Manuel Neto dos Santos foi convidado pelo Algarve Primeiro, a falar sobre o seu trabalho, percurso e, acima de tudo, sobre a sua obra poética.
“Confesso que quem fala melhor de mim são os poemas. ‘Poetar’ é a minha forma de ultrapassar a timidez.” É deste modo que se apresenta o autor natural de Alcantarilha (Silves) nascido a 21 de Janeiro de 1959.
Manuel Neto dos Santos fez uma brevíssima passagem pelo ensino superior, em filosofia” e, segundo Fernando Cabrita, é autor de “vastíssima e multifacetada obra poética, grande parte dela ainda inédita.”
Tem 16 obras já editadas, sendo de realçar a sua essência telúrica que nos remete “para marcada ascendência arábico-andalusa, espelhando claros sensualismo, ritmo e luminosidade.”
A riqueza de todo um léxico onírico, na frescura de uma voz tão livre, única, quanto universal. “
É hoje uma presença maior da poesia portuguesa que se produz no Sul do país (...) É exatamente isso que encontro na sua poesia: uma luminosa e universal presença que toda a poesia encerra.
A força e a ternura, e todo o mistério que ele bebe em todo o tracto de território que o cerca.
Em cada visão da paisagem derredor. A luz, a cor, os frutos, a lua, o cheiro da terra, todas essas coisas que ele nomeia superiormente e num rigoroso exercício da lingual mátria” (sobre Claves do Sol e da Lua), Fernando Cabrita, in “Que dizem os poetas e algarvios e andaluzes de agora?”, Viprensa, Outubro 2015.
Manuel Neto dos Santos, é poeta, ator, declamador e tutor de língua portuguesa.
Tem feito chegar o nome do Algarve além fronteiras a partir das muitas participações internacionais e traduções que tem levado a cabo.
"Um poeta inteiro numa poética maior, metafísico-existencial. O lirismo, todo ele difuso, espelhando emoção e sentimento, percebe-se na sua já vasta obra, onde a vertente intuitiva consegue apreender algo das efémeras e superficiais vivências de carácter comocional, de tonalidade afectiva intensa, onde a ruptura do impressionável se conjuga com a do intuitivo.
Na sua obra, o autor revela a sua tendência para se situar fora de qualquer temporalidade em clara ligação com as profundezas "viscerais da terra e dos seus entes, com os insondáveis mistérios da vida, novos, inquietos, subversivos".
José Varela Pires, in "Ídola", Hugin editores, 2002
A sua intensa actividade cultural remonta aos anos de adolescência culminando com o seu reconhecimento público na atribuição de uma nomeação para o Prémio Primus Inter Pares (Artes e Letras) ao lado de Lídia Jorge e Casimiro de Brito, 98/99.
No plano geral da sua obra, a cor é celebrada através dos versos, das imagens vivas, numa ascensão do homem para o transcendente. O sujeito lírico na sua reflexão e auto-análise. O léxico da sua poesia é erudito, rigoroso, no seu intimismo natural.
A sua estrutura poemática assenta na rima rica, a que um certo parnasianismo, e a atmosfera barroca do verso alexandrino conferem a dinâmica vocal, secundada pelo visualismo das figuras de estilo, visando a pura locução.
Foi em 1988 que surgiu a sua primeira obra "O Fogo, a Luz e a Voz", editada pela Associação de poetas do Alentejo e Algarve e, desde então Manuel Neto dos Santos tem percorrido um caminho ascendente na sua carreira.
De destacar também a sua atividade como produtor e apresentador de programas radiofónicos de teor literário, bem como a representação da poesia algarvia no estrangeiro.
Em resumo, deixamos uma mostra do seu vasto trabalho:
1989
Ano das comemorações da tomada da cidade de Silves aos mouros. A Edilidade Silvense edita "Atalaia" , na qual o poeta se coloca na pele de Al´Mutamid, descrevendo a vida e obra.
Livro de sonetos que vem solidificar e atestar o seu fulgor poético.
1991
A sua obra "Trovas de um Homem da Terra". Actividade como produtor e apresentador de programas radiofónicos de teor literário.
1992
É publicada a sua quarta obra, "No País de Amália" , editora Tribuna do Algarve.
Início de recolhas a fim de preparar a biografia de João de Deus.
Manuel Neto dos Santos representou a poesia algarvia em Estrasburgo e Colmar, na semana cultural do Algarve na Alsácia.
Posfácio de "Raíz de Lado Nenhum", de José Mendes Bota, com prefácio de Natália Correia.
1994
Início de recolhas e leituras visando a elaboração da obra "Subsídios para a História da Literatura Algarvia".
Inúmeras entrevistas de norte a sul do país.
1996
A Câmara Municipal de Silves promoveu oficialmente a sua Biografia aquando da celebração do aniversário do nascimento do poeta e pedagogo João de Deus com o título: "De Deus a Algazarra de Silêncios".
A Câmara Municipal de Albufeira edita "Idílios de Al-Buhera", com prefácio de Avelino de Sousa.
1997
Intensa actividade como ator do Grupo de Teatro Penedo Grande, de São Bartolomeu de Messines que, no papel de Telmo Pais (Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett) o levou até ao Teatro da Trindade, recebendo rasgados elogios da crítica da capital.
Realiza e apresenta na Rádio Racal "Lendas das Moiras Encantadas".
Dá palestras pelo Algarve sobre a vida e obra de João de Deus.
1998
No programa radiofónico "Roteiros", a sua poesia inédita é diariamente divulgada.
Promove em Silves, pela terceira vez, com o poeta inglês Peter Pegnall, o encontro entre poetas vindos de Inglaterra e portugueses.
Participa, desempenhando diversos papéis, na peça de teatro da autoria de Teodomiro Neto "O Processo do Guerrilheiro", sobre a vida do Remexido, José Joaquim de Sousa Reis.
Nomeado para o prémio Primus Inter Pares, ao lado de Lídia Jorge e Casimiro de Brito.
1999
Lançamento da sétima obra (sexta poética) "Timbres" , edição comunical, cadernos de poesiAlgarve iniciados com um livro de Fernando Cabrita.
Itinerância de "O Processo do Guerrilheiro". Participa na série da BBC "Sun Burn".
2001
Prefacia a obra de estreia do imérito poeta Miguel Afonso "Raiz perturbada ou a navegação do amor", com um texto de análise estético-literária.
A 10 de Junho é lançada a obra antológica "Subsídios para a História da Poesia do Algarve", edição tribuna do Algarve, resultante de um vasto levantamento literário ao longo de seis anos, compilação remontando ao período da presença árabe no Algarve.
Gravação do CD, "Umabel ou o Anjo da Ilha Azul"- poemas extraídos da obra homónima e patrocinada pelo Ministério da Cultura do Algarve e da Faialentejo (cidade da Horta). Lançamento na Ilha do Faial, dado a obra ter sido lá escrita.
Acessoria o Prof.Dr Herbert Sauren no texto "A escrita Ibérica".
A convite do Prof.Dr.Adel Sidarus traduz do espanhol, a obra poética de Ibn ´Ammar , poeta árabe do século XI.
Participação na peça de Fonseca Lobo "O pecado de Sofia".
Conclusão da obra inédita de poesia "Aedo"
2002
Lançamento da sua obra " Ìdola ".
2003
Fevereiro, palestra na universidade de Lovaina, Bélgica, sobre a influência da língua árabe no Português e o antropomorfismo islâmico no lirismo de autores algarvios.
2004
8 de Março, é lançada a sua obra "Versos de Redobre" - em memória do Poeta João de Deus, apresentada pelo seu bisneto, o prof. Dr. António Ponces de Carvalho.
Presentemente, Manuel Neto dos Santos está a divulgar a sua obra poética em bibliotecas do Algarve, onde se assume também como declamador.
Terá lugar no próximo mês de Dezembro o lançamento oficial de "Aurora Boreal ao Sul" que acontecerá em Messines.
O evento terá lugar na Casa Museu João de Deus, no dia 19 de Dezembro pelas 16 horas, uma edição da Arandis Editora e contará com a presença do autor.