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Nascemos ou tornamo-nos narcisistas?

Nascemos ou tornamo-nos narcisistas?
Nascemos ou tornamo-nos narcisistas?  
Foto Freepik
Um ar de superioridade, manipulação, baixa empatia, comportamentos de soberba, necessidade de ser admirado, são alguns exemplos de características destas pessoas.

Segundo a ciência, o número de narcisistas tem aumentado um pouco por todo o mundo e «de forma alarmante», levando a que se tenham realizado trabalhos de investigação com vista a perceber o fenómeno.
 
Na mesma sequência, os investigadores «deram uma reviravolta» ao conhecimento acerca das causas do narcisismo e perceberam que, contrariamente ao que se pensou durante décadas, o nascimento não determina esta condição. Quer isto dizer que, tornamo-nos narcisistas com a educação que recebemos, com a influência das pessoas com quem convivemos e que acabamos por acreditar que «somos o centro do mundo», quando, na realidade, esse estatuto não cabe em ninguém.
 
O transtorno de personalidade narcisista afeta apenas 1% da população. No entanto, há subtipos e diferentes tipologias que definem um número muito maior de homens e mulheres com comportamentos centrados nesse tipo de perfil e que, efetivamente, são muito difíceis de conviver, de aceitar, de respeitar, com quem trabalhar ou estabelecer uma relação íntima.
 
Encontramos pessoas com este tipo de perfil nas mais variadas situações, sendo que, a sua predominância também é muito significativa entre os casais ou outros membros da família, o que agrava o mal-estar, prejudica a saúde mental e compromete a relação entre os seus membros.
 
Theodore Millon, pioneiro no estudo da personalidade, admitiu há vários anos, a possibilidade de um aumento desse tipo de comportamento e indicou que «há narcisistas mais e menos lesivos, sendo os narcisistas pró-sociais os que mais se adaptam». No plano oposto, os antissociais são os que mostram maior arrogância, agressividade, «constituindo um risco social para os demais». Após longos trabalhos de investigação mais atuais, percebe-se «que o número de narcisistas está a aumentar não devido a uma educação pouco baseada no afeto, na proximidade, na ausência de comunicação, mas sim, porque existe excesso de proteção no modelo educativo dos mais novos».
 
Eddie Brummelmah e a sua equipa da Universidade de Utrecht, demonstraram que, não é a falta de amor parental que gera um comportamento narcisista, muito pelo contrário. A superproteção, o consentimento excessivo e a falta de limites fazem a criança acreditar que está acima de qualquer coisa. Os pais que superprotegem os filhos, acabam por fazê-los acreditar que estão num pedestal, que são melhores do que os outros, que são mais importantes e que todos lhes devem obediência e reconhecimento.
 
Entre os 7 e os 12 anos, quando emerge o sentido do eu e a perceção de se conceber como um menino ou menina muito especial, a pessoa passa a acreditar que merece mais do que os demais devido à forma como está a ser educada, em que tem direitos exclusivos, acredita ser privilegiada e um “ser superior”.
 
Os pais devem ter em conta estes aspetos para que possam refletir e educar melhor:
 
• Há algum problema em fazer com que os filhos se sintam amados e que os pais os tratem com carinho, compreensão e muito diálogo?
 
A resposta é não. Educar os nossos filhos com base no afeto, na compreensão, no conforto, com reforços positivos, gera bem-estar, satisfação pessoal e perante a vida.
 
• O problema está na supervalorização que faz a criança acreditar que só ela merece o melhor, que está acima de tudo e de todos e que se deve sentir assim nas mais variadas situações.
 
• Por outro lado, há também outro fator. Os próprios pais e mães podem apresentar traços e comportamentos narcisistas. As crianças vão acabar por imitar esses padrões, internalizando-os e tornando-os seus para o bem e para o mal. Por norma, estes cuidadores acreditam que são o centro do mundo, não têm regras, não respeitam os outros, não conseguem aceitar que não vencem em todas as situações porque consideram-se superiores e acima dos demais, desenvolvendo muitos preconceitos e comportamentos destrutivos e negativos que comprometem a convivência social e, em muitos casos, familiar.
 
É importante lembrar que, a sociedade também educa e cumpre o seu papel que, pode ser positivo ou negativo.
 
O psicólogo W. Keith Campbell escreveu um trabalho intitulado The narcissism epidemic: living in the age of entitlement (A epidemia do narcisismo: vivendo na era do direito próprio). Algo que é bastante conveniente entender em primeiro lugar é que o narcisismo é, na verdade, um espectro. Há pessoas que apresentam apenas um traço narcisista e outras que apresentam todas as características e fazem parte daquele 1% que define o transtorno narcisista de personalidade.
 
Nos últimos anos houve um crescimento do culto ao ‘eu’, da procura constante pelos “likes” para reforçar o ego e a autoestima. Muitas dessas questões geram um campo fértil para criar narcisistas, com uma frequência que chega a ser alarmante.
 
Os narcisistas não são pessoas felizes. Geram sofrimento aos outros, são eternamente insatisfeitos, pessoas que se maltratam uma vez ou outra por causa da sua própria frustração.
 
Assim  e, para concluir, é fundamental que os pais eduquem os filhos para a empatia, para o respeito e para o altruísmo, que nas suas conversas com os filhos, mostrem que não somos nem melhores nem piores que os demais: somos simplesmente diferentes, dignos de valor, respeito e que todos podem e devem construir as melhores oportunidades para mostrarem o seu potencial, em primeiro lugar, a si mesmos, depois, aos outros e que, em cada situação em que participamos podemos ser melhor ou pior sucedidos. Tudo isso faz parte da vida, tudo isso é um impulso para o crescimento pessoal e que, quanto mais nos conhecermos, mais gostarmos de nós próprios, menos vamos necessitar da aprovação dos demais.
 
Ao mesmo tempo, devemos saber utilizar as redes sociais para o nosso próprio prazer, não pela constante procura de aprovação, de reconhecimento e de termos de viver artificialmente só para mostrar a alguém ou para colher “likes”.
 
A vida quer-se simples, genuína e, quando construímos a nossa beleza, riqueza e valor interior, somos mais livres e menos dependentes da aprovação social. Dessa forma, não precisamos de ser arrogantes, manipuladores, interesseiros, entre outros aspetos que tanto desprestigiam a condição humana e complicam as relações.