Comportamentos

O lado positivo das discussões

Os casais felizes não perdem tempo a discutir diferenças de personalidade porque sabem que essa é a maior riqueza de ambos.
Os casais felizes não perdem tempo a discutir diferenças de personalidade porque sabem que essa é a maior riqueza de ambos.  
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Segundo um estudo da Universidade do Tennessee, os casais que discutem sobre problemas solucionáveis tendem a ser mais felizes.

Entende-se por discussões positivas e que acrescentam a relação aquelas que envolvem respeito e espaço para que cada elemento apresente as suas ideias sobre os mais variados assuntos.
 
Nesse tipo de discussões estão as questões financeiras, em que ambos conseguem encontrar um equilíbrio nas contas, mas também manter o respeito pelo outro sem comprometer a utilidade que se dá ao dinheiro, os problemas domésticos, em que as tarefas são distribuídas consoante as maiores ou menores habilidades de cada membro do casal, a educação dos filhos, em que, apesar das diferenças, se consegue encontrar o consenso e a melhor forma de respeitar as posições de ambos, a carreira e as prioridades, o tempo livre e o tempo em família.
 
Os casais felizes não perdem tempo a discutir diferenças de personalidade porque sabem que essa é a maior riqueza de ambos: serem distintos e complementares em muitos pontos. Também não fazem de tudo uma discussão porque se respeitam, porque tentam aceitar a vida que têm e decidir como a podem melhorar em conjunto, apostam numa boa comunicação e sabem que não vão estar sempre de acordo, mas que estão dispostos a aceitar, a ouvir e a respeitar a posição do outro. Sabem ainda que, cada um é livre para ser igual a si mesmo, que a sua liberdade termina quando começa a do outro e que, com tempo, paciência e disponibilidade, é sempre possível chegar a acordo.
 
Segundo os mesmos cientistas, os casais devem discutir na tentativa de encontrar soluções e não na tentativa de abater o outro, de projetar frustrações e problemas do passado ou existenciais para que a convivência seja saudável.
 
Note-se que, no passado já se defendia que as discussões faziam bem ao casal, no entanto, não se percebia a importância de saber discutir sem entrar em confronto. Há mesmo parceiros amorosos que, ainda hoje defendem que, um casal que não tem uma discussão acesa já não se ama ou a relação está a terminar, mas não é essa a posição dos especialistas, pois para manter viva a chama do amor é preciso abordar os assuntos com clareza e, ao mesmo tempo, flexibilidade. É essencial que todos os temas sejam abordados, mesmo os mais difíceis, mas que em situação alguma se perca o respeito por si mesmo e pelo outro, pois caso contrário, a relação pode mesmo estar a termo.
 
O mesmo estudo norte-americano refere que as discussões contribuem para a melhoria da convivência nos seguintes aspetos:
 
•Favorecem o conhecimento mútuo. Nas discussões, surgem atitudes e comportamentos que não são detectados noutras situações.
 
•Facilitam a honestidade e a franqueza entre os casais, sendo mais fácil expressar discordâncias.
 
•Aumentam a intimidade. Embora no princípio as discussões a dois marquem distâncias e estabeleçam diferenças, a verdade é que representam um nível de comunicação muito próximo. Quando bem gerido,, o resultado é o aumento da confiança mútua.
 
•Permitem detectar problemas que foram negligenciados. É comum que durante as discussões a dois, detalhes que não foram levados em consideração venham à tona. Se for mantida uma atitude de escuta, essa nova informação será muito valiosa.
 
•Prolongam a vida. Um estudo da Universidade de Michigan descobriu que, quando os casais discutem de forma razoável e respeitosa,  o relacionamento e a vida dos cônjuges tendem a ser mais longos.
 
As discussões são um bom pretexto para encontrar soluções para os problemas, para aprofundar a capacidade de negociação, para se criar uma maior abertura entre os parceiros e até para manter viva a relação, mas, como já referimos, não se pode confrontar o outro de forma agressiva, ofensiva, violenta ou desrespeitosa.
 
É ainda de reter que, uma relação que se prolongue no tempo, tende a passar por muitos altos e baixos, por períodos mais tranquilos e também por fases mais acaloradas, mas a chave é colocar sempre acima de tudo, a capacidade de diálogo, o sentimento que une o casal, o propósito de estarem juntos e a necessidade de continuarem a manter um nível de consideração um pelo outro que lhes permita conversar sem impor, sem gritar, sem levantar a voz ou tecer qualquer tipo de ameaças ofensivas e que muito prejudicam a relação.
 
Por fim, é importante sublinhar que, devemos pensar muito bem no que dizemos e fazemos durante uma discussão, uma vez que, depois de se ter dito ou feito, já é muito difícil de reparar. Assim, procure manter a calma, pensar cuidadosamente naquilo que quer transmitir e reserve uma margem de respeito por si mesmo capaz de evitar dizer aquilo que não quer. O outro vai acabar por recordar aquilo que ouviu e, se for muito desagradável, torna-se complexa a capacidade de voltar a confiar.
 
Fátima Fernandes