Família

Filhos que vivem em função dos pais

 
Ninguém gosta de depender emocionalmente de alguém, porque isso é uma prisão,no entanto, é comum que, muitos filhos, mesmo depois de adultos, continuem com essa dependência dos pais, porquê?

Na posição dos especialistas, há várias explicações para que tal aconteça. Em primeiro lugar, os pais que também já dependeram dos seus progenitores, acabam por fazer o mesmo aos filhos.
 
Depois, há pais que protegem tanto os filhos que não lhes deixam uma margem de manobra para que se desenvolvam de forma autónoma e sadia.
 
Também há muitos casos de pais tão inseguros e medrosos que vivem através dos filhos de tal forma que, não conseguem imaginar a vida sem os mais novos, pelo que assumem níveis de dependência tão elevados com os filhos que não os deixam crescer em liberdade de ação e de pensamento.
 
Estes pais vêm os filhos como adultos desde muito cedo, contam-lhes o seu percurso ao detalhe, são tão frágeis que, os mais novos têm de aprender a protegê-los já que não sabem fazer nada sem os descendentes. Colocam-nos na cama desde pequenos e mantêm esse comportamento até fases avançadas do desenvolvimento dos mais novos, choram no ombro dos filhos, pedem conselhos, ajuda, apoio de toda a espécie e, em vez de serem eles a cuidar dos seus pequenos, acabam por ser cuidados por eles. Quando chegam à idade adulta, estes filhos não se conseguem autonomizar porque é tão grande a chantagem emocional que não se libertam dessa dependência para poderem seguir o seu percurso.
 
São muitos os relatos também de situações em que a mãe vive mal com o marido e vê no filho o apoio de que necessita, quase como se este fosse o seu companheiro ideal. Também é comum o desabafo de filhas que são tão amigas e ligadas à mãe que não conseguem planear o futuro pelo medo de fazerem sofrer a sua progenitora.
 
Em consulta de psicologia, muitos filhos relatam também que, com todo esse ambiente de dependência emocional, não conseguem fazer a sua vida, constituir a sua família porque se sentem completamente dependentes dos pais, da sua opinião, conselhos, proteção, aprovação e incentivos. Muitos adultos dizem precisar do apoio da mãe para iniciarem algo, do aplauso do pai para tomarem uma decisão e que, os pais são muito mais importantes nas suas vidas do que constituir família com alguém.
 
Estes adultos sabem que, ao se casarem, terão de fazer opções, terão de ser responsáveis pela sua vida, ter uma família, as suas despesas, gostos e opiniões e não estão preparados para isso.
 
Segundo os psicólogos, não são os pais que precisam de mudar porque, na maioria dos casos, já têm uma idade tão avançada que isso é quase uma missão impossível. São os filhos que precisam de reunir forças e construir o seu percurso sob pena de adoecerem a vários níveis, em especial, o mental.
 
É de anotar que, há situações em que existe dependência emocional e financeira de filhos que não conseguem dar um rumo à sua vida e, muitos em que é só a ligação tóxica, mas de dependência que os une. Em ambos os cenários, a relação não é saudável, uma vez que, não se pode perder de vista que, os filhos nascem e crescem para terem o seu mundo interior, a sua família, escolhas, profissão, estilo de vida e para se desenvolverem a partir dos valores e educação dos mais velhos, mas fazendo as suas opções, tendo sempre a sua posição e reserva pessoal.
 
Os filhos não podem depender dos pais e estes não podem nem devem depender dos mais novos. A relação tem de ser pautada com uma boa dose de independência para que seja saudável e feliz. Os pais não são donos dos filhos, nem estes podem depender dos mais velhos de forma alguma.
 
De acordo com a psicologia, é possível inverter esta situação com uma terapia adequada a cada caso, no entanto, o paciente tem de pedir esse apoio para que possa começar a encarar a vida noutra perspetiva.
 
Ao mesmo tempo, é importante que a pessoa faça um processo individual, gradual, mas exigente para que possa começar a encontrar alguma melhoria.
 
Eis alguns conselhos que podem facilitar essa tarefa:
 
1. Tente fazer uma atividade sozinho e tente sentir algum prazer na mesma. Pode optar por sair para beber um café, ir ao cinema, ir ás compras, frequentar uma biblioteca ou qualquer outro local público onde possa estar consigo mesmo sem se preocupar por não estar com os seus pais.
 
2. Comece a pensar mais em si reservando alguns momentos do seu dia para esse efeito. Faça um balanço do que lhe aconteceu, pense numa alternativa para um problema e não peça a opinião dos seus pais. Procure tomar essa decisão sozinho.
 
3. Compre um livro que seja do seu agrado e dedique-lhe algum do seu tempo diário.
 
4. Procure fazer alguns contactos com potenciais amigos ou conhecidos sem recorrer à opinião dos seus pais. Esteja disponível para travar nem que sejam pequenos diálogos com outras pessoas que vai conhecendo nos locais que frequenta quando está sozinho e, se possível, permita que a relação evolua.
 
5. Procure apoio psicológico num tempo e espaço de conversa, onde deverá dizer tudo o que pensa e o que sente. Acredite que, com um bom investimento na sua autoestima, será possível dar um novo sentido à sua vida.
 
É muito importante ter em conta que, a partir do momento em que nos sentimos sufocados pela dependência emocional, todo o nosso organismo vai lutar contra isso, pelo que, toda e qualquer ajuda que possamos dar a nós próprios é muito bem vinda.
 
Não tenha medo de escrever num caderno as suas conquistas, os momentos em que conseguiu fazer algo sozinho e sem a aprovação dos seus pais, pois esse é um importante sinal de que algo está a mudar para melhor.
 
Insista também em recordar aquilo que já o fez feliz e procure repetir a situação, pois tudo o que fizer por si e para o seu bem-estar é valioso.
 
Pense que, o “normal” é que cada ser humano siga o seu percurso, que se desenvolva e afirme tal como é. Se tal não ocorreu consigo no tempo devido, é sempre altura de lutar por essa liberdade.
 
Há casos em que é possível manter a convivência com os pais porque os mesmos aceitam e respeitam as suas escolhas, mas, há outras situações em que o nosso desejo de mudança é tão grande que os mais velhos não aceitam essas alterações, no entanto, não se deixe abalar e siga exatamente o que está a sentir, pois foi mesmo para não ficarem sozinhos que os seus pais lhe criaram essa relação de dependência tóxica. Cabe a cada um de nós tentar ser feliz o melhor possível e, se tiver de viver mais distante dos seus pais, lembre-se de que já os acompanhou demasiado ao longo da vida e que agora é tempo de pensar mais em si.
 
Fátima Fernandes