Saúde

Hugo Pereira diz que solução do Hospital São Gonçalo de Lagos «não é a ideal mas a possível»

 
O Hospital São Gonçalo de Lagos passou para a esfera do Serviço Nacional de Saúde (SNS), através do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, após um acordo celebrado com o grupo HPA.

O Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), que tem as unidades de Faro, Portimão e Lagos, passa a contar com o Hospital São Gonçalo de Lagos (HSGL), depois de ter sido assinado o contrato de cessão de posição contratual do grupo HPA para o CHUA, alterando o seu nome para Hospital Terras do Infante.
 
O "novo" hospital de Lagos passa a dispor de 44 camas, Bloco Operatório, consultas, laboratório, Imagiologia e Serviço de Urgência Básico [SUB], podendo ampliar a sua prestação de serviços de saúde, num edifício onde há um ano foi ocupado para internamento de doentes Covid-19, no âmbito do estado de emergência.
 
Com esta solução, o CHUA espera recuperar a resposta em atividade cirúrgica e ampliar o respetivo internamento, ao substituir as instalações arrendadas do antigo hospital de Lagos, que está a operar no limite.
 
O CHUA informou que as negociações para o arrendamento do anunciado espaço hospitalar tiveram início em março de 2021, altura em que o Conselho de Administração manifestou à tutela o interesse em realizar um acordo com o HPA, para a transferência integral do antigo hospital lacobrigense para o Hospital São Gonçalo de Lagos.
 
Como condição, foi explicado que seria necessário conseguir as mesmas condições de exploração desta unidade com o Fundo Imobiliário da CGD, proprietário das instalações, que foi alcançado com a Portaria de Autorização assinada pelos Ministérios das Finanças e Saúde.
 
Questionado se esta é a condição ideal para servir os municípios de Lagos, Vila do Bispo e Aljezur, o Presidente da autarquia de Lagos, disse ao Algarve Primeiro, que a questão não é de agora, «desde há muito que temos falado sobre essa matéria, isto é, termos um hospital com outra dignidade, que mesmo nas condições atuais, consegue prestar um serviço com algum nível graças ao quadro profissional que ultrapassa quase tudo e todos para conseguir prestar o mínimo de cuidados de saúde à população, mas em termos de espaço físico nem de perto nem de longe tem essa dignidade».
 
O Hugo Pereira lembrou que a «bandeira» sobre a construção de um novo hospital em Lagos vem de longe, até já ultrapassou o concelho para a região e da região para Lisboa com algumas iniciativas na Assembleia da República nesse sentido, que têm sido aprovadas pela grande maioria dos partidos com assento parlamentar.
 
Para o autarca, o ideal seria construir uma nova unidade hospitalar, no entanto, reconhece que nos últimos anos, «não tem havido orçamento para se poder passar da teoria à prática, além de que o Algarve está numa situação emergente para ter um hospital central entre Faro e Loulé, há muito tempo prometido, e que parece que é desta».
 
Sobre o Hospital de São Gonçalo de Lagos, assumiu que é a opção B, porque a A, seria a construção de um hospital novo, «é uma perda para o concelho que não vou negar, contudo, não havendo essa possibilidade e com a solução encontrada com melhores condições e mais valências, não nos opomos, até apoiamos, porque na verdade apesar de não ser a situação perfeita, há uma melhoria substancial das condições físicas do espaço hospitalar, que juntando à excelência do quadro de pessoal existente, temos a garantia de um Serviço Nacional de Saúde reforçado, recuperando inclusive, algumas valências que deixarem de existir em Lagos e que serão retomadas agora, de que é exemplo a cirurgia».
 
Hugo Pereira avançou que o próximo desafio passa por criar oportunidades para fixar um novo hospital privado no concelho, consequência da passagem do Hospital São Gonçalo de Lagos para o SNS. «É uma perda que tem de ser colmatada, apesar de haver várias clínicas e serviços privados onde se podem fazer consultas, está a fazer falta uma unidade hospitalar privada, estamos inclusive já a trabalhar com a Escola Nacional de Saúde Pública, para traçar um plano estratégico ligado à saúde e bem-estar e penso que a médio prazo, iremos trabalhar para que Lagos tenha um novo hospital privado, mas temos de criar condições para termos uma unidade pública e privada, porque Lagos merece». 
 
Sobre a Serviço Nacional de Saúde, o edil falou que desde a sua criação, tem havido a preocupação de o adaptar aos novos tempos, «embora nem sempre com o sucesso que se pretende, como são exemplos as listas de espera para cirurgias e consultas, que chegam a levar meses e até anos, obviamente que o cidadão não aceita que isso aconteça. A questão que se coloca é que existe no SNS uma grande falta de meios humanos, houve também durante muito tempo um défice de investimento por via do Orçamento do Estado, e uma coisa e outra acabam por torná-lo menos eficaz, daí que tenha surgido uma forma de ultrapassar as listas de espera com os vales-cirurgia, (SIGIC), onde visam garantir uma resposta ao utente sempre que o SNS não o consegue fazer num tempo clinicamente aceitável, com o encaminhamento para outros hospitais privados ou sociais», explicou. 
 
Ao nosso jornal, assinalou nos últimos anos tem havido um aumento do investimento no SNS, quer em termos de infraestruturas quer de profissionais, mas reforçou a necessidade de redistribuir mais médicos pelo interior, para que a resposta em saúde seja mais equitativa: «acho que o Serviço Nacional de Saúde tem todas as condições para prestar uma assistência digna e com listas de espera que se considerem aceitáveis, por exemplo é definir qual o prazo máximo de resposta do hospital público, e partir daí ultrapassando esse prazo, deverá ser o Estado a compensar o doente, garantindo uma consulta, exame ou cirurgia onde quer seja, até porque os privados têm capacidade instalada em acordar com o SNS, salvaguardando sempre o doente, se não for possível no público o Estado paga para o utente ir ao privado».
 
Lembrou ainda o papel do SNS nesta fase de pandemia, «não ficou ninguém à porta para ser atendido, deu um passo em frente quase de forma exemplar e conseguiu fazer face a um cenário inesperado que poderia exigir muitos mais meios humanos e financeiros. O que teria sido do país se não fosse o Serviço Nacional de Saúde», concluiu.