Sociedade

Lagoa recria festa que foi "abruptamente" interrompida durante a revolução de Abril

Nos dias 27 e 28 de maio, Lagoa volta a realizar a "Festa da Família Agrária", recriando aquela que era uma das grandes festividades religiosas no concelho.

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Segundo informa o Município de Lagoa, dia 27 de maio realiza-se a "Grandiosa Procissão de Velas", pelas 20h00 na Igreja Matriz de Lagoa e chegada à Capela do Carmo pelas 23h00. No dia 28 de maio tem lugar o cortejo processional "A Família Agrária", com início marcado para as 18h00. 
 
A autarquia explica em nota divulgada, que em 2016, no âmbito do ano temático "A Nossa Gente, a Nossa Identidade", o Município de Lagoa organizou um desfile etnográfico inspirado na Festa da Família Agrária, considerada uma importante manifestação da fé católica de Lagoa na década de 1960 e inícios da década seguinte. Lagoa, à época vila e sede de um concelho essencialmente agrícola, exibia a ruralidade da freguesia-paróquia.
 
O desfile etnográfico contaria com a participação da estrutura associativa do concelho num cortejo que, percorrendo as ruas da cidade, culminou num arraial na ÚNICA - Adega Cooperativa do Algarve. O momento áureo da recriação seria a gala de homenagem a personalidades e associações, acolhida no Centro de Congressos do Arade.
 
Na sequência das comemorações dos 250 anos da criação do concelho, assinalados desde 16 de janeiro, deste ano, através de um programa cultural, fez reacender a memória coletiva da festa por parte das comunidades, para uma nova recriação menos alegórica e mais cerimonial no plano das atividades comemorativas da efeméride.
 
A Festa da Família Agrária consistia na realização de duas procissões solenes em honra de Nossa Senhora de Fátima: uma, de velas, na noite de sábado, que saía da Igreja Matriz para a Capela do Carmo; outra, domingueira, que tinha forte adesão popular e fazia retornar a imagem ao seu templo. Nos últimos anos, as celebrações incluíam, não apenas os rituais da enraizada devoção à "Vigem Aparecida", mas também uma componente pedagógica com palestras a cargo de leigos especializados em matérias da vida cristã, lê-se na nota da Câmara.
 
Ficaria conhecida como "Festa do Trabalho", por promover a sua glorificação à luz da mensagem cristã; "Festa dos Tratores", por dela tomarem parte agricultores e proprietários rurais com as suas alfaias; ou "do Carmo", por se realizar no antigo mosteiro de clausura de frades carmelitas, na quinta agrícola da família Cabrita.
 
A primeira vez de que há registo de se ter realizado é em 1961. Regra geral, ocorria no último fim de semana de maio, mas anos houve em que foi em junho. Organizada pela Paróquia de Nossa Senhora da Luz, contava com o envolvimento da Ação Católica Portuguesa, através da Liga e Juventude Agrárias Católicas. O pároco de Lagoa, António Martins de Oliveira, figura proeminente na sociedade lagoense de então, foi responsável pela sua realização e por tê-la tornado, a partir de 1966, num certame de todo o concelho.
 
Em 1974, a Festa da Família Agrária seria abruptamente interrompida. Como adianta o Município, "para o seu fim poderá ter contribuído o condicionamento que provocava ao trânsito na EN125 e, seguramente, a eclosão da revolução de Abril. Não obstante, e contrariamente a outras festividades religiosas no concelho, nas décadas seguintes, não se propiciou a sua retoma".
 
Como acontecimento "ímpar" da história de Lagoa, a Câmara de Lagoa adianta que "justifica-se plenamente a realização desta recriação, de uma exposição, ou a publicação de um artigo em revista científica", conclui.