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Maioria dos pais defende medidas que limitem o uso do telemóvel e redes sociais

Foto - Depositphotos  
A proibição do uso de telemóveis nas escolas para os alunos até ao 6º ano, abriu o debate em torno da literacia digital.

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Um recente estudo realizado pela SaveFamily, empresa provedora de relógios inteligentes direcionados a crianças, revela que, 61,4% dos pais e encarregados de educação defendem a necessidade de implementar medidas mais efetivas na educação para que a literacia digital e o uso da tecnologia por parte dos mais novos seja cada vez mais positiva.

Além da restrição do uso de telemóveis em recinto escolar, defendida por 68,2% dos inquiridos, a proibição do uso de redes sociais por parte dos menores (65,6%), assim como a limitação por idades do uso de telemóveis (56,4%), ilustram a preocupação dos adultos portugueses relativamente aos comportamentos digitais dos filhos.

A estas medidas juntam-se ainda a necessidade de maior controlo parental no acesso à internet (78%) e uma estratégia de definição de tempo limite de uso diário (69,6%), avança o estudo enviado àao Algarve Primeiro.

O trabalho resume que, estas medidas podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias conjuntas entre os encarregados de educação e as escolas para o aumento da literacia digital por parte dos mais novos. É ainda importante ensinar comportamentos e atitudes online para que os pequenos cresçam com maior consciência do impacto e dos benefícios que a tecnologia pode ter para o seu desenvolvimento e o dia-a-dia.

Contudo, importa ainda referir que definir formas de lidar com determinadas situações que possam colocar em causa o bem-estar físico e mental dos mais novos são também importantes. Com 34% dos pais a revelar preocupação de que os mais novos possam falar com estranhos, que sejam alvos de cyberbullying (33%) ou que acedam a conteúdos pornográficos (14%), não apenas é importante educar para melhores comportamentos online, como também encontrar estratégias e alternativas para os manter seguros.

“Somos totalmente conscientes das preocupações dos pais com os seus filhos seja no mundo físico, seja no mundo digital. «Na SaveFamily temos uma preocupação constante com a literacia digital, e por isso colaboramos com as famílias, as crianças e as escolas não apenas para desenvolver produtos que se adaptem a eles, mas também soluções práticas de fácil implementação que garantam a segurança dos pequenos”, refere Jorge Álvarez, CEO da SaveFamily. “Entre essas práticas encontramos a necessidade de ensinar os mais novos a detetar perigos online, a não conversarem com estranhos, a não clicar em links que desconhecem e, até, a não passar muito tempo online, para que não fiquem desconectados do mundo real. Ao mesmo tempo, defendemos que os pais sejam totalmente pró-ativos em verificar o comportamento que os menores têm no  uso da tecnologia e a ensinar a usá-la de forma mais saudável. A tecnologia não tem porquê ser uma má aliada dos mais novos, mas deve ser utilizada de acordo com a idade de cada um”, conclui.

O estudo da SaveFamily revela ainda que mais de 30% dos pais conhece a existência de alternativas ao uso do telemóvel, como são os relógios inteligentes, e que recorrem muitas vezes a estes, uma vez que são uma ferramenta fácil de usar, simples, e adaptada à idade e necessidades dos mais novos, mantendo-os localizáveis, com sistemas de localização por GPS, seguros, com botões de SOS, e até entretidos, com mensagens por Whatsapp, jogos e música através da Spotify, mas sempre com o controlo remoto dos pais e encarregados de educação.

Ainda relativamente à preocupação dos pais cabe recordar que, um estudo da Health Behaviour in School-aged Children (HBSC/OMS), feito em colaboração com a Organização Mundial de Saúde, desde 2018 que baixou a satisfação com a vida nos jovens de 11, 13 e 15 anos, assim como a perceção de felicidade.

Os adolescentes portugueses estão mais infelizes e são agora mais os que se sentem irritados, nervosos ou tristes diariamente, segundo o Estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC/OMS), feito em colaboração com a Organização Mundial de Saúde, o que leva os especialistas a pedirem mais respostas em saúde mental.

O gosto pela escola também diminuiu, em relação aos dados de 2018, nos alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos, que continuam a achar a matéria demasiado aborrecida e difícil.

Tânia Gaspar, coordenadora do estudo, sublinha a necessidade de a escola "se atualizar e conseguir acompanhar os jovens no seu modo de contacto com o conhecimento".

"É fundamental haver uma melhor articulação entre a escola e os serviços de saúde para, de um modo geral, trabalhar ao nível da prevenção, e naqueles jovens que efetivamente precisam de apoio mais especifico, dar uma resposta rápida", considera.

Os resultados indicam que, em comparação com o último ano estudado em Portugal (2018), baixou a satisfação com a vida (passou de um valor médio de 7,68 para 7,50) nos jovens de 11, 13 e 15 anos, assim como a perceção de felicidade. Mais de um em cada quatro (27,2%) adolescentes em idade escolar disseram sentir-se infelizes (18,3% em 2018).

"Nestas idades, o impacto que tem no desenvolvimento ainda é maior. É como se eles estivessem sempre a crescer e, se se estão a desenvolver com estas dificuldades, isto vai ter um efeito ´bola de neve´ e vai acabar por afetar as suas oportunidades. O quanto antes é importante dar uma resposta", explicou Tânia Gaspar, em declarações à agência Lusa.

Segundo os dados recolhidos, os sintomas físicos e psicológicos também aumentaram: 12,2% dos estudantes disseram ter dores nas costas quase todos os dias (8,6% em 2018) e 8% têm dores de cabeça quase diariamente.

Quanto aos sintomas psicológicos, 21% (13,6% em 2018) disseram sentir nervosismo quase todos os dias, 15,8% mau humor ou irritação quase todos os dias, 11,6% tristeza quase diariamente e 9,1% medo.

A especialista destacou o "agravamento global ao nível da saúde e do bem estar", sublinhando que "aumentou o número de jovens que, além de doença crónica, têm doença relacionada com o foro psicológico".

"Existe sempre um grupo de jovens, embora seja uma minoria, em que o impacto foi maior. (...) Poderá ter que ver com uma situação prévia, podiam já ter alguma fragilidade (...). E esses jovens precisarão de um apoio mais específico, nomeadamente através da psicologia, não só no contexto escolar, mas depois no contexto de saúde", alertou.

O estudo revela ainda que, a dificuldade de contactos sociais imposta pela pandemia levou os jovens a perderem capacidades socioemocionais, uma situação espelhada no aumento das situações de conflito, como as lutas, assim como da tristeza, insegurança e medo.

Segundo Tânia Gaspar, "como os jovens acabaram por estar muito isolados, por estar menos na relação uns com os outros, não tiveram tanta oportunidade de desenvolver essas competências".

"Muitas vezes, eles sentem-se inadequados e não sabem reagir", explicou a coordenadora desta investigação.

"Quando têm uma situação de conflito na escola, têm menos capacidade de parar, analisar a situação e resolvê-la com tranquilidade", explicou a responsável, acrescentando: "Estes jovens entraram na pandemia, muitos deles, com 12 anos e saíram com 14, ou entraram com 14 e saíram com 16"."São alturas do desenvolvimento muito importantes, em que eles deveriam ter estado de uma forma progressiva em contacto com as novas realidades (...) e a ganhar progressivamente a sua autonomia", insistiu.