Política

Francisco Amaral assume-se "de consciência tranquila na política"

Numa altura em que se fazem os preparativos para uma campanha eleitoral que se espera "quente" em Castro Marim, o Algarve Primeiro falou com Francisco Amaral, autarca que se prepara para ir a votos num cenário algo atribulado.

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Médico de profissão e com uma grande paixão pela gestão autárquica, iniciou funções como presidente da autarquia de Alcoutim, onde conduziu os destinos dos alcoutenejos durante mais de duas décadas.
 
Apostado na experiência nessas funções, rumou a Castro Marim com o propósito de "melhorar a qualidade de vida das pessoas" e venceu a autarquia com uma lista apoiada pelo PSD.
 
Pouco tempo depois de ter tomado posse, "começaram as divisões internas, sem qualquer fundamento", ao fim de quatro anos de mandato, o PSD de Castro Marim, contra a indicação dada pelo partido a nível  nacional (que determinou a renovação automática das candidaturas dos autarcas que assim o pretendam), retirou o apoio a Francisco Amaral, lançando outro candidato que já havia sido presidente da autarquia de Castro Marim.
 
Para saber o ponto da situação e como se sente depois de quatro anos ao serviço da autarquia e com divisões internas, o Algarve Primeiro lançou algumas questões a poucos meses das eleições.
 
Algarve Primeiro: Como explica estas divisões dentro do próprio partido e como tem lidado com a situação?
 
Francisco Amaral: Há 4 anos, fui convidado pela estrutura local do PSD para me candidatar a Castro Marim. E várias vezes recusei. Queria ter uma vida menos stressante. Tinha a minha reforma, que é idêntica ao vencimento atual. E não é acumulável. Queria voltar ao exercício da medicina dois ou três dias por semana e dedicar-me mais à minha pesca, à minha caça e à minha horta. Acabei por adiar este sonho e resolvi aceitar o convite. Tenho a minha maneira de ser e de estar, na vida e na política. Sou feliz quando ajudo os outros. Tenho as minhas qualidades e os meus defeitos. As minhas capacidades e as minhas insuficiências. Faço sempre o melhor que posso e o melhor que sei. Se alguém pensou que eu viria para Castro Marim e deixar de ser quem sou, enganou-se. Ninguém é obrigado a gostar de mim ou a concordar comigo, mas respeito deve haver. Infelizmente não tenho sido respeitado. Tenho lidado com indiferença e repugnância a ataques torpes e vis de meia dúzia de pessoas frustradas, que quase diariamente me injuriam e caluniam.  Ficam a falar sozinhas. 
 
AP: Como encontrou a autarquia de Castro Marim há quatro anos atrás?
 
F.A: Encontrei uma verdadeira “dor de cabeça”. A Câmara do Algarve com menos funcionários, ainda por cima, durante 3 anos, devido à crise no país, esteve impossibilitada de meter novos funcionários. Poucas viaturas e envelhecidas. Máquinas e equipamentos obsoletos. Estradas e arruamentos esburacados. 57 povoações sem água domiciliária potável. Ainda com fontanários de água não potável. No verão, nem nos fontanários havia água. Dezenas de processos na barra dos tribunais. Uma divisão de urbanismo que dificultava a vida aos investidores e aos munícipes, etc. Não foi nada fácil. O país em plena crise, com a nova lei das finanças locais, que dificultou ainda mais a situação, já de si fragilizada, deste município. Mal houve dinheiro, foi para tapar buracos na rua, colocar água domiciliária potável nas povoações e ajudar as famílias que estavam a passar mal com um desemprego avassalador. Têm sido anos muito difíceis. Nunca tive qualquer apoio do PSD local. Como se não bastasse esta situação, ainda ser alvo de cartas anónimas, comunicados anónimos e perfis falsos no facebook, com ataques caluniosos e difamatórios, cuja autoria revela tratar-se de pessoas cobardes, sem escrúpulos e sem princípios, que me custaram graves problemas de saúde. Não tem sido nada fácil lidar com toda esta situação.
 
AP: O que pensou quando a anterior estrutura local do PSD, presidida pelo Dr. Estevens, indicou o próprio para candidato à câmara pelo PSD?  
 
F.A: Foi uma brincadeira de mau gosto. Toda a gente sabe que a Comissão Nacional do PSD decidiu, há mais de um ano, que os presidentes atuais em condições de se recandidatarem seriam os candidatos. 
 
AP: Estávamos num cenário de grave crise económica e com muitas pessoas a precisar de ajuda. Foram muitos os casos que lhe chegaram para receber essa ajuda?
 
F.A: Para atenuarmos o efeito do desemprego, desenvolvemos protocolos com a St. Casa da Misericórdia e outras IPSS, que aumentaram a empregabilidade temporária. Falamos de 150 desempregados. Ajudámos várias famílias carenciadas a pagar a renda de casa e tivemos de apoiar outras situações de carência absoluta. O programa de cessação tabágica, que ajudou 250 pessoas dependentes. Além dos ganhos de saúde, representam um aforro de milhares de euros a mais para cada família. 
 
AP: Foi dessa forma que se afastou das "tricas" políticas?
 
F.A: A esmagadora maioria da população detesta a “trica” política e guerras politiqueiras, que meia dúzia de pessoas dos vários partidos aqui desenvolvem. Aliás, ao longo dos anos aqui em Castro Marim, o tempo era todo gasto nessas guerras, sobrava pouco tempo para fazer alguma coisa de útil. Ninguém conte comigo para essa baixa política e para essas guerras. Sou um homem de paz. 
 
AP: O fato de ser médico também facilita essa tarefa?
 
F.A: Costumo dizer que tenho duas paixões na vida: o exercício da medicina e o do poder local. Consigo conciliar as duas, que se complementam. Desde há 30 e alguns anos que sou médico voluntário no Hospital de Faro, onde vou todas as quintas-feiras. Fiz, durante muitos anos, o serviço de urgência. Nos últimos tempos vou visitar doentes internados por solicitação das famílias, amigos e médicos de família e vou inteirar-me das situações. Também é importante uma palavra de conforto e de esperança. Sou feliz quando dou este apoio. 
 
AP: E como é que o médico cuida da sua própria saúde?
 
F.A: Tive de mudar radicalmente de vida. Este terrorismo psicológico e político exercido sobre mim custou-me dois infartos. Desde maio de 2016 que acabei com o meu facebook. Faço dieta, exercício físico e tomo religiosamente a medicação. O stress do dia-a-dia do município mantem-se, mas procuro sempre a minha hora diária de pesca, horta e do meu cão, que se chama “Xanax” (risos). 
 
AP: E a "receita" estende-se às suas funções e aos objetivos que tem delineados para Castro Marim?
 
F.A: (risos) Faço por isso! Neste momento penso que a autarquia já está a funcionar muito melhor, o que permite uma maior rapidez e qualidade nos serviços que prestamos à população e aos investidores. A Divisão de Urbanismo está a funcionar, a par de muitos outros serviços. Há uma maior comunicação entre as pessoas, o que globalmente é um sinal positivo e que nos permite ambicionar mais e melhor. Eu entendo o poder local como um órgão que tem de facilitar a vida das pessoas, sejam os munícipes, sejam os visitantes e os investidores que querem ver as portas abertas para os seu projetos e as necessárias infraestruturas. Tenho excelentes colaboradores no município, a quem muito devo nesta dinâmica municipal. 
 
AP: O Ninho de Empresas é um desses sonhos concretizados?
 
F.A: Sem dúvida, uma obra pensada pelo anterior executivo. Agora falta-nos o parque empresarial e investidores sérios! Nós desejamos sempre o melhor para a nossa população e, "bons" investidores é sempre um ponto de partida importante quando se desenham estes projetos ambiciosos e de futuro.
 
AP: Que outros sonhos já se concretizaram nestes quatro anos?
 
F.A: Não tantos quantos os que gostava, pois herdei a conclusão da estrada dos Fortes, onde por lá passam meia dúzia de carros por dia e uma despesa de quatro milhões de euros. Só isto me limitou o orçamento durante dois anos, mas foi uma opção do passado e que tive de acabar com custos elevados para os projetos que tenho em mente. Ainda assim, fizemos a requalificação dos Mercados de Altura e Castro Marim, recuperamos a Casa do Sal que já é um emblema da Vila, temos dado resposta às estradas do concelho que se encontravam em elevado estado de degradação, às viaturas da autarquia que, como já disse, estavam obsoletas. A estrada da Quinta do Sobral, da Junqueira e da Praia Verde já melhoraram bastante as acessibilidades, bem como o Monte S. Francisco.
 
AP: Os Dias Medievais estão "bem e recomendam-se"?
 
F.A: Temos obtido recordes de bilheteira e com um feito que muito nos agrada: estamos a reduzir as despesas e a aumentar os lucros. O alargamento do evento pelas ruas da Vila também foi uma opção relevante e, esta é a linha que pretendemos continuar, pois estamos a falar de um dos melhores certames da região e que mais pessoas atrai para Castro Marim. Mas também temos de realçar o Festival de Lucía, uma inédita iniciativa de homenagem ao eterno génio da guitarra e mestre absoluto do flamenco contemporâneo, Paco de Lucía.
 
AP: Para quando a Praia Fluvial de Odeleite?
 
F.A:O concurso vai ser lançado e penso que essa será uma realidade para o final do verão. O tempo não corre como nós pretendemos, ainda assim, vamos insistindo para ultrapassar todas as burocracias que vamos encontrando pelo caminho. Mas neste momento "já existe uma luz ao fundo do túnel".
 
AP: Que potencialidades destaca em Castro Marim?
 
F.A: Castro Marim tem um potencial enorme do qual há que tirar a máxima rentabilidade. A proximidade do mar, com praias das mais lindas do país, um clima fantástico, a hotelaria, a restauração e pequenos produtores, com empresários que necessitam ser acarinhados e não obstaculizados, a proximidade de Espanha, com um milhão de andaluzes aqui à porta, o sal, a reserva natural, o rico património histórico, cultural e etnográfico, a beleza natural da serra algarvia e, acima de tudo, a boa gente que este concelho tem. Todas estas áreas necessitam ser cada vez mais dinamizadas, pois todas são geradoras de riqueza, de emprego e de qualidade de vida desta boa gente. 
 
AP: Que novos projetos para Castro Marim já mandou executar?
 
F.A: Projetos de pavimentação para estradas e arruamentos mais degradados. Projetos de ciclovias a ligar a sede de concelho a Vila Real de St. António, a Altura, ao Monte Francisco e à Junqueira. Dois parques de autocaravanismo em Altura e Castro Marim. A praia fluvial de Odeleite, Memorial a Paco de Lucía em Monte Francisco, abertura da porta Este do Castelo, habitação social de Altura, Lar de Altura (iniciativa da Cegonha Branca), arranjo paisagístico do Cais da Foz de Odeleite, etc. 
 
AP: Para finalizar, como se está a preparar para a campanha eleitoral que se aproxima?
 
F.A: Não estou nada preocupado com as próximas eleições. Sei que a maioria da população aprecia esta minha maneira de ser e de estar, na vida e na política. Sempre com a preocupação de servir os outros. Os resultados eleitorais aparecem naturalmente, sem qualquer folclore de campanha, que vale o que vale. 
 
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