Comportamentos

Há cada vez mais pessoas com “manias estranhas”!

 
Das simples superstições, passando para níveis de exigência elevados, a ansiedade é o primeiro reflexo desta forma de estar na vida.

 
Aos poucos as pessoas “com manias estranhas” acabam por se ver impedidas de realizar um conjunto de tarefas pelo medo “de pisar o risco” e de fugir ao que por elas foi estabelecido.
 
Para que se perceba a dimensão do problema, há pessoas que fazem coisas como não atender o telefone a horas que não sejam “autorizadas” pelo seu cérebro, sendo normalmente as horas ímpares as mais adequadas.
 
De um modo geral, estas pessoas vivem em torno dos números e acabam por organizar tudo e todos à sua volta, acabando por se ver completamente dependentes deste modo de vida e sentindo-se prisioneiras dos seus próprios pensamentos.
 
As pessoas com “manias estranhas” sofrem de excesso de organização e acabam amarguradas, infelizes e doentes. O seu quotidiano organiza-se em regras que não admitem falhas, porque quando tal acontece, a ansiedade dispara e “estraga o dia”.
 
A necessidade de controlar tudo à sua volta, acaba por se “virar contra” a própria pessoa, já que, aos poucos percebe que é praticamente impossível viver com tanta organização e regras, o que acarreta infinitos dissabores.
 
Estas pessoas sabem que estão num caminho muito difícil e praticamente num “beco sem saída”, mas não se conseguem controlar, sobretudo no que se refere aos outros que, sem se aperceberem, entram neste mundo de exigências e organização, sem que consigam alguma vez estar à altura das suas imposições.
 
Na base dessa necessidade de controlo está o pânico, um medo terrível de falhar e de não saber como viver um imprevisto. Esse medo dá lugar a um permanente antecipar de ações que se torna asfixiante.
 
As pessoas com manias estranhas diferem umas das outras, já que “cada um organiza o mundo à sua medida”, logo também não é possível compreender como um grupo, mas sim individualmente.
 
Há pessoas que têm a mania de acertar nos números das contas do supermercado e, quando ocorre uma falha, é um motivo de desilusão profunda. Outras optam por escolher os números da porta de casa, o que não facilita a opção por uma residência quando os números ímpares já estão todos ocupados na rua que se escolheu.
 
Há quem feche sempre a porta três vezes para se certificar de que está mesmo bem fechada, quem diga três palavras antes de ir para a rua, quem faça os mais variados rituais antes de realizar uma tarefa, quem organize todas as peças de roupa por cores, quem arrume os detergentes do tom mais claro para o mais escuro, e não por categorias, quem só coma alimentos cuja soma do código de barras seja igual a sete e daí por diante.
 
O dia a dia destas pessoas envolve-se num nível de exigência elevado e fora do comum, pois raramente encontram quem as consiga entender e ainda mais respeitar ou cumprir os seus mandamentos, razão pela qual acabam por não se conseguir casar e muito menos ter filhos, pois isso aumentaria e muito a exigência!
 
Estas pessoas têm manias que nem passam pela cabeça da maioria dos mortais! Um simples buraco na manteiga é alvo de rápido alisamento, tal como um fio de cabelo que se soltou tem de ser limpo no imediato. Os canais de televisão só podem ter números ímpares e os amigos que não terminem o número de telefone em 1, 3, 5, 7 ou 9, serão suprimidos da lista de contactos!
 
As matrículas dos carros são outra dor de cabeça, já que não podem ser pares, mas com as letras as coisas também não são fáceis. Há letras que não combinam com os números e cuja soma não é ímpar, logo, selecionam-se os nomes das pessoas, das ruas, dos locais de visita e até se procura o trabalho cuja energia se ajuste à superstição.
 
Pode dizer-se que, as manias fazem parte do quotidiano de todos, já que, cada um à sua maneira, não há ninguém que escape, mas quando as manias passam o domínio do razoável, a ansiedade passa a dominar as vidas e as situações, deve ser repensada a forma de agir e, na maior parte dos casos, só o recurso a um especialista pode aliviar o sofrimento.
 
Só para anotar, há pessoas que só andam na linha branca da estrada e outras que só circulam pelos paralelos do passeio, que evitam os sinais porque se assustam e o contacto com animais. Há quem tenha as peças decorativas contabilizadas e, claro que tudo em números ímpares!
 
Há quem só lave a roupa com um detergente cuja letra signifique um número ímpar e quem só vá ao supermercado quando a conta totaliza um número ímpar! Escolhem-se cautelosamente os alimentos para que não se ultrapasse o valor, o que traduz várias idas à mercearia no mesmo dia! E esta forma de estar na vida aplica-se a tudo. Já viu a trabalheira de fazer tantas contas, de pensar em tantas coisas? Claro que não há tempo para mais nada, energia para dar ou partilhar. Vive-se a mania e, “cada um com a sua!”
 
Fátima Fernandes