Comportamentos

Liberte-se da culpa e assuma as suas verdadeiras responsabilidades!

 
Recorrendo à psicologia, «a culpa é um sofrimento que resulta da avaliação de um comportamento». O indivíduo sinaliza algo que ocorreu menos bem, reprova esse comportamento e sente-se culpado pela sua ação, resume a mesma ciência.

 
Em termos gerais, «a culpa é baseada na frustração daquilo que queríamos, mas que não aconteceu», quer isto dizer que, a culpa está diretamente ligada à violação daquilo que temos como valores, crenças e moral.
 
Importa ainda referir que, a culpa transforma-nos em «juízes de nós próprios , mas com uma dose de severidade» que, muitas vezes, é desproporcional.
 
Numa publicação da revista Zenklub, são apresentados vários tipos de culpa, desde as que resultam de atos inconscientes, passando por aqueles que acontecem sem querer.
 
É referido ainda que, a culpa inconsciente é aquela que acontece sem previsão, em que a pessoa não é capaz de antever os resultados das suas ações. Já a culpa consciente é aquela  em que o sujeito consegue prever o que pode ser o resultado, «mas ainda assim não aceita esse resultado».
 
A imprudência, como agir sem pensar e gerar consequências, e a negligência, que é a omissão antes de executar uma ação, são exemplos de tipos de culpas apontadas pela mesma publicação.
 
Relativamente à culpa e à responsabilidade, o Zenklub assinala que, um requisito importante de analisar quando falamos em culpa é a intenção. «Com esse minucioso reflexo dos nossos atos somos capazes de entender o que é de facto, a nossa responsabilidade e aquilo que é uma culpa sem sentido».
 
É ainda imperioso ter em conta que, quer a nível pessoal ou no plano profissional, há sempre situações em que tomamos consciência de uma situação e, outras que nos ultrapassam, pelo que devemos «ser mais tolerantes para connosco próprios quando fazemos essa nossa avaliação». Segundo os especialistas na matéria, o problema ocorre quando não conseguimos avaliar corretamente a situação e acabamos por assumir culpas que não são exatamente nossas «o que nos provoca um sofrimento desnecessário ou mais grave do que realmente deveria ser».
 
Os mesmos entendidos realçam que, assumir uma responsabilidade não é uma tarefa fácil, mas pode se tornar mais real «quando temos uma inteligência emocional e um autoconhecimento mais apurado». Neste sentido, somos capazes de nos conhecer melhor e entender o que realmente fizemos e qual a real intenção que estava por detrás dos nossos atos.
 
Citada pelo Zenklub, a psicóloga Lígia Gonçalves, clarifica que, “responsabilizar-se é apoderar-se do problema conscientemente. Parar de usar ferramentas de auto depreciação que não levam a nada, é conseguir apanhar a chave das correntes e algemas e abri-las. É aprender com os erros. Repensar, diminuir os danos e evitar repeti-los.”
 
Para a mesma especialista, o principal é entendermos que viver com responsabilidades assumidas e não com o peso da culpa, que nos faz sermos pessoas melhores, capazes de evoluir com empatia e resiliência para outras pessoas e novos atos.
 
Na realidade, sentir culpa não significa que nos estamos a desembaraçar de algo negativo, mas simplesmente alimenta uma angústia, um remorso e até uma ansiedade desproporcional que não nos ajuda a lidar com os sentimentos.
 
Segundo Lígia Gonçalves, “o sentimento de culpa, quando mal gerido, pode transformar-se em correntes e algemas que arrastamos presas aos nossos pés e mãos,  impedindo-nos de caminhar e atuar. Quando a culpa toma conta do nosso ser a ponto de dominar os nossos pensamentos, há um risco muito grande de que a nossa vida seja guiada por ela. Esse sentimento improdutivo e destruidor, suga as nossas energias, prende-nos ao passado e não nos deixa ir em frente.”.
 
Na mesma sequência, é preciso ter em conta que, grande parte desse sentimento de culpa é provocado por estigmas sociais com os quais convivemos e nos vemos obrigados a obedecer. Esclarecendo que, a culpa não resulta apenas de atos cruéis como ferir ou matar alguém, mas também da identidade, do sentimento de pertença e de organização de si próprio na sociedade em que está inserido., está especialista reforça que, a culpa pode resultar de um sentimento de medo da rejeição face a um grupo social a um género ou estilo de vida.
 
Muitas pessoas sentem-se culpadas só pelo facto de gostarem de alguém do mesmo sexo, outras culpabilizam-se por comerem demais, por gastarem muito dinheiro e daí por diante, especifica Lígia Gonçalves, acrescentando que, para esses casos a culpa fere, mesmo que de forma inconsciente e pode trazer diversos danos ao bem-estar emocional.
 
Perante a terrível pergunta “de quem é a culpa?”, devemos sempre pensar que podemos ou não ter culpa, podem ou não existir culpados. Neste ponto é importante ter em conta que, não faz sentido encontrar um culpado para uma situação já que isso não ajuda a resolver o problema. Cada um deve assumir as suas responsabilidades e ultrapassar, corrigir aquilo que correu menos bem. Quando percebemos que erramos, devemos procurar corrigir o erro, aprender com ele e apresentar uma resposta criativa para o problema, pois só dessa forma estaremos a evoluir e a libertar a culpa. Numa empresa, ou em qualquer grupo social, o relevante é que todos assumam as suas responsabilidades para que possam evoluir em conjunto e melhorar aquilo que precisa de ser corrigido.
 
Para a psicologia a culpa deve ser tratada como tantos outros sentimentos que podem ser trabalhados com a psicoterapia, isto porque, pode ser um obstáculo que atravessa diversas áreas nas nossas vidas e pode chegar ao limite de nos impedir de vivenciar as nossas atividades.
 
O psicólogo poderá tratar essa sensação compreendendo as suas causas e oferecendo uma visão mais ampla de como a pessoa pode desenvolver ferramentas próprias para lidar com isso. É ainda relevante considerar ter um ouvinte especializado, livre de julgamentos, para ajudar a encaixar as peças e fazer entender o que é de facto uma responsabilidade e o que é um erro a ser superado.
 
Em qualquer circunstância, será sempre a própria pessoa a ter de querer libertar-se desse peso que carrega sobre os ombros. Pode ir ao fundo de si para tentar compreender a razão dessa culpa ou pedir apoio. Seja qual for a opção, esta será sempre válida e merecedora de orgulho pessoal por se querer libertar de algo que não lhe pertence e que precisa de ser trabalhado.
 
Fátima Fernandes