Família

Ligamo-nos às pessoas que nos devolvem conteúdo

 
Muito se tem falado acerca das relações humanas, sempre numa perspetiva de melhorar a qualidade dos relacionamentos e de tentar compreender o que está na base das relações duradouras.

 
Sabemos que a química entre duas pessoas é importante para que o nosso cérebro desperte por alguém e se envolva de alguma forma, mas cada vez mais a ciência está convencida de que só esse aspeto não chega, isto porque cada pessoa se constitui pela dimensão física, emocional e intelectual.
 
Por essa razão, conseguimos facilmente agarrar num papel e numa caneta e listar as pessoas pelas quais nos sentimos atraídas fisicamente, aquelas com quem gostamos de conversar e pessoas por quem nos sentimos emocionalmente ligados.
 
Pode dizer-se que nos ligamos às pessoas que nos devolvem conteúdo porque, por muito que possa querer parecer o contrário, é sempre o nosso cérebro quem autoriza que nos libertemos face a um determinado estímulo. O amor é mental e só depois passa a reunir as diferentes componentes.
 
Ninguém vai para um encontro com alguém sem minimamente saber o que pretende do outro, pelo que existe uma libertação prévia desse desejo e dessa necessidade, seja pelo que nos falaram acerca da pessoa, seja porque se trata de um encontro marcado, seja porque a pessoa já nos despertou algum interesse, nem que seja através de uma imagem ou foto.
 
Passada esta fase, perguntamos como é que se mantém esse interesse e, é aí que entram as emoções que só evoluem quando há um conteúdo no outro que nos interesse e que nos faça sentir algo especial.
 
Uma simples história de vida, um episódio caricato que nos faça rir, enfim, são muitas as emoções que se podem explicar através de um primeiro encontro, mas que só ganham expressão quando as assumimos; quando dizemos a nós mesmos que gostamos daquela pessoa porque nos fez emocionar, porque nos fez rir, porque nos fez recordar algo e daí por diante.
 
Ultrapassada essa fase, já existe alguma ligação entre duas pessoas e, é nessa etapa que o nosso cérebro vai libertando uma maior descontração para poder ir incluindo o outro no seu pensamento. É importante termos em conta que tudo funciona a partir do cérebro e do pensamento que é mais ou menos autorizado em cada situação.
 
Não é por acaso que os namoricos da adolescência pecam pela falta de racionalidade, uma vez que o cérebro ainda não está preparado para assumir um compromisso, o que só vem a acontecer um pouco mais tarde, mas essa experiência é importante para o indivíduo se conhecer a si mesmo.
 
Na idade adulta, já temos todos os requisitos para “aceitar” ou “rejeitar” uma pessoa na nossa vida, sendo que o processo resulta sempre a partir das experiências e vivências anteriores, mas acima de tudo, é importante tomar consciência dos nossos atos, pensar, ponderar e deixar de acreditar que o amor é algo que nos surge no vazio. Na realidade gostamos de quem está disponível para nós e, se o primeiro impacto visual pode ser importante, muito mais será a conversa, a partilha e o conhecimento entre duas pessoas.
 
O alimento da relação ocorre a partir da qualidade do conteúdo que é partilhado. Uma pessoa que se feche em si mesma e que pouco fale de si, naturalmente terá mais dificuldade em ser interessante num primeiro encontro, o que não quer dizer que não se vá libertando à medida em que se sente mais segura e confiante nos encontros seguintes.
 
A qualidade do conteúdo é a “ousadia” de conseguir falar sobre si mesmo e sobre um ou outro ponto pessoal, isso é fundamental para que a relação evolua. Dificilmente nos atraímos por alguém que não conhecemos, pelo que vamos exigir que a pessoa se liberte em função daquilo que lhe vamos dando também.
 
Não é preciso ler uma enciclopédia para ter conteúdos interessantes num encontro amoroso, ficou claro que o essencial é falar de si, mostrar-se e estar interessado nesse encontro e na pessoa, o resto vai surgindo através da conversa descontraída e daquilo que se consegue acrescentar encontro após encontro. Boa sorte!
 
Fátima Fernandes