Integrando um projeto da Rede de Museus do Algarve (RMA), está em itinerância pela região a exposição “Pioneiros do Conhecimento Cientifico no Algarve”. O Museu Municipal de Arqueologia de Silves irá acolher esta exposição a partir do próximo dia 6 de junho.
Produzida conjuntamente por instituições pertencentes à Rede de Museus do Algarve, esta mostra aborda não só 11 figuras que, desde os finais do século XVIII até ao século XX, deixaram legados relevantes para o conhecimento científico sobre o Algarve e procuraram esclarecer e fundamentar os contornos da identidade do país, através do estudo da paisagem social, cultural e popular da região, mas também as representações do Algarve nos discursos da etnografia, arqueologia e história local, nos séc. XIX e XX.
José Leite Vasconcelos, Estácio da Veiga, Santos Rocha, José Formosinho, Pe. Nunes da Glória, Ataíde de Oliveira e João Grade Cabrita Santos (Museus de Portimão, Albufeira, Silves, Loulé e Município de Lagoa), Sande Vasconcelos e Estácio da Veiga (Museu de Tavira) e Pe. Manuel Madeira Clemente (Município de Vila do Bispo), são as personalidades retratadas nesta exposição.
Ataíde de Oliveira é a figura de destaque natural de Algoz, concelho de Silves. Originário de uma família de pequenos proprietários agrícolas, formou-se em Direito e em Teologia.
Teve um papel fundamental no desenvolvimento da comunicação social e da investigação histórica e etnográfica da região algarvia, tendo fundado o primeiro jornal de Loulé “O Algarvio”, em 1889.
Redigiu um conjunto de monografias importantes para a construção da história regional, tendo sido pioneiro na recolha e edição de lendas, romances e canções algarvias, entre as quais “As Mouras Encantadas e os Encantos do Algarve”, património imaterial que testemunha o cruzamento entre as culturas árabe e portuguesa.
A autarquia de Silves relembra que a Rede de Museus do Algarve é uma estrutura informal constituída por museus integrados na Rede Portuguesa de Museus, museus municipais e entidades museológicas do Estado Português e privadas, tendo em vista a cooperação e parceria entre instituições museológicas.
Informação resumo sobre os 11 pioneiros:
Silves e Loulé – Ataíde Oliveira (1842-1915) – Foi o primeiro monografista algarvio, deixando registos de tradições, lendas, episódios históricos, achados arqueológicos que de outra forma se poderiam ter perdido. Entre 1905 e 1914, publicou onze monografias de outras tantas freguesias do Algarve.
Portimão – Padre Nunes da Glória (1842-1916) – artista e arqueólogo, grande colaborador de Estácio da Veiga. Descobriu os monumentos megalíticos nº1 e nº10 em Alcalar, hoje classificados como monumento nacional.
Portimão – Santos Rocha (1853-1910) – natural da Figueira da Foz, era advogado de profissão, mas cedo se interessou pela arqueologia, nomeadamente a do Algarve, tendo iniciado em 1894 a investigação na região. Fez quatro viagens de exploração à região, tendo investigado de uma ponta a outra do Algarve.
Lagoa – João Grade (1891-1968) – médico, proprietário rural abastado, republicano. No campo científico, fez importantes investigações sobre métodos de tratamento da sífilis, então uma doença muito grave. No campo da agricultura, introduziu novos métodos de cultivo na vinha e nos frutos secos.
Albufeira – Padre Semedo de Azevedo (1907-1968) – pároco, arqueólogo, museólogo e homem de cultura. Fez várias intervenções arqueológicas no concelho de Albufeira e achados fortuitos.
Lagos – José Formosinho (1888–1960) – estudioso, colecionador, fundador do Museu de Lagos, que hoje tem o seu nome.
Vila do Bispo – Padre Manuel Madeira Clemente – pároco de Vila do Bispo, Raposeira e Sagres, entre 1947 e 1989. Deu importante contributo para a reabilitação da Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe e Igreja de Vila do Bispo – preservação de peças de arte sacra e arqueologia, guardando-as numa pequena sala anexa à igreja – uma espécie de museu que ainda hoje existe.
São Brás de Alportel – Estanco Louro (1890-?)- Etnólogo, regionalista, pedagogo e republicano. A sua obra mais conhecida é «O Livro de Alportel», onde se revela a sua faceta de etnólogo e etnógrafo.
Tavira – José de Sande Vasconcelos (1730?-1808) – Engenheiro militar, nasceu em Évora por volta de 1730. Colocado no Algarve em 1772, Sande Vasconcelos cria um curso militar em Tavira, sob o nome «Aula de Artelharia, Geometria, Fortificação e Desenho». Já após o terramoto de 1775 (e maremoto), Sande Vasconcelos dirigiu as obras das terraplanagens e infraestruturas de Vila Real de Santo António, a povoação mandada erigir pelo Marquês de Pombal na foz do Guadiana.
Tavira – Estácio da Veiga (1828-1891) – Formado em engenharia militar, destacou-se nos estudos sobre Botânica, mas, sobretudo na Arqueologia. Publicou a primeira «Carta Archeologica do Algarve» e as «Antiguidades Monumentaes do Algarve».
Vila Real de Santo António – Leite de Vasconcelos (1858-1941) – Nasceu na Beira no seio de uma família da nobreza. Foi o primeiro diretor do Museu Etnographico Português (atual Museu Nacional de Arqueologia), em Lisboa. Percorreu o Algarve, de Milreu a Vila Real de Santo António, em diversas incursões arqueológicas.