A descoberta publicada, nesta sexta-feira, na edição portuguesa da revista National Geographic, revela que no início deste verão foi encontrada uma nova estela com escrita do Sudoeste no Concelho de Loulé.
Segundo avança nota da autarquia, as estelas com escrita do Sudoeste têm mais de 2500 anos e aparecem durante a Idade do Ferro. Elas são um dos maiores tesouros da arqueologia europeia, havendo apenas cerca de cem exemplares e a maioria foi encontrada em Portugal (perto de 90%).
Esta escrita é símbolo da herança histórica do Algarve e Baixo Alentejo, sendo a mais antiga manifestação de escrita da Península Ibérica que ainda hoje está por decifrar.
Recolhida por Jorge Narciso há cerca de 8 anos perto da Cortelha, uma aldeia da freguesia de Salir no Concelho de Loulé, era uma pedra que estava num poço com as letras viradas para baixo. A estela (bloco de pedra que se fixava no solo) da Cortelha foi identificada pelo olhar atento do fotógrafo Jorge Graça que reconheceu a escrita do Sudoeste na pedra que estava a ser utilizada no cortejo do Grupo Etnográfico da Serra do Caldeirão como pedra da lavadeira.
Segundo o arqueólogo Amílcar Guerra da Uniarq – Centro de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a leitura do texto é clara, com todos os traços bem gravados, e revela alguns signos raros e outros inéditos. O fragmento de estela com 48x37cm apresenta sete a oito signos gravados reconhece-se o E, o R e os A. Esta escrita que se concentra no Sudoeste Peninsular, daí o seu nome, adaptou o alfabeto fenício e depois criou uma escrita própria ajustada à língua das populações que aqui viviam.
Para além deste contributo para a investigação linguística da escrita, a importância desta estela com escrita do Sudoeste é de ter sido encontrada numa área onde até hoje ainda não tinham sido encontrados vestígios arqueológicos da Idade do Ferro, revelando assim o enorme potencial que a Serra entre o Algarve e Baixo Alentejo tem para investigar este tema. No âmbito da investigação realizada pelo Projecto ESTELA, os arqueólogos Samuel Melro e Pedro Barros referem que eram conhecidos dois conjuntos no Concelho de Loulé, um na área do Ameixial onde foi encontrada há 10 anos a última estela e outro na zona Benafim/ Salir.
A estela da Cortelha doada por Jorge Narciso ao Museu Municipal de Loulé, pode ser vista entre o dia 27 de julho e o final de setembro. As restantes estelas com escrita do Sudoeste do Concelho de Loulé também podem ainda ser observadas na premiada exposição de arqueologia “Loulé: Territórios. Memórias. Identidades” patente até ao final do ano no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, bem como no Museu da Escrita do Sudoeste em Almodôvar dedicado ao tema.