De acordo com os resultados obtidos, são muitos os portugueses que se consideram pouco esclarecidos com a presente campanha eleitoral, isto apesar do acesso sem precedentes à informação. Uma perceção acompanhada pela convicção de que os candidatos e respetivos partidos demonstram claras dificuldades em comunicar os seus programas e ideias de forma objetiva à população.
Particularmente revelador é o facto de aproximadamente dois terços dos inquiridos considerarem que a comunicação feita pelos políticos não é particularmente transparente nem esclarecedora, crítica que não é, contudo, uniforme em todas as faixas etárias: quanto mais jovens são os eleitores, maior é o seu sentimento de "clarificação" sobre os temas políticos em debate. Jovens que também se mostram menos críticos quanto à capacidade dos políticos de transmitirem as suas ideias de forma clara e objetiva.
A transparência na tomada de decisões emerge como um ponto crítico de insatisfação. Um número significativo de portugueses, quase três quartos dos inquiridos (72,5%), considera que os decisores políticos não são particularmente objetivos nem transparentes na comunicação das suas decisões.
Segundo Rui Costa, Investigador da Spirituc-Investigação Aplicada, "Para além da sensação de alguma falta de transparência que os eleitores sentem por parte dos diferentes partidos políticos na sua comunicação com o eleitorado, este estudo vem revelar a aparente incapacidade que a generalidade dos partidos políticos (e respetivos candidatos) têm uma comunicação efetiva e esclarecedora daquilo que são os seus Programa Eleitorais, as suas ideias e medidas propostas para o País. É verdade que a literacia política dos eleitores é baixa e que tal contribuirá seguramente também para estes resultados. Isso é um problema. No entanto, importa questionar-nos se tal responsabilidade estará exclusivamente do lado dos eleitores ou se, efetivamente, os partidos políticos não poderão (e deverão) fazer mais e melhor no que concerne à forma como comunicam com o cidadão. O estudo abre essa janela de reflexão e indica-nos que, por parte dos partidos políticos, provavelmente existirá ainda um caminho a fazer neste particular".
No que diz respeito às fontes de informação, a televisão mantém uma posição dominante, com 85,9% dos portugueses a utilizarem-na para esclarecer dúvidas sobre a campanha. A rádio e os jornais completam o trio de meios mais consultados, ambos com taxas de utilização a rondar os 25%.
Um dado relevante é a crescente importância das redes sociais, sobretudo entre eleitores com menos de 34 anos. Nesta faixa etária, mais de 40% utilizam regularmente estas plataformas para se informarem sobre questões políticas, sinalizando uma transformação nos hábitos de consumo de informação que poderá ter implicações profundas no futuro.
Para Jorge Azevedo, Managing Partner da Guess What, "este inquérito comunicacional confirma que os diferentes partidos políticos têm hoje muita dificuldade em, no meio de todo o ruído e tempos mediáticos, descodificar a sua mensagem e esclarecer devidamente os eleitores. Para mais, fica claro que Geração Z procura a informação que lhes diz algo nos canais digitais e não tanto nos meios considerados tradicionais. Os partidos políticos que não se posicionarem de forma eficaz nas diferentes redes sociais, que não adaptaram a sua mensagem às características dos seus públicos-alvo, correm o risco de perder o comboio comunicacional e claro, votos."
E o que têm a dizer sobre os debates televisivos? De facto, estes continuam a ser um momento central das campanhas eleitorais portuguesas. Sete em cada dez inquiridos afirmam ter assistido aos debates realizados durante esta campanha, com 27,2% a garantirem ter acompanhado praticamente todos os confrontos televisivos entre candidatos.
Num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, apenas 22,6% dos inquiridos, ou seja, pouco mais de um quinto, a consideram bastante elucidados sobre as posições dos diferentes partidos parlamentares face aos desafios internacionais.
A recolha de informação decorreu entre os dias 25 de abril e o dia 13 de maio. Foram recolhidos 887 inquéritos em Portugal Continental, o que corresponde a uma margem de erro de ±3,29% para um intervalo de confiança de 95%.