Curiosidades

O que nos torna medrosos e inseguros?

 
O ambiente onde crescemos e a educação que recebemos contribui em larga medida para sermos mais inseguros e com muitos medos.

Muitas vezes a falta de auto-avaliação, o conhecimento de si mesmo e o aprender a ver a realidade tal como ela é estão na base de muitos medos e inseguranças que possamos viver. Com o passar do tempo e, à medida que nos vamos posicionando no mundo, conseguimos ultrapassar muitos desses medos, em muitos casos com apoio psicológico que nos ensina a pensar de outra forma e a encontrar novos caminhos para o nosso bem-estar e felicidade.
 
O medo e a ansiedade fazem parte do ser humano e servem para nos proteger, ainda assim, quando ultrapassam os limites do razoável e nos retiram a tranquilidade e a qualidade de vida, devem ser avaliados, uma vez que, todos temos de encontrar o nosso ponto de equilíbrio e de satisfação com o que temos. O ser humano está equipado para viver o negativo e para se proteger dele, mas também para viver descompressão e bons momentos de alegria. Precisamos de ambas a vertentes, pelo que de nada nos serve seguirmos teorias que só investem no otimismo quando precisamos de ver a realidade nua e crua para depois a podermos transformar em aprendizagem e em algo positivo. Penso que se passou muito rapidamente de uma visão muito destrutiva e negativa para o oposto e, muitas pessoas não se conseguiram posicionar de forma a encontrar o equilíbrio e perceberem que todos temos o bom e o mau dentro de nós, precisamos é saber quando e como ativamos cada uma das partes.
 
Perdemos grande parte dos nossos medos através do conhecimento da vida, da experiência e da compreensão de que o risco existe em tudo, mas que há um conjunto de leis, normas, regras e valores que nos ajudam a ser mais confiantes. Não podemos de forma alguma descurar o saber dos especialistas, pois é esse conhecimento que nos alicerça as bases, tal como, quando temos pais que não nos prepararam para a maturidade, para a crítica, para o pensamento, para a análise e reflexão pessoais, temos de procurar essas ferramentas noutras pessoas, como sendo professores, outros pais e profissionais de várias áreas. A leitura ajuda-nos também a alargar o nosso campo de visão e a orientarmos a nossa posição no mundo. Esse é um dos grandes segredos para perdermos muitos medos e para sermos mais confiantes: saber o que os outros fazem, saber como é que se resolve um problema, encontrar soluções e pensar cada vez de forma mais alargada acerca dos mesmos assuntos. No fundo, todos queremos o mesmo: saúde, bem-estar, felicidade, alguma tranquilidade financeira, conforto e ter pessoas à nossa volta com quem possamos partilhar o que somos e sabemos e com quem possamos aprender mais e esclarecer as nossas dúvidas. Isto é muito humano. Não é por acaso que o interesse por alguém está quase sempre ligado ao que podemos aprender com aquela pessoa, seja ela mais ou menos anónima, mais ou menos importante, tem de ser interessante, tem de ser alguém com quem se possa conversar e partilhar algo. Penso que isto é o mais genuíno que temos e que nos torna humanos, logo a melhor forma de educar uma criança é prepará-la para ensinar e aprender com os outros, já que, com esta base, estamos a torná-la mais segura e confiante em si mesma e a prepará-la para ocupar o seu espaço social no meio das demais.
 
É caso para perguntar, se vivemos cada vez mais fechados em nós mesmos e nos nossos planos financeiros, na ascensão por um lugar de topo e daí por diante, como podemos ser mais seguros e confiantes se a autoestima e a autoconfiança dependem do sucesso das nossas relações com os outros?
 
Talvez nos esteja a faltar um pouco de humildade para conseguirmos perceber o quanto precisamos de nos dar bem com pessoas para podermos concretizar os nossos objetivos… precisamos de conhecer as experiências dos outros para aprendermos mais, para resolvermos mais conflitos pessoais e interpessoais e, acima de tudo, aprender a lidar com as nossas emoções para que saibamos quando estamos bem numa relação ou não. Não basta ter muito conhecimento técnico. É fundamental saber ser pessoa num ambiente humano e, isso consegue-se procurando ter mais qualidades humanas, melhores valores aliados à nossa inteligência, pois é isso que nos dá mais sabedoria e uma visão mais alargada de mundo.
 
Ao nos fecharmos no nosso mundo, ficamos mais pobres, medrosos e inseguros porque estamos sempre com medo dos outros, com medos infundados, pois por muito que queiramos, jamais seremos capazes de controlar tudo. Então saibamos aprender e descontrair para podermos ser mais seguros e confiantes. Saibamos pensar para melhorar e para encontrarmos novas formas de fazer as mesmas coisas, mas de forma mais elaborada e consciente. Saibamos ter a nossa opinião e ter orgulho em nos apresentarmos numa qualquer situação social. Saibamos conhecer e reconhecer os valores que caracterizam a nossa cultura e sociedade para, a partir daí, nos posicionarmos melhor e de forma mais segura. Isso consegue-se aceitando as nossas falhas, valorizando as nossas conquistas, corrigindo os nossos erros e assumindo que não sabemos tudo, mas que queremos melhorar aquilo que já fizemos. A partir daí, teremos cada vez menos obstáculos porque estamos em linha com os outros, não estamos sempre à espera que algo lhes corra mal para nos rirmos, mas sim somos capazes de ajudar alguém que precisa e que é um humano como nós, em pé de igualdade. Somos todos diferentes, mas iguais enquanto humanos, logo existe em nós um espírito coletivo importante que nos torna mais capazes de ajudar e de nos posicionarmos em linha com os demais e, o mais importante de tudo, não nos sentimos sozinhos, sentimo-nos solidários com os outros, ao mesmo tempo em que recebemos essa solidariedade coletiva quando precisamos.
 
Fátima Fernandes