O Algarve Primeiro está a lançar o repto a personalidades da região para que partilhem nesta fase de balanço, tudo aquilo que aprenderam com a pandemia Covid.19. São mensagens pessoais sobre valores, motivações e reorientações que o nosso mundo deverá seguir depois da crise.
Quando recebi o convite questionei-me de imediato se conseguiria responder com a clareza necessária a esta pergunta. Ainda não tenho a certeza! Muito ruído, todos temos muito para dizer, para opinar … silêncio e escuta tem sido a minha opção. Talvez porque “Quando a dor é muito grande o sofrimento é silencioso” como escreveu o saudoso Rubem Fonseca. Mas gostei de como me foi colocada a questão: “o que aprendeu?”. Há certamente aprendizagens a nível pessoal, social e profissional nestes tempos de (in)certeza diária. Uma afirmação creio que, desde logo, posso fazer: aprendemos todos (diria eu) o valor da VIDA (ou a dar-lhe mais valor).
A nível pessoal aprendi, ou melhor, apercebi-me de como o toque é extremamente importante no dia-a-dia. Da imensa necessidade de estar com quem amamos. Podemos imaginar que em situações de emergência e calamidade seremos fortes mas hoje aprendi que, mesmo com receio, o medo não me pára quando acredito que posso contribuir para ajudar os outros. E, finalmente, talvez me tenha ensinado, mesmo em momentos difíceis, a nunca deixar de me emocionar e encantar.
A nível social é um laboratório enorme esta pandemia COVID-19, a reação de cada indivíduo, de cada sociedade tem mostrado como o regime em que vivemos não é de somenos importância. Que mesmo com liberdades e direitos condicionados, as Democracias continuam a olhar para nós como indivíduos, a respeitar-nos, com todas as deficiências que lhes conhecemos. Não sei se aprendi mas sei que este novo coronavírus me faz acreditar com mais convicção que precisamos de refundar a educação para a cidadania, precisamos de repensar o nosso modelo de desenvolvimento e económico, precisamos de refundar os valores da Europa, precisamos de perceber que as alterações climáticas devem estar em todas as agendas políticas do Mundo e ser trabalhadas com conhecimento e com urgência.
Este tempo permitiu-nos reforçar aquilo que muitos de nós dizem amiúde: a importância das lideranças mundiais, a urgência de ter lideranças com pensamento e conhecimento e para isso a necessidade de aumentar a literacia política a nível mundial (isto liga-se com a educação para a cidadania que falei acima).
Aprendi com mágoa e muita angústia que, uma vez mais, a fragilidade social é muito grande. Que o valor do trabalho e o acesso ao mesmo deve ser uma luta de TODOS nos próximos tempos, assim como muscular o Serviço Nacional de Saúde, como uma das mais belas conquistas de Abril.
Centrando agora a aprendizagem na nossa região – Algarve – reforcei aquilo que defendo há muitos anos, a necessidade de diversificar a indústria do sol e praia (ainda não mar) – o Turismo. É urgente (como era há 20 anos) passar das intenções à ação! Não sou da opinião de acabar com o Turismo, não! Defendo, sim, diversificar a base económica da região, passando do conceito de sol e praia aos conceitos de: sol e mar; sol e conhecimento; sol e saúde, sol e economia verde, sol e I&D, sol e Identidade, sol e criação, sol e terra… importa juntar a massa critica e os líderes regionais e deitar “mãos à obra!”.
Confirmei que ficamos efetivamente mais pobres como seres humanos quando não podemos comprar um livro (numa livraria), ir a um espetáculo, conversar olhos nos olhos, sentar num café a sentir a cidade ou passear pelo campo a descobrir as cores e o silêncio…
Por fim só me apetece citar um clássico “só sei que nada sei” do que possa ter aprendido, porque acredito que seremos capazes no curto e médio prazo de mudar muito pouco daquilo que não nos seja imposto! E porque acredito como Manuel Alegre que “Não haverá recuperação sem uma nova visão do mundo. É em tempos assim que a Cultura é mais necessária do que nunca”.
Saibamos todos (re)aprender o valor da Vida, da Humanidade e da Cultura!
Dália Paulo
(Foto:Lugar ao Sul)