Sociedade

Marés vivas no Algarve poderão ser sinal de reflexão?

No último fim de semana as redes sociais mostraram muitas fotos de um fenómeno habitual nesta altura do ano, com Ferragudo, Portimão e Tavira a serem fotografados com o avanço das águas sobre as zonas ribeirinhas.

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Apesar de ser um fenómeno esperado, nunca é demais relembrar as palavras de António Gueterres sobre as alterações climáticas, em que o aumento do nível do mar, as ondas de calor e o aumento do dióxido de carbono vai afetar a vida de muitos milhões de pessoas.
 
Recorde-se que o secretário-geral das Nações Unidas, alertou para os “aumentos recordes” das temperaturas, do nível das águas do mar e das concentrações de gases de efeito estufa.
 
Referindo-se às principais conclusões do mais recente relatório da Organização Meteorológica Mundial, OMM, o secretário-geral enfatizou ainda “que os impactos na saúde pública estão a aumentar.”
 
Guterres considera ser “imperativo” que se enfrentem estes problemas “com maior ambição”.
 
Refira-se que o último relatório da ONU, alerta para "eventos extremos", em que à entrada do século XXII o nível do mar poderá subir vários centímetros por ano.
 
A este propósito o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas no sul do país, iniciativa promovida pela Comunidade Intermunicipal do Algarve, foi dado a conhecer em junho, na presença da Ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.
 
O plano liderado pelo consórcio Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é também composto pela UAlg – Universidade do Algarve e pela Bentley Systems, juntando académicos, representantes de entidades públicas e privadas, organizações ambientais, bem como associações locais e regionais, que analisaram as principais vulnerabilidades climáticas que o Algarve enfrenta, nos vários setores da economia e da sociedade, com vista à definição de medidas para o futuro.
 
O processo começou em 2016, quando o presidente da AMAL e os 16 municípios algarvios, pediu um trabalho científico acerca da necessidade de adaptação às alterações climáticas.
 
Na altura da apresentação dos resultados Jorge Botelho referiu ao Algarve Primeiro que «foi importante termos conseguido ver à distância, esta problemática; a necessidade do Algarve se adaptar às alterações climáticas para que se pudesse começar a trabalhar nos vários setores e qual o investimento que tem de ser feito para o levar a cabo».
 
O presidente da AMAL evidenciou que, «à primeira vista, a água surge-nos logo como uma necessidade que nos leva para temas como a  desertificação do território, para os ciclos da chuva e, como é que se alimenta todo o setor turístico e agrícola que está estabelecido».
 
Como segunda nota, «temos as consequências que isso tem para as pessoas, para a agricultura, para a floresta e para a vida diária e, como é que isso tem impacto na sua saúde também».
 
Numa terceira nota e, não menos importante, «temos o alinhamento da costa, isto é, quais são as implicações concretas do mar e destas alterações climáticas em relação a tudo aquilo que é a linha da costa». Jorge Botelho salientou que esse estudo passou por diversas cidades algarvias que se situam perto do mar dando os exemplos de Olhão, Tavira, Quarteira, Vila Real de Santo António, Faro, entre outras nas mesmas condições geográficas.
 
O estudo científico prevê que, num horizonte de 80 anos, se nada acontecer até 2100, «se nós não começarmos já a fazer alguma coisa, sabemos qual será o desfecho das condições que foram assinaladas por esse trabalho de investigação».
 
O mesmo responsável adiantou que, com este parecer científico, o Algarve está mais preparado para fazer pressão junto do Governo e da União Europeia, com vista a trabalhar no sentido de adaptação às alterações climáticas por forma a preservar aquilo que se pretende na região.
 
Jorge Botelho sustentou ainda que, «neste momento temos de olhar setorialmente para 10 pontos, estamos alinhados com a preocupação do Governo e das novas prioridades para os próximos dez anos da estratégia europeia 20/30 das Alterações Climáticas e devo dizer que, somos a região mais avançada nessa matéria».
 
O presidente da AMAL recordou que, «estamos a falar de investimentos de milhões, sendo que as várias estratégias, não vão levar só dez anos, vão levar décadas, por isso, temos de envolver toda a comunidade e, começar já!».
 
O estudo levado a cabo sobre o Algarve, mostra que a região vai ser uma das regiões «muitíssimo» mais afetadas devido à sua localização no Sul do país e, aquilo que também resulta do plano, é que há uma expansão resultante do Norte de África para cima e neste sentido, é de esperar cada vez mais ciclos de fenómenos extremos.
 
Jorge Botelho não tem dúvidas de que os jovens de hoje têm uma consciência ambiental «muito profunda», defendendo a ideia de que há que preparar «aqueles que vão ser os políticos do futuro, porque as questões ambientais cabem a todos, não são da responsabilidade de ‘A’ ou de ‘B’, cada um de nós tem o seu papel e a sua responsabilidade».