Comportamentos

Nem tudo “se paga” neste mundo

 
Andamos numa corrida desenfreada para comprar, para consumir, para ter, a ponto de quase descurarmos “o ser” em detrimento daquilo que o dinheiro é capaz de pagar, mas na realidade, percebemos que, não estamos mais felizes do que éramos quando tínhamos uma ambição mais comedida.

 
O marketing invade-nos de mensagens para tudo, dando-nos a ilusão de que seremos mais felizes com mais um produto, com mais umas férias, mais um carro e, na realidade, o leitor comprova que a nossa civilização não está mais feliz, muito pelo contrário, creio que nunca se tomaram tantos medicamentos para a ansiedade e depressão. Porquê?
 
Em meu entender, é salutar que queiramos ter mais qualidade de vida e que nos seja permitido o acesso à educação, à qualidade e à diversidade, mas não menos importante é que nos ensinem a tirar partido do que temos para que o possamos valorizar e dar um sentido.
 
Quero dizer com isto que, se conseguirmos viver num ambiente confortável, estamos mais felizes, se conseguirmos ter uma alimentação diversificada e rica, estaremos mais tranquilos face à nossa saúde, se tivermos o nosso direito ao emprego validado, estaremos mais alegres porque existe uma relação entre o nosso empenho e o reconhecimento da entidade patronal, mas também precisamos do que julgo ser a base de tudo e aquilo que nos mostra que vale a pena viver e lutar: o amor.
 
Precisamos de sentir que amamos e que somos correspondidos, precisamos de dar um sentido ao que adquirimos, precisamos que alguém nos torne “importantes” pelo que somos e sabemos. Precisamos de consertar os bens materiais com a nossa riqueza emocional e, isso é simples, pois é esse mundo interior que nos orienta e nos torna criativos e capazes de querer mais e melhor. É de dentro para fora que tudo se processa, pelo que devemos procurar no exterior, aquilo que nos alimenta no interior e, depois alimentar o que somos e temos para podermos voltar à sociedade e procurar algo melhor e que nos estimule essa criatividade e sentimento.
 
Pela minha experiência, é o amor que sinto e que recebo dos outros, que dá sentido à minha existência. É esse amor que me torna mais ativa e criativa. É essa sensação positiva que me faz encarar o mundo de uma forma melhor e mais tranquila. É o amor que me contém nos momentos mais delicados, tal como são os sentimentos positivos que me orientam para fazer mais e melhor, como por exemplo, ter prazer em escrever este texto e dizer o que sinto!
 
É bom ter um carro novo quando temos quem o aprecie e nos ajude a desfrutar de bons momentos: uma família unida e feliz que goste de passear connosco.
 
As férias fazem sentido quando vamos acompanhados por alguém que partilha de interesses comuns. E, é essa a nossa grande procura no mundo: amor.
 
É o amor que dá um brilho ao que temos, fazemos e procuramos. O nosso cérebro adora sensações positivas e quer sempre repeti-las. Se eu as assumir e aceitar, terei sempre muitos motivos para renovar as boas sensações e irei sempre procurar alimentos para esse amor.
 
Penso que vivemos mais conflitos pela falta de amor, que nos tornamos menos pessoas porque não sentimos amor e que não damos tempo para deixar que o amor cresça e se desenvolva porque, apesar de tudo, temos medo de amar!
 
Já um grande especialista na área da psicologia dizia que “O amor não se aprende na escola” e, concordo em pleno. O amor sente-se e desenvolve-se dentro de nós e através das nossas relações com os outros. O amor é uma aprendizagem através da experiência e da disponibilidade para aprender. Ao longo da vida, experimentamos várias formas de amor e aprendemos a diferenciá-las umas das outras porque queremos sempre aquela que nos preenche mais.
 
Aprendemos a amar e a ser amados, muitas vezes dentro da família, e tantas outras vezes fora, porque nem todos temos a sorte de sermos amados por quem nos colocou no mundo, mas isso não nos pode impedir de desenvolver esse sentimento fora. Se repararmos, a família não tem capacidade de nos dar tudo o que precisamos e queremos e, vamos à luta fora dessa célula familiar. Façamos o mesmo com o amor. Não o tivemos na infância, mas sabemos que existe, que o queremos e temos o direito de sentir, por isso, arriscamos nas nossas relações com os outros encontrar alguém que nos devolva boas emoções e que nos ajude a construir um projeto de vida em comum.
 
Aprendemos o amor nas várias situações em que participamos e despertamos para os sentimentos, pelo que só posso recomendar que viva, que experimente conversar e encontrar o prazer de estar com alguém. Deixe-se levar pela emoção do momento e procure em si essa necessidade de renovar os momentos.
 
Se não conseguir à primeira, à segunda ou à terceira, tente até conseguir! Fazemos o mesmo com os bens materiais, por que não dar as mesmas oportunidades ao amor?
 
Se, em média mudamos de casa três ou quatro vezes na vida, qual é a razão para não darmos oportunidade a mudar de paradigma e procurar alguém com quem consigamos ser felizes?
 
Penso que tudo se resume ao plano emocional e, por muitas explicações que tentemos dar para a felicidade, esta só tem um nome, amor. Ou sentimos, ou não sentimos, mas temos de aprender a identificar os nossos sentimentos e a perceber que, em cada tentativa, estaremos mais aptos para nos compreendermos, para sentirmos e para sermos correspondidos.
 
Penso também que a viagem requer paciência, empenho e criatividade, tal como as demais áreas de vida, mas acredite, vale mesmo a pena amar e ser amado. A vida ganha um novo sentido, uma nova forma e… tudo fica muito mais simples e colorido.
 
Fátima Fernandes