Sociedade

Há cada vez mais pessoas sozinhas no Natal

O Natal tanto pode ser a época mais feliz como a mais triste do ano, tudo depende da forma como se lida com a pressão e com a sua realidade familiar.

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É essencial refletir acerca do Natal de hoje e não sobre a quadra que se viveu e idealizou no passado, já que esta separação ajuda a minimizar a angústia.
 
Na sociedade atual, as famílias estão cada vez mais afastadas, muitas nem se cruzam ao longo de todo o ano e, outras fazem um esforço por manter o contacto nem que seja no Natal.
 
Um estudo recente publicado no Metro, dá conta de que, por muito que se queira "fazer de conta" que a quadra natalícia é um momento de festa para todos, são cada vez mais as pessoas e de várias idades, que estão sós; ainda mais solitárias nesta altura do ano em que os amigos estão ocupados e os familiares não mantêm qualquer tipo de ligação e, se toma consciência disso.
 
Tem-se falado no terrível abandono dos mais velhos, o que nesta quadra festiva nos deixa sempre muito aflitos, mas agora há uma nova realidade: a dos jovens adultos que se assumem sós nestes dias. É um grupo entre os 24 e os 35 anos para quem o Natal foi perdendo o sentido, seja por problemas familiares, por afastamentos que não se explicam ou entendem, bem como por contingências da vida que não permitiram compreender o verdadeiro significado da palavra família.
 
Estes jovens adultos falam de solidão por não terem ainda construído a sua família e por não manterem laços com aqueles que os colocaram no mundo.
 
Há quem tenha emigrado e acabe por se sujeitar "ao que lhe é possível" no país de destino, tal como há quem não pense sequer na importância da união, da família e de celebrar uma festa onde esses sejam os valores.
 
Há quem não tenha a tradição de celebrar a quadra festiva por não ter assimilado a tradição, por pertencer a outra religião ou simplesmente por "lhe passar ao lado", logo não se incomoda com a quadra festiva. E, há quem sofra por tomar consciência da sua realidade numa altura do ano em que "todos os caminhos" vão parar ao Natal.
 
Há quem se afaste da doutrina cristã e tenha criado alternativas, tal como há quem não tenha encontrado outras formas de entender a tradição e a viva sem qualquer significado, apenas com a troca de presentes e sem grandes artifícios em torno da festa.
 
Há quem se revolte com a hipocrisia que vão dando forma a muitos comportamentos nesta altura do ano, em que se trocam prendas a pesar numa qualquer contrapartida, tal como há quem eleja as crianças como únicas destinatárias dos presentes.
 
Acima de tudo, importa realçar que, não existe uma única forma de pensar e viver o Natal, o que já alivia quem não se sente à altura de um "formato" e pode criar o seu mediante os recursos de que dispõe.
 
Não se pode esquecer também quem não tem qualquer tipo de conforto e aconchego numa quadra que se tem tornado num momento cada vez com menos tempo para os outros.
 
E, a sociedade é cruel, pois impõe a imagem do Natal perfeito, criando a ideia de que todos se juntam nesta altura do ano e que se vivem grandes momentos em família, o que aumenta a dor e a pressão de quem não pode sequer imaginar esse cenário. A dor aumenta quando se pensa que "todos" estão em família, "todos" têm a melhor consoada, "todos" estão felizes nesta noite..."
 
Às vezes seria mais honesto dizer ao mundo que, se deseja um Natal feliz, com saúde e, quando possível, com a família, com aqueles que nos são próximos e por quem sentimos afeto, mas que nem sempre isso acontece e, sobretudo, nem todas as pessoas conseguem valorizar essa magia porque não a construíram ao longo do ano.
 
E, mais grave ainda, há muitas, muitas festas em que as pessoas mal se falam, mal se conhecem e mal se toleram, mas acabam por cumprir a tradição e não compartilhar da felicidade idealizada para o Natal.
 
Até as crianças não conseguem ser felizes quando assistem a momentos terríveis no seio de uma família fragmentada, muito menos quando se faz de conta que existe "uma família" em torno de agressões e das variadas formas de violência.
 
Os mais novos também não conseguem desfrutar de um Natal onde a falsidade domine, quando existe uma pressão grandiosa em famílias de pais separados e, o pior de tudo, quando ninguém tem tempo para os ouvir e até brincar com os novos presentes.
 
Talvez existam mais pessoas sozinhas na quadra festiva do que se possa pensar, a ponto do tema merecer uma séria e afetuosa reflexão quando se pensa na melhoria da qualidade de vida das pessoas.
 
Há muitas pessoas que vivem o Natal com uma família calorosa e que conseguem de tal forma respeitar-se que, fazem desse momento, o maior do ano. Para essas, o Natal tem um significado, um empenho e espelha aquilo que se entende como união, família e amor. Mas, não é um direito para muitos neste mundo. No entanto, é um exemplo fabuloso que pode inspirar uma civilização que se esqueceu de manter os laços familiares e que, quando os procura no Natal, eles não se construíram.
 
Algarve Primeiro