Sociedade

Estamos cada vez com mais falta de atenção. Porquê?

 
Cada vez se assiste mais a discussões inúteis e infundadas, comentários agressivos a coisas de menor importância, atitudes explosivas face a coisas muito pequenas… mas a quê que se deve tudo isto?

 
Essencialmente a uma enorme carência emocional e a uma extrema falta de atenção. As pessoas, de um modo geral, andam à procura de algo que as preencha e, como não o encontram, acabam por descarregar essas emoções negativas na primeira pessoa que lhes aparece à frente. Passa-se isto nas mais variadas situações, sendo muito evidentes no trânsito e nas redes sociais que são talvez os locais onde se juntam mais pessoas ao mesmo tempo num determinado momento do dia.
 
É verdade que o trânsito nas grandes cidades é caótico, tal como as relações estão cada vez mais exigentes e menos baseadas na compreensão e na tolerância pelo outro, o que aumenta os níveis de insatisfação das pessoas que, a todo o custo procuram essa satisfação e, quando não o conseguem da forma normal e natural, acabam por exigir e querer à força aquilo que não se pode exigir a ninguém, mas que terá de surgir com naturalidade: o respeito e a compreensão.
 
Dedicamos pouco tempo a nós próprios a às relações que nos dão prazer como são o nosso cônjuge e os nossos filhos e, a partir daí tudo parece tempestuoso. Se entendemos muito bem as causas, falta-nos agir para aprender a compensar tudo isso. Como é que se faz? Reservando um tempo diário para nós próprios nem que seja antes de dormir. Escrever, ler, pensar um pouco acerca do nosso dia. Conversar com quem vive connosco e desligar os ecrãs. Muitas vezes não nos damos conta de pequenos gestos que nos sufocam e irritam e dos quais somos responsáveis, como por exemplo estar ligado às redes sociais ou ter sempre a televisão de fundo à hora das refeições. Estes dois gestos podem fazer toda a diferença se forem utilizados para desligar os botões e dar espaço á conversa. Depois de um dia em que cada elemento do seio familiar andou de um lado para o outro, o que se espera é que as pessoas conversem, que se mimem que estejam juntas, logo não há espaço para os ecrãs que, nesses momentos são tudo menos ocupação do vazio e dos tempos livres.
 
Precisamos desse contacto humano para alimentarmos o nosso lado mais humano. Se alimentamos as tecnologias, agimos como se fossemos também máquinas. Os nossos filhos acabam por entrar rapidamente no mesmo vício e, aos poucos, o diálogo não existe dentro de casa. Só temos ecrãs, não temos espaço para estar uns com os outros e fazer algo tão simples quanto rir. Rir do nosso dia, rir de pequenas coisas, rir de nós próprios. Aos fins de semana, temos de aproveitar mais o tempo em família, estar mais em contacto com a natureza e menos com compromissos. Temos de dedicar a nossa atenção a atividades que nos possam dar prazer em vez de estarmos sempre ligados a obrigações. Devemos também preocupar-nos menos com o que pensam a nosso respeito e mais com o que sentimos e consideramos ser. Não são os outros que vivem a nossa vida, muito menos pagam as nossas contas, logo não temos de lhes prestar tantas obrigações.
 
Olhemo-nos alguns bons minutos ao espelho diariamente e tenhamos coragem de apreciar quem somos, o que fazemos e o que temos. Faz bem gostar da nossa imagem no espelho, escrever aquilo que conquistamos nas últimas semanas e fazermos planos para o que queremos a seguir e, porque não falar com quem ama acerca daquilo que o possa estar a incomodar? Uma boa conversa resolve muitos problemas pessoais, sociais e conjugais, enquanto que nos preenche. Conversar implica falar e ouvir, implica dar atenção em troca dela e claro, muito menos atos explosivos de quem precisa de um pouco de colo quando está com um problema.
 
É verdade que andamos cada vez com mais falta de atenção. Quanto mais assumirmos isto, menos acabaremos por explodir sem pensar, uma vez que sabemos exatamente o que se passa e temos de procurar uma solução. Se o leitor souber que anda ansioso porque está carente, em vez de fazer um comentário terrível nas redes sociais ou buzinar ferozmente no trânsito, conversa com a pessoa que vive consigo e fazem um programa a dois. É assumindo o que se passa que se supera e que se resolvem os conflitos.
 
Já pensou na razão pela qual tantas pessoas se envolvem no futebol e de forma tão agressiva? Por que provavelmente não estão preenchidas com a sua vida familiar e acabam por ir para um estádio com os “nervos à flor da pele”. Aquilo que deveria ser um momento de distração, acaba por se tornar num ambiente de guerra. O mesmo se passa com os pais que não reservam um tempo diário para os seus filhos, que lhes oferecem prendas para os silenciar e depois se queixam do mau comportamento dos filhos ou dos maus resultados que estes obtiveram.
 
Temos de ver a vida como um todo. Está tudo interligado. A forma como eu dou o meu exemplo em casa, vai fazer com que os outros tenham um bom ou um mau comportamento, consoante aquilo que imitam do que observam.
 
Alguém que paga a amizade dos outros, certamente que está a ensinar os filhos a pagarem bebidas aos colegas de escola para ter atenção… é o mesmo que se passa com os pais que discutem e que não conversem e que estão a mostrar aos filhos que não sabem dialogar.
 
É de tudo isto que vem a falta de atenção: uma consequência da falta de tempo para nós próprios, para gostarmos de nós mesmos e dos outros. Mude algo na sua vida, hoje!
 
Fátima Fernandes