Sociedade

Mário Ruivo lança repto para reativar Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar em mais um aniversário da Ualg

A Universidade do Algarve atribuiu o título de doutor honoris causa ao professor Mário Ruivo, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e investigador pioneiro na defesa dos oceanos, na cerimónia do 37º aniversário da UAlg, que decorreu ontem.

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O novo doutor defendeu que é de prever que Portugal se venha a afirmar como um dos maiores territórios marítimos do Mundo, mas em dia de homenagem deixou o repto ao Ministério do Mar “de assumir o papel que lhe cabe neste processo, reativando a Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar como primus inter pares”.
 
Mário Ruivo, que foi apadrinhado por João Guerreiro, ex-reitor da UAlg, brindou o Grande Auditório do Campus de Gambelas, com cerca de 400 pessoas, com uma verdadeira evocação ao Mar / Oceano. “Tantas designações para um espaço tão misterioso e hostil ao bicho Homem e que, desde sempre, tanta curiosidade, inconsciente e conscientemente, despertou ao longo de séculos e séculos”, mencionou o homenageado. 
 
No seu entender “caminhamos para uma era de grandes responsabilidades na gestão sustentável do Oceano com base científica, nacional, regional e global. É de prever que Portugal se venha a afirmar como um dos maiores territórios marítimos do Mundo, nomeadamente mediante o processo de extensão da plataforma continental portuguesa constituindo uma oportunidade e um desafio a longo prazo”. 
 
Mário Ruivo alerta para “o agravamento do desfasamento entre este estado de coisas e o imperativo de assegurar bases científicas sólidas para a realização dos potenciais dos espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacional”.
 
Mas, para o novo doutor, o potencial não chega. “Há que haver capacidade intrínseca para encarar as necessidades”, interpela. “Torna-se imperioso um verdadeiro incentivo à formação de recursos humanos e à atribuição de condições que garantam a continuidade da investigação com a duração necessária, para que possamos, de facto, afirmar-nos como grande potência marítima mundial. 
 
Porque não chega afirmar continuamente que temos “potenciais”, argumenta Mário Ruivo. Na sua opinião, “há que concretizar mediante vontade política, com o apoio social requerido, e tal objetivo não se concretiza sem quadros qualificados.” O homenageado reconhece que “a Universidade do Algarve tem estado particularmente ativa na reflexão e mobilização da comunidade científica do mar, tem contribuído para uma análise factual da situação e delineado elementos para uma estratégia que responda aos requisitos”.
 
Em jeito de conclusão, deixa um recado: “parece-nos pois relevante ser tempo de reativar a Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar (CIAM) de forma a facilitar uma ação concertada respeitante à estratégia e mobilização dos recursos necessários para a investigação e governação dos espaços marítimos nacionais, integrando, efetiva e finalmente, a comunidade científica e tecnológica como parceiro na decisão política.”
 
Reitor fala de «dificuldades, conquistas e desafios» em dia da Universidade do Algarve
 
António Branco referiu em jeito de balanço que “a dificuldade mais assinalável do ano de 2016 relacionou-se com a execução orçamental”. O responsável máximo da Academia Algarvia centrou o seu discurso em três termos fundamentais: «dificuldades, conquistas e desafios», sendo que com os dois primeiros, «dificuldades e conquistas», se referiu a 2016, remetendo «os desafios» para 2017.
 
“De facto, no início do ano as nossas estimativas eram muito preocupantes, prevendo-se, do ponto de vista orçamental, uma despesa superior à receita em quase 4 milhões de euros. Perante este cenário, foram identificadas medidas extraordinárias que contribuíssem para mitigar o grande défice estimado no início de 2016. António Branco assumiu “a natureza muito severa de algumas dessas ações”. Contudo, garantiu que a UAlg terminará o ano numa situação muito diferente da inicialmente prevista. “Graças a um imenso esforço coletivo, a níveis de contenção e sacrifício anormalmente elevados e à melhoria de alguns dos indicadores de receita, conquistámos essa montanha, só tendo sido necessário requisitar 700 mil euros do fundo de coesão interuniversitário”.
 
Se o défice de estrutura praticamente residual (cerca de 1,8%) for entendido como uma primeira conquista, António Branco elencou como a segunda dificuldade conquistada, tendo em conta a conjugação de uma grande complexidade de fatores, o facto de no presente ano letivo, pela primeira vez desde 2010, aumentar o total de estudantes de formação inicial da Universidade do Algarve. Mas o significado mais gratificante dessa progressão positiva está no sucesso do recrutamento internacional. Entre 2015 e 2016, a UAlg conseguiu quadruplicar o total de estudantes internacionais inscritos numa licenciatura a tempo inteiro, passando de cerca de 50 para mais de 200. Refira-se ainda que a manter este fluxo de novos estudantes, daqui a dois ou três anos a UAlg poderá ter a estudar a tempo inteiro mais de 600 estudantes internacionais, a que acrescem todos os outros que chegam à Academia através de programas de mobilidade.
 
Das várias conquistas do ano de 2016, António Branco salientou ainda a criação do Centro Académico de Formação e Investigação Biomédica do Algarve, em colaboração com o Centro Hospitalar do Algarve, e a recente inauguração do nó nacional do Laboratório Europeu de Recursos Biológicos Marinhos, liderado, em Portugal, pelo Centro de Ciências do Mar da UAlg, e que reúne instituições de investigação de nove países europeus.
 
Na última cerimónia em que participou como presidente do Conselho Geral deste mandato, Luís Magalhães não quis deixar de referir-se ao momento que a Academia atravessa, “desde os cortes da austeridade, um período de grande estrangulamento orçamental, porque foram cortes cegos que deixaram as dotações abaixo das necessidades efetivas”. O presidente do Conselho Geral considerou ainda que também “a dimensão e a natureza não central da Universidade do Algarve fazem com que seja permanentemente necessário que se adiante em relação a outras universidades, aproveitando a flexibilidade que a dimensão lhe permite, em aproveitar novas oportunidades formativas, modernas, multidisciplinares, com novos métodos e ambientes de aprendizagem, e ligadas à sociedade envolvente, tanto em objetivos como de atividades dos estudantes a creditar curricularmente”.
 
A cerimónia contou ainda com as intervenções da representante dos funcionários não docentes, Valentina Purificação, do presidente da Associação Académica, Rodrigo Teixeira, terminando com a intervenção do representante dos docentes, Pedro Castelo Branco.
 
Durante a cerimónia foram ainda entregues as medalhas da Universidade aos funcionários que completam 25 anos de serviço, os diplomas aos novos doutores e, com o apoio da Caixa Geral de Depósitos, foi também atribuído o Prémio Universidade do Algarve aos diplomados com mérito no ano letivo de 2014/2015.
 
Algarve Primeiro