Tendo por base um artigo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, é importante registar que, os castigos corporais consistem no uso da força física com a intenção de causar dor à criança com o objetivo de corrigir ou controlar o seu comportamento. Vários castigos corporais são, muitas vezes, utilizados em nome da disciplina das crianças: bater, torcer orelhas, pontapear, empurrar, amarrar ou colocar sabão/pimenta na boca.
No entanto, as evidências científicas são claras e consistentes: os castigos corporais colocam as crianças numa situação de risco e podem levar a um aumento da agressão, alerta a mesma fonte.
A Ordem dos Psicólogos apresenta como consequências destes castigos corporais, o comportamento anti-social, lesões físicas e problemas de Saúde Psicológica. E quanto mais frequente e mais grave é o castigo corporal, maior é a probabilidade da criança ser agressiva e ter problemas de Saúde Psicológica, regista.
Os efeitos negativos dos castigos corporais podem ser diretos e imediatamente aparentes, mas são muitas vezes indiretos e manifestam-se a longo prazo (inclusivamente na idade adulta): problemas emocionais e comportamentais, relações pais-filhos negativas, desaceleração do desenvolvimento cognitivo, diminuição do desempenho académico, perturbações do humor e da ansiedade, abuso de álcool e drogas, aumento do risco de ser vítima de abuso físico e violência doméstica, salienta o artigo dos especialistas da Ordem dos Psicólogos.
A investigação mostra que as crianças aprendem por imitação, nomeadamente, por imitação dos comportamentos dos adultos, sobretudo aqueles dos quais dependem. Assim sendo, a utilização de castigos corporais por parte de adultos que têm autoridade sobre elas, aumentará a probabilidade dessas crianças utilizarem a violência física. Os estudos revelam que as crianças vítimas de castigos corporais têm maior probabilidade de bater como forma de resolver conflitos com os seus pares e irmãos.
Para além disso, está igualmente provado que os castigos corporais não funcionam enquanto método de disciplina, ou seja, não são eficazes nem ensinam a criança a comportar-se corretamente ou a distinguir o certo do errado. No máximo, os castigos corporais fazem com que a criança pare momentaneamente o seu comportamento, porque tem medo de ser agredida, mas a longo prazo podem tornar a criança ainda mais desobediente e agressiva. E embora a criança tenha medo de desobedecer quando os pais estão presentes, quando os pais não estão presentes para aplicar o castigo, apresentam o mesmo comportamento, alertam os psicólogos.
Há ainda o perigo de os pais irem escalando a violência e os castigos corporais, uma vez que estes não suprimem o comportamento problemático além do momento.
O mesmo artigo regista que, é preciso desenhar uma linha entre os castigos corporais e o abuso físico. É claro que nem todas as crianças que experienciam castigos corporais vão ser delinquentes ou agressivas.
Um conjunto de fatores situacionais, como a relação pais-criança, tem um efeito moderador dos efeitos dos castigos corporais. E o ato de aplicar um castigo corporal varia na frequência com que acontece, no grau de força e agressividade utilizada, na emoção dos pais e na forma como é combinado com outras técnicas. Todas estas variáveis determinam os resultados dos castigos corporais e a forma como estes influenciam a criança. Realça a mesma publicação que, «nenhum estudo concluiu que os castigos corporais têm efeitos benéficos na saúde ou no desenvolvimento das crianças».
Uma das principais tarefas dos pais é ensinar as crianças a controlar e a gerir o seu próprio comportamento. Ainda assim, independentemente do quão bons pais sejamos, as crianças vão, inevitavelmente, “portar-se mal”. Quando os pais respondem, consistentemente, utilizando métodos de disciplina apropriados (modelando comportamentos positivos, negociando limites e definindo expectativas adequadas à idade), apoiam o desenvolvimento das crianças: protegendo-as de se envolverem em comportamentos de risco e ajudando-as a desenvolver competências de auto-regulação e autocontrolo, explica o mesmo artigo.
Adianta a Ordem dos Psicólogos que, as crianças vítimas de violência doméstica ou abuso sexual experienciam diversos problemas de saúde (física e psicológica), entre os quais, perturbações da alimentação, dificuldades da aprendizagem, problemas comportamentais, medo/culpa/zanga, isolamento social, ansiedade, depressão, insónia, pensamentos suicidas.
As crianças que não são vítimas diretas de violência doméstica, mas que são expostas à violência doméstica existente na sua família e na sua casa também experienciam alguns dos problemas comportamentais e psicológicos das crianças que foram fisicamente abusadas: têm mais dificuldade em aprender e capacidades sociais limitadas; têm problemas de sono e stresse emocional, medo de estar sozinhas, comportamento imaturo e atrasos no desenvolvimento da linguagem; na escola sentem dificuldade em concentrar-se; exibem comportamentos violentos, comportamentos de risco ou delinquência; sofrem de depressão ou ansiedade. Têm mais probabilidade de se tornarem adultos vítimas ou perpetradores de violência.
Quando, na infância, as crianças experienciam ou testemunham situações de violência existe maior probabilidade de continuarem envolvidas no ciclo de violência na idade adulta, perpetuando o ciclo de violência nas gerações seguintes, alertam os especialistas.
Neste sentido, torna-se fundamental pedir ajuda especializada quando não se sabe como educar, solicitar apoio para estas vítimas que, pela sua posição de inferioridade e de fragilidade, não sabem como proteger-se, mas que acabam por sofrer as consequências dos maus-tratos no seio familiar.
Quem sabe destes abusos deve denunciá-los às entidades competentes para que possa cortar esse ciclo de violência e encaminhar as vítimas para o apoio psicológico – essencial para ajudar a reduzir o sofrimento que esta realidade acarreta.