O Algarve Primeiro falou com Vítor Guerreiro, presidente da Câmara Municipal de S. Brás de Alportel, num registo mais intimista.
A poucos meses de terminar o seu primeiro mandato como autarca, Vítor Guerreiro fez-nos um pequeno balanço do seu trabalho ao serviço da população, deixando também escapar algumas curiosidades da sua juventude e daquilo que tem de abdicar no seu quotidiano para cumprir os objetivos a que se propôs.
É casado e pai de dois filhos. Natural de S. Brás de Alportel, desde muito cedo que começou a participar na vida comunitária. Aos 11 anos já integrava o Grupo de Acordeonistas de S. Brás, daí até à liderança da autarquia, ainda se passaram alguns anos. “Vividos intensamente”, diz-nos Vítor Guerreiro sem esquecer que, “o que sou hoje é o reflexo do meu percurso”.
Ao longo da nossa conversa, falou-nos da paixão pela rádio, dos seus estudos a vida associativa e familiar, havendo também espaço para algumas memórias e curiosidades.
Algarve Primeiro: Vítor Guerreiro, como se concilia a paixão pela rádio, uma licenciatura em psicologia e um autarca?
Vítor Guerreiro: - O que eu sou hoje, é o reflexo do meu percurso. Sou o produto das amizades que vivi, das experiências que tive, das pessoas que tenho conhecido e dos conhecimentos que vou construindo. Não posso de forma alguma dissociar todas estas vertentes, já que tudo tem acontecido de forma natural. É quase como se o facto de ter integrado o Grupo de Acordeonistas aos 11 anos de idade, explicasse uma profunda ligação à comunidade e um enorme interesse em fazer parte da vida associativa de S. Brás de Alportel. O mesmo espírito de grupo levou-me para a rádio e motivou-me para ser dirigente associativo. E o autarca é produto de tudo isso, e mais qualquer coisa (risos).
A.P. - E de onde veio esse “bichinho” pela rádio?
V.G. - A paixão pela rádio aconteceu no meu grupo de amigos no tempo das rádios locais (piratas). Eu sempre gostei muito de música. Houve uma altura em que, fui substituir um amigo como DJ na União Sambrasense e, fui pôr música nas matinés ao domingo. Passava os “hits” da época. Era o tempo do Xutos, dos Doors, dos Pink Floyd, entre outros. Com o dinheiro que ganhava ao domingo, comprava discos à segunda-feira para ter sempre novidades. Era um tempo engraçado, em que conseguia escolher a música e proporcionar momentos de alegria aos outros. Depois, comecei a frequentar a Rádio Vantagem; fiz algumas formações e, no meio das experiências que fui reunindo, já estava a comunicar com as pessoas, o que me fascinava; já nessa altura gostava de transmitir alguma coisa aos outros e de me sentir como parte integrante da comunidade.
A.P. - Estamos então a falar de um locutor e de um jornalista?
V.G. – Fiz algumas formações nesse sentido, mas o que mais gostava era mesmo a locução, de passar música e de comunicar com o público. A música sempre foi algo de que gostei muito e, os meus programas eram o reflexo do meu estado de espírito. Fazia também entrevistas. Trabalhei na Rádio Clube de São Brás e posso dizer que, este conjunto de experiências acabou também por me ligar às funções que desempenho hoje, passei a ser muito conhecido na terra, por me relacionar bem com as pessoas e por conhecer muitas das suas dificuldades. A rádio era muitas vezes um pretexto para conversar, pelo que tinha uma proximidade muito grande com as gentes da terra e não só, tinha ouvintes de outros locais. Penso que todas estas trocas de conhecimentos me permitiram conhecer mais os outros.
A.P. - Nessa altura já ambicionava ser autarca?
V. G. - Estava muito longe dessa realidade, como já referi, as coisas foram acontecendo aos poucos e de maneira muito natural, quase como que num encaixe de ideias e oportunidades. Através da rádio e da cobertura de diversos eventos, para além de me sentir mais próximo das pessoas, de ter um maior à vontade no contacto com as instituições, também estava muito próximo da vida autárquica, já que eram muitas as vezes em que fazia esse trabalho de articulação entre os eventos e a Câmara; na altura com o Presidente Pires. Fui dirigente da Associação Jovem Sambrasense, o que naturalmente me colocou próximo da vida associativa e da sua importância na comunidade. Enquanto dirigente, lembro-me de em muitas ocasiões estar na Câmara a pedir apoios para as mais variadas iniciativas, pelo que, este mundo da política acabou por surgir quase como que um resultado de todas essas vivências.
A.P. - E como era ser locutor de rádio nas ruas de S. Brás?
V.G. - Era espetacular! Eu adorava andar nas ruas e conversar com as pessoas que me iam dando o ‘feedback’ dos programas. Posso dizer que, foi a partir dessa altura que passei a sentir-me mais liberto e com uma maior capacidade de comunicar com os outros. Gostei muito desse tempo; é daquelas experiências que nos acompanham pela vida fora. Ainda há dias encontrei um diploma de uma formação em Rádio e Jornalismo que fiz nesse tempo em Faro e confesso que foi uma emoção muito positiva. Guardo essa fase da minha vida como algo de muito especial que tive oportunidade de experimentar e é bonito ser acarinhado pelas pessoas com aquilo que fazemos pelo que a rádio deu-me esse privilégio.
A.P. - Pode então dizer-se que, a rádio e o associativismo foram passos muito importantes para chegar à liderança da autarquia de S. Brás?
V.G. - Não só, mas também, é verdade que tem havido uma construção que me permite reunir um pouco de todas as minhas experiências, tal como considero importante o facto de ser natural daqui, de ter uma ideia formada para S. Brás de Alportel, bem como uma profunda necessidade de potenciar a riqueza deste concelho. É para mim importante atrair mais pessoas para a minha terra, incentivar a economia com o melhor que temos, essa ambição já é produto do amadurecimento, da experiência e do contacto com muitas realidades. Tudo o que fiz, foi o ponto de partida para aprofundar conhecimentos.
A.P. - Quando fala em conhecimentos, está a referir-se aos estudos e à licenciatura em psicologia?
V.G. - Também. É verdade que uma boa parte das experiências se adquirem no contacto com as pessoas e com as suas dificuldades, mas o facto de me preocupar muito com os outros e com o seu bem-estar, motivou-me para regressar aos estudos. A psicologia foi a minha área de eleição sobretudo porque gosto de pessoas, gosto de as analisar e de as ver felizes. Para já não exerço a profissão, mas foi uma escolha consciente; aquela que melhor se encaixa com a minha personalidade e interesses. Sou licenciado, mas não estou inscrito na Ordem, pelo que não posso exercer, ainda assim, considero uma ferramenta importante, pois acabo por lidar com muitas pessoas diariamente e por gostar dessa vertente; muito embora não disponha do tempo que gostaria. Enquanto autarca, faz-me bem sentir que faço algo para melhorar a qualidade de vida da população, e isso já é importante.
A.P. - E por falar em tempo, como consegue conciliar a vida familiar com a de autarca?
V.G. - Com muito esforço e organização. A família é tudo para mim; é nela que vou buscar forças, muito embora não consiga dispor do tempo que gostaria. Às vezes fico a pensar na ausência que os meus filhos sentem, pois a vida de autarca é muito exigente e, por norma é a família que regista mais essa falta. No pouco tempo que me resta, tento estar com os meus filhos, brincar com eles e fazer qualquer coisa que lhes permita sentir que estou ali só para eles naquele momento.
A.P. - Com uma companheira enfermeira e a trabalhar por turnos, como consegue dar a volta aos desencontros?
V. G. - Tentamos ao máximo aproveitar o tempo que estamos juntos, embora não seja muito, mas tentamos que seja de qualidade. Uma das coisas que faço é cuidar da cozinha; por norma, à hora do jantar, a família pode contar comigo. Faço algumas refeições e, não viro as costas à louça; estou (quase sempre) pronto para ajudar! Gosto de cozinhar e até faço umas deliciosas massas com os meus filhos. Umas vezes corre bem, outras nem tanto, mas é bom estarmos juntos e fazermos essa atividade em família. Apesar disso, há uma coisa que me custa; quando os meus filhos me perguntam ‘Pai, quando podemos sair todos juntos’? ou ‘é hoje que estás de folga’? É nesses momentos que penso que até gosto de andar de bicicleta pelos trilhos deste concelho, mas tento dar um pouco mais de atenção aos meus filhos no pouco tempo livre de que disponho. Eu praticamente não tenho hobbies, pois o meu tempo livre é passado com a família. Faço esta opção porque gosto e porque sei o quanto os meus filhos sentem diariamente a minha falta. Tenho uma menina com 11 anos e um menino com quatro, pelo que, todo o meu tempo é para eles.
A.P. - E há tempo para estar consigo mesmo?
V.G. - Esse é ou seria um dos meus hobbies! É algo de que sinto necessidade até para me organizar. Quando consigo, tento estar um pouco comigo mesmo e fazer algo de que gosto imenso: apreciar os outros e estudar os seus comportamentos. Não o posso fazer no dia-a-dia, mas por exemplo quando vou a Bruxelas em trabalho, e tenho algum tempo livre, dou por mim numa esplanada a observar as pessoas. Confesso que gostaria de fazer isto mais vezes, mas sempre que tenho oportunidade, não abdico. Talvez seja este o meu lado de psicólogo, apesar de não exercer. Faz-me bem ver a movimentação das pessoas, os seus gostos e formas de estar.
A.P. - E qual é a maior realização que um autarca pode sentir?
V.G. - Não podemos fazer tudo o que gostaríamos, mas penso que é importante sentirmos que podemos melhorar a qualidade de vida das pessoas nas funções que desempenhamos. Quando penso em S. Brás de Alportel, penso nas suas gentes e no seu potencial. Conseguir tornar isso maior para o concelho e para a população é um enorme e gratificante desafio. Penso que a vida autárquica só faz sentido se for pensada para os cidadãos e para a sua felicidade.
A.P. - Em quatro anos, o que mudou em S. Brás?
V.G. – É muito positivo ver que conseguimos cumprir o nosso projeto. Para isso temos que trabalhar com transparência e com verdade para dignificar a imagem dos políticos. Foi apresentado um programa há quatro anos; um programa realista. Se olhar para trás, fizemos muita coisa. Agarramos as oportunidades e conseguimos dar uma resposta pronta a situações complicadas. Depois tudo parece que tem um tempo certo; ou se faz ou perde-se uma oportunidade!Eu tento estar na política de forma transparente, mas acima de tudo, realista e verdadeira. Não tenho qualquer problema em dizer frontalmente que não posso quando isso não é uma prioridade. De forma alguma concebo que se diga que sim só para agradar, mesmo que se saiba que não é possível. Neste primeiro mandato, penso que cumprimos praticamente tudo aquilo que prometemos. A Circular Norte está concluída; ainda aproveitamos os Fundos Comunitários, conseguimos estender essa oportunidade à Rua Dr. António Alberto Sousa, que faz a ligação entre a piscina coberta e a zona escolar e o Largo de S. Sebastião.Mas as coisas podiam não ter corrido tão bem, no fundo, agarramos as oportunidades e batalhamos por estas obras e por mostrar a sua importância à CCDR.
A.P. - E para quando está prevista a conclusão das obras no Largo de S. Sebastião e qual o seu custo total?
V.G. - O prazo é 15 de maio e será inaugurado a 1 de Junho. Os trabalhos estão a correr muito bem. O custo da obra é de 300 mil euros, sendo que, 200 mil são suportados por apoios comunitários.
A.P. - E para os próximos quatro anos, quais são as linhas gerais do seu programa?
V.G. - Todo o tipo de intervenção que se faz em S. Brás de Alportel tem de ter em conta a acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. Qualquer um de nós pode ficar sem mobilidade de um dia para o outro. Isto é um imperativo. Para os próximos quatro anos, já enviei uma mensagem a toda a população, vou apresentar a minha candidatura num almoço na Fonte Férrea a ter lugar no dia 7 de maio. No próximo mandato, temos previsto requalificar a Avenida da Liberdade, já investimos em todas as entradas de S. Brás de Alportel, no Centro Histórico estamos a investir e, dar prioridade ao interior. Neste momento, estamos a pensar afinar aquilo que é necessário melhorar como é caso do parque escolar em que é preciso dar lugar às novas tecnologias, melhorar os espaços verdes e, acima de tudo, tornar S. Brás um concelho de excelência a nível de acessibilidades e do ambiente. É nossa prioridade melhorar o parque escolar também ao nível do desporto e equipamentos, nomeadamente parques infantis e outros equipamentos que são necessários. Para nós é também estruturante e, já temos a promessa do ministro, Pedro Marques, requalificar a Nacional 2, ligação de S. Brás a Faro e à Via do Infante, o que é fundamental. Já foi apresentada uma proposta do projeto, em que se espera requalificar a estrada já existente, sendo uma obra estruturante para o desenvolvimento económico de S. Brás de Alportel.
Em jeito de resumo, Vítor Guerreiro deixa uma mensagem “quem vem para esta profissão sem algum tipo de ligação à terra sem uma participação ativa, sem um conhecimento da população e das suas necessidades, seguramente que sofre uma grande desilusão”.
Para o autarca, “é uma grande satisfação poder ajudar as pessoas, poder dar o nosso contributo a quem mais precisa e de alguma forma, melhorar a qualidade de vida de todos quantos residem no nosso concelho. Só isso dá sentido à política, na minha opinião”.
Algarve Primeiro