A Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis organizou esta terça-feira uma sessão pública de esclarecimento sobre a prospeção e exploração de petróleo no Algarve, que teve lugar no Auditório da Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve, em Faro.
A Entidade prometeu esclarecer a opinião pública sobre o tema e nesse sentido, convidou todas as concessionárias de exploração a Repsol, Partex, Eni Portugal, Galp Energia e Portfuel, para que estivessem presentes.
O auditório encheu por completo, com destaque para a presença de figuras conhecidas da região, entre autarcas, empresários, deputados, dirigentes associativos e ambientalistas.
Depois das apresentações dos cinco representantes das concessionárias, teve lugar um período de perguntas e respostas.
Um dos intervenientes foi Jorge Botelho, Presidente da Autarquia de Tavira e da AMAL - Comunidade Intermunicipal do Algarve, que mostrou-se preocupado com a economia ao nível do turismo, interrogando o responsável máximo da Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis, Paulo Carmona sobre o impacto visual que uma exploração onshore (em terra) trará para o Algarve, ou de não ter sido feito um estudo económico sobre as consequências que este tipo de investimentos representam, (nomeadamente para o seu concelho dado ser em Tavira e Aljezur, onde essa prospeção está prevista).
Paulo Carmona clarificou que estes processos, "não são de agora, existindo operações do género em Portugal desde os anos 70, onde foram feitas até hoje cerca de 175 sondagens", acrescentando que ao nível da exploração offshore (no mar) "essas pesquisas são feitas a 38 km da costa, no fundo do oceano a 2 mil metros abaixo do subsolo".
Relativamente a uma outra questão levantada pelo Presidente da AMAL, sobre o tempo de duração entre o início das sondagens e a dita exploração, Paulo Carmona, explicou que "em média o processo demora 4 anos, prevendo que caso se confirme a existência de petróleo, serão precisos mais 4 anos para desenvolver não só a análise de impacto ambiental prevista na lei, como a consulta pública, envolvendo ainda autarquias e entidades ligadas ao ambiente ou com responsabilidades inerentes ao território", apontando para um prazo entre 8 a 9 anos desde a prospeção à dita exploração.
O responsável da Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis, vincou ainda que "nada será feito, sem o conhecimento das autarquias", mostrando abertura para reunir sempre que se justifique, com os autarcas.
À margem da sessão de esclarecimento, Elidérico Viegas, Presidente da AHETA - Associação dos Hoteleiros do Algarve, disse ao Algarve Primeiro, que este estudo de prospeção de petróleo em terra é prejudicial "não só para o Algarve mas também para o país, numa altura em que o petróleo vem perdendo importância económica, quando estão a surgir as energias alternativas para as quais a região está especialmente vocacionada, não contrariando o desenvolvimento económico que já está instalado, penso que esta medida tem que ser travada imediatamente, em nome da defesa do interesse público".
Aquele responsável defendeu ainda que a economia turística não "casa" com uma atividade de extração petrolífera, "pôr em causa uma atividade económica que já está consolidada, numa região que representa mais de 40% do turismo nacional, juntando à extração de petróleo é no mínimo desconhecer a realidade da região".
Já Manuel Vieira, defensor da Plataforma Algarve Livre de Petróleo, disse ao nosso jornal que "o negócio de exploração petrolífera e Gás Natural é só para algumas empresas, não para os algarvios, que trabalham no setor turístico ou na pesca, bastando olhar para os exemplos de outros países, com impactos naturais e de saúde pública, para reprovarmos este tipo de investimentos".
À mesma hora a AMAL enviava um comunicado dando conta que teve lugar na segunda-feira uma reunião entre os Presidentes da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), do NERA, AIHSA, AHETA, CEAL, ACRAL e ANJE com vista à avaliação e união de posições sobre este assunto, tendo ficado clara a posição destas entidades.
O mesmo comunicado revela que independentemente da forma como o processo foi conduzido pelos diferentes Governos, os representantes da AMAL e das associações empresariais do Algarve afirmam com "veemência que discordam e opõem-se, firmemente, ao arranque e desenvolvimento desta atividade".
Uma tomada de posição que deve-se ao facto de se considerar "que só o anúncio da prospeção gera consequências negativas para a atividade económica da região e a sua concretização em termos de exploração poria em risco o futuro do Algarve em termos económicos, nomeadamente o turismo, principal setor da região".
Os Presidentes da AMAL e das Associações empresariais dizem estar disponíveis "para todas as ações adequadas em conjunto com os cidadãos do Algarve para impedir este processo".