Foi inaugurado ontem o Núcleo Museológico de Arte Sacra da Misericórdia de Loulé.
Considerando que durante anos a Igreja da Misericórdia serviu como local para velórios e que, com o passar dos anos, este espaço foi-se degradando, através de uma parceria entre a Santa Casa e a Câmara Municipal de Loulé a Igreja foi alvo de obras de reabilitação e restauro, estando neste momento ainda a decorrer trabalhos pontuais ao nível do altar-mor e altares laterais.
O Núcleo agora inaugurado integra o conjunto de bens culturais, importantes para a história da arte religiosa do concelho de Loulé, datados desde o século XVI ao século XX, do qual a Misericórdia é possuidora. Este acervo integra obras de pintura, escultura, ourivesaria, paramentaria, objetos processionais, entre outros.
Entre estes destaca-se, na pintura, as pinturas quinhentistas e seiscentistas que retratam tanto a Pietá como a Crucificação; na escultura, a imagem de Nossa Senhora criada em alabastro e que já esteve em várias exposições, e o Menino Jesus em marfim, com origem indo-portuguesa.
No que diz respeito à ourivesaria, fazem parte deste acervo o Cálice Custódia, o Cofre do Santíssimo Sacramento (onde era guardado o Santíssimo Sacramento na Quinta-Feira Santa e era apenas colocado novamente no altar nas primeiras celebrações da Páscoa), a chave do sacrário e a coroa da Nossa Senhora.
Já na sacristia, a exposição remete para duas temáticas: a história da Santa Casa da Misericórdia de Loulé e o Hospital da Misericórdia. Aqui é possível ver o espólio que mostra por exemplo a ligação da Misericórdia ao Carnaval, durante anos uma das suas principais fontes de receita, ou a importância que o Hospital teve para o Concelho e para a região já que, com os melhoramentos no início do século XX, tornou-se pioneiro em muitos tratamentos realizados no Algarve.
O vereador da Cultura da Autarquia louletana, Joaquim Guerreiro, falou da importância deste Núcleo Museológico que passará a estar disponível para todo o público “numa perspetiva cultural e turística” e, nesse sentido, referiu que só aos sábados, ao nível de excursões organizadas, a cidade de Loulé é visitada anualmente por mais de 40 mil pessoas o que dá uma média de 700 visitantes por sábado. “Loulé precisa de ter apontamentos culturais de modo a que as pessoas criem uma boa perspetiva da cidade e que levem daqui uma informação mais correta daquilo que é a nossa História”, considerou este responsável.
Joaquim Guerreiro falou ainda do trabalho encetado pela edilidade ao longo dos anos em matéria de arte sacra e do património das igrejas, que teve por objetivo preservar, divulgar e mostrar ao público o rico património que o Concelho tem. “Nesse sentido, a partir de 2007, a Câmara juntamente com a Diocese de Faro, as paróquias do Concelho e a Santa Casa da Misericórdia, montou uma ação através da qual foram restauradas e recuperadas cerca de 84 peças que estão nas igrejas e na Santa Casa. Houve aqui um investimento da parte da Autarquia no sentido de recuperar o património”, sublinhou.
Por seu turno o presidente da Autarquia, Seruca Emídio, falou da importância da “política cultural do Município implementada há uns anos atrás” que permitiu, por exemplo, restaurar a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, ou adquirir alguns edifícios patrimoniais.
Quanto a este Núcleo, o autarca referiu a sua importância enquanto legado para a apopulação. No contexto regional, falou ainda da “aptidão natural” da cidade de Loulé para as áreas cultural, patrimonial ou científica, pela sua localização central e proximidade do Aeroporto de Faro.
Já Filipe Semião, presidente da Santa Casa da Misericórdia de Loulé, manifestou a “imensa satisfação desta parceria com a Câmara que permitirá pôr à disposição da comunidade e especialmente dos visitantes e dos turistas este património, constituindo um contributo para que Loulé continue a ser uma cidade visitada por muita gente”.
Refira-se que a Igreja da Misericórdia de Loulé, também conhecida por Igreja de Nossa Senhora dos Pobres, é um espaço religioso-cultural de destaque, não só devido aos elementos arquitetónicos e decorativos existentes, mas também por ser um espaço emblemático da sociedade louletana desde o século XVI.
Algarve Primeiro