dos perigos da Internet e o façam de forma segura.
 
Fornecer dados pessoais a desconhecidos é outro pilar essencial a ser acautelado, a par dessa fiscalização permanente. Os pais devem saber os jogos que os filhos jogam, os filmes que veem, tal como devem ter acesso aos seus amigos e sítios que visitam na Internet. Para isso, é fundamental ensinar os filhos a não ter segredos com os pais, já que isso os pode prejudicar. Naturalmente que os filhos não têm de fazer um relatório sobre o seu dia, mas os pais devem, desde cedo, criar um espaço onde conversem naturalmente sobre todos os assuntos, pois será desta forma que os filhos vão falando acerca do que se passa.
 
Com a relação dialógica dos 15 minutos diários defendida por Quintino Aires, a tarefa também é muito facilitada, uma vez que, no final de cada dia, pais e filhos se juntam só para brincar ou para conversar. São quinze minutos em que se desligam os ecrãs e em que pais e filhos estão exclusivamente em conjunto para partilharem um momento juntos, para conversarem, contarem uma história, falarem sobre o seu dia. Este espaço de diálogo é fundamental para que os filhos não percam esta cumplicidade com os pais e para que estes vão acompanhando o seu dia e o seu desenvolvimento sem que precisem de fazer um “interrogatório” aos filhos.
 
Com este hábito de conversar sobre tudo, os filhos vão dizendo espontaneamente o que “lhes passa pela alma”, o que é útil para que os pais melhor os compreendam e saibam reagir quando existe algum motivo de alerta. Esse espaço de conversa serve para colocar em evidência todos os tipos de assuntos sem punições. Os pais podem aproveitar para criar atividades em que possam abordar temas mais delicados de forma lúdica e descontraída, como por exemplo, a Internet, as drogas ou a sexualidade e ir conversando descontraidamente sobre o assunto, sem críticas, mas com uma análise atenta do que os filhos vão dizendo.
 
Fátima Fernandes