Comportamentos

Ninguém dá sem receber algo em troca

 
Já tenho ouvido dizer muitas vezes que, “dei tanto àquela pessoa e nunca lhe cobrei nada”, “dou tudo de mim ao meu companheiro e nada recebo em troca” e, continua a fazer-me confusão esta ilusão em que muitas pessoas vivem.

 
Faz parte da natureza humana dar e receber. Trabalhamos para receber o nosso vencimento e para nos sentirmos valorizados, o patrão contrata uma pessoa para que o trabalho seja realizado da melhor forma, as pessoas encontram-se para partilharem  momentos em conjunto, o aluno aplica-se para ter boas notas, limpamos a casa para vivermos num ambiente saudável e organizado, procuramos o médico para cuidar da nossa saúde, fazemos dieta para perdermos peso e daí por diante.
 
É simples compreender que, por detrás de uma qualquer ação que pratiquemos, estamos naturalmente à espera de uma recompensa e, tal acontece nas coisas mais simples. Tomamos um medicamento para retirar uma dor, damos um sorriso em troca de outro, cumprimentamos alguém e esperamos pela resposta, tudo isto me parece tão elementar que não consigo compreender a razão de se dizer que “não se espera nada em troca”. Muito provavelmente o que acontece é que a pessoa que diz nada esperar em troca, nem se apercebe deste funcionamento inato e acaba por estar sempre a sofrer por dar tanto e não conseguir receber igual.
 
As pessoas que dizem nada esperar de uma relação, ou não estão lá ou simplesmente guardam sigilosamente esse desejo de retribuição e, como estão sempre na mesma, nem têm coragem de confessar a sua ilusão ou ingenuidade. Parece que fica melhor dizer que não se espera nada do que confessar a alguém que se está à espera de algo que nunca virá porque a outra pessoa não está disponível. Assim, encontra-se essa forma de defesa, afirmando que não se quer nada porque se tem vergonha de expressar a frustração de nada receber mesmo. É verdade, nem todas as pessoas estão recetivas ou disponíveis para nós. Temos de aceitar que a vida é assim. Não somos todos compatíveis uns com os outros e, ainda bem! Damos até um certo limite, mas ao percebermos que o outro nada nos devolve, devemos parar para pensar e atribuir essa atenção e energia a quem merecer mais.
 
Pensando bem, qual é o valor de andarmos atrás de alguém que não nos liga? Qual é o valor de darmos presentes a quem nada nos dá em troca?
 
Já tenho ouvido relatos de homens e mulheres que pagam sempre a conta do restaurante e que a outra parte nunca mostra interesse em fazer o mesmo. Naturalmente que algo está errado nessa relação, seja de amizade ou namoro! Se não há uma retribuição, não há interesse e quer queiramos quer não, isso vai marcar negativamente a fase seguinte da relação. Um homem que, por exemplo nunca queira dividir as despesas com a mulher, vai acabar por fazer o mesmo no casamento se chegarem lá, pelo que, o melhor é colocar logo os pontos nos “is” desde cedo para evitar mais uma desilusão amorosa. Na realidade, cultivamos muitas ilusões por nossa culpa, pois estamos a ver que o outro não nos devolve, e insistimos. Fazemos sempre o papel de “bons samaritanos” sem nos apercebermos da importância da partilha e da retribuição. Dar um presente é algo diferente e um gesto bonito, mas se o outro não nos devolve esse gesto no nosso aniversário, é porque o seu interesse se baseia só naquilo que lhe damos. Isso não interessa para a manutenção da nossa relação.
 
Esteja atento para evitar ser escrava/o de relações perdidas. Qualquer relação humana requer partilha, entrega e colaboração de parte a parte, quando tal não acontece, isso é um indicador de que estamos a perder o nosso tempo, os nossos valores e a nossa dignidade.
 
Fátima Fernandes