Nesse sentido é fundamental que, o casal tenha em mente o planeamento de um filho, as condições de que dispõe para lhe assegurar um desenvolvimento sadio, bem como e, considero o mais importante, a capacidade afetiva e a maturidade para dar esse passo decisivo.
Ter um filho é uma relação para a vida que irá decorrer tanto melhor quanto mais houver amor, respeito, compreensão, regras, uma educação orientada e um ambiente familiar sadio. Se há sacrifícios que os filhos não nos agradecem é o facto de terem nascido no seio de uma família que não se entende e os seus elementos nada fazerem para resolver a situação. Os filhos também são pouco felizes quando convivem com um ambiente violento, com progenitores apostados na guerra entre si e sem capacidade de lhes dar atenção.
Muitos pais fazem enormes sacrifícios pelos filhos, levam vidas de aflição e de sofrimento e, um dia mais tarde, lamentam o facto de os mais novos não lhes agradecerem. É por isso, é porque eles nem sabiam o que se estava a passar, só registavam o mau ambiente familiar e tudo fizeram para fugir dele. Vendo bem as coisas, compensa fazer esse tipo de sacrifícios por alguém? Naturalmente que não e, mais tarde vão ser os nossos filhos a acusarem-nos da cobardia de termos arrastado uma vida de inferno. Por isso, partilhe as dificuldades com os seus filhos, explique-lhes o que vai fazer, peça-lhes ajuda consoante a idade e decidam a vossa vida. Um dia serão todos amigos e unidos.
Os filhos não agradecem que a mãe lhes dê os melhores ténis da loja, mas que não seja capaz de colocar um ponto final num casamento que acabou há muitos anos. Os mesmos filhos ignoram o valor de o pai trabalhar de noite e de dia para lhes pagar um bom colégio quando não têm tempo para brincar 15 minutos diários consigo.
Os filhos não agradecem que o pai fale mal da mãe, que o casal não se entenda, mas que estejam juntos até ele ser adulto. Dá muito mais felicidade a um filho crescer com pais separados, mas que o respeitam, lhe asseguram o mais elementar para que cresça e se desenvolva com qualidade e harmonia.
É injusto colocar sobre os filhos responsabilidades que não lhes pertencem. Não foi a criança que decidiu o casamento dos pais, muito menos pediu para nascer. Quem tem essa responsabilidade são os adultos que, mais ou menos de acordo, permitiram que uma criança chegasse ao seio familiar. O que a criança pede é que os adultos se entendam, que resolvam os seus problemas, que assumam as suas responsabilidades para que ela também o faça a seu tempo e na sua vida.
Uma criança que cresce num mau ambiente familiar, onde os adultos não se responsabilizam pelos seus atos e não resolvem os seus problemas, naturalmente que será um jovem com as mesmas características. Esta é a razão pela qual sublinho o facto de muitos pais atribuírem as culpas aos filhos até pelo facto de terem nascido e pouco fazerem, de forma consciente e responsável, para assegurar os direitos da criança. É aos adultos que cabe a responsabilidade de educar, de preparar o melhor possível os filhos para a vida. São eles que têm de conversar com a criança, de a preparar para a escola, para as atividades e para as suas responsabilidades, já que os mais novos aprendem através do exemplo.
Um filho numa família monoparental em que exista amor, carinho, condições de higiene e respeito será certamente mais feliz do que se fosse criada num ambiente destrutivo e negativo com os pais em conjunto. Sublinho este ponto porque ainda é recorrente ouvir muitos pais dizerem que estão à espera que os filhos cresçam para se divorciarem, ou que enquanto os filhos são pequenos não lhes querem dar esse desgosto. Essa é uma tarefa árdua para os pais e os filhos em nada beneficiam ou agradecem, pois a criança quer ser feliz, esteja com o pai, com a mãe ou com ambos. Ela precisa é de um bom ambiente familiar, ter amigos, ter as condições básicas de vida asseguradas. A criança é mais feliz com ambos os progenitores quando estes também estão satisfeitos em conjunto, quando são uma verdadeira família, caso contrário, os mais novos aceitam aquilo que lhes é oferecido, desde que recebam amor.
Com este apontamento pretendo alertar muitos pais e pais que podem estar neste momento a ler este apontamento e dizer-lhes com todas as letras que, nem os filhos são um pretexto para que vivam em ambiente de violência doméstica, pois eles também precisam de sair desse teto o quanto antes.
Os filhos não são uma desculpa para um casal não vender a casa e separar-se, mas sim ficam com uma vida destruída pelo facto de os pais colocarem esse bem material acima da segurança, do bem-estar e da felicidade.
Não é de admirar que tenhamos uma sociedade tão materialista e agressiva… se os pais não são capazes de abdicar de alguns luxos em prol da sua felicidade e qualidade de vida, como poderão estar a ensinar os seus filhos a fazê-lo de forma diferente?
Há casais que vivem uma autêntica fachada só para manterem os bens materiais. Naturalmente que estão a passar esses valores aos filhos que, na idade adulta vão fazer o mesmo. É por isso que só estamos a alimentar o consumo e a vida de aparências, é pela nossa falta de coragem em dizer aos nossos filhos que os amamos e que podemos viver numa casa mais pequena, sermos felizes na mesma e, acima de tudo mais seguros porque essa nós podemos pagar.
Educar as crianças para a responsabilidade, não é colocar-lhes as culpas de tudo sobre os ombros, mas sim explicar-lhes as decisões adultas e responsáveis que temos de tomar para que possamos viver melhor e, as crianças acatam muito bem aquilo que lhes dizemos, desde que seja com amor e sinceridade, com cautela e ajustado à sua idade.
É horrível para um filho fazer parte de um projeto de vida familiar falhado em que os adultos não são capazes de resolver os seus problemas, o que mais cedo ou mais tarde, resulta em culpas para todos os lados. Os filhos agradecem muito mais terem pais pobres e com menos capacidade de lhes comprar um brinquedo novo, mas que lhes dão afeto, amor, compreensão e regras de boa convivência social do que nascerem e crescerem num ambiente de guerra, de competição entre os pais, de troca acesa de palavras, mas com dinheiro no bolso.
Fátima Fernandes