Comportamentos

O que torna as pessoas compatíveis?

 
A compatibilidade é uma construção que se inicia no querer ser cúmplice de outra pessoa, mas que exige um conjunto de requisitos elementares para que evolua e se concretize.

 
O primeiro passo para a compatibilidade seja no amor, seja na amizade ou em qualquer outra relação é a disponibilidade. É preciso querer ser compatível com outra pessoa para que se desperte no outro esse interesse.
 
Quando ambas as partes estão interessadas no mesmo objetivo, isso quer dizer que se assumem tal como são e que identificam em si essa capacidade de se compatibilizarem com alguém.
 
É desse desejo profundo que resulta a primeira oportunidade para que duas pessoas se aproximem independentemente do género.
 
A partir dos primeiros pontos em comum conhecidos pela comunicação, passa-se à fase seguinte: o interesse em continuar a conhecer mais sobre o outro e de nos mostrarmos a nós mesmos.
 
É essencial ter em conta que, o processo passa por altos e baixos, sendo que, quando há interesse, há sempre uma parte que procura manter o relacionamento. Para que tal aconteça, esse papel tem de ser assumido por ambos os intervenientes: uma vez um puxa a relação, na outra vez, puxa o outro.
 
Desse empenho partilhado começam a surgir os sentimentos de parte a parte, sabendo que, cada um “é tocado” por estímulos diferentes.
 
Enquanto que uma pessoa se pode sentir muito entusiasmada por um assunto, a outra irá ter mais interesse por exemplo numa música. É dessa diferença que se acrescenta o interesse e se aproximam os pontos em comum.
 
Para que se encontrem pontos em comum, é preciso que cada um dos intervenientes se conheça a si mesmo para saber o que é capaz de dar ao outro e, acima de tudo, receber, pois sem esta partilha, não há compatibilidade.
 
É natural que o interesse cresça mais rápido numa parte do que na outra e que existam interesses e sentimentos distintos, sendo que o fundamental é que se mantenha o interesse em estar em contacto e se libertem os sentimentos.
 
É de anotar que, a compatibilidade exige respeito pessoal, respeito pelo outro, cedências e a noção de que se trata de um processo que pode evoluir em função daquilo que cada um está disposto a oferecer à relação. É um processo que decorre no tempo e em que não vale a pena querer superar etapas, muito menos inibir o organismo de sensações que gostaria de libertar com aquela pessoa, pois quem faz isso, acaba por passar muito tempo a querer compensar aquilo que não deu num determinado momento.
 
Refira-se que a compatibilidade exige muita disponibilidade para se compreender a si mesmo e ao outro, bem como capacidade para apreciar livremente cada momento em que estão juntos.
 
As emoções vão-se libertando à medida em que o cérebro as “autoriza”, pelo que é fundamental que a mente analise e que o corpo liberte o que se sente.
 
Faz sentido verbalizar o que se sente e o que se pensa, à medida em que se sente essa necessidade, pois cada abertura que temos para o outro, é um passo para a construção dessa cumplicidade.
 
Ao mesmo tempo, não se pode perder de vista os objetivos que se quer concretizar com a relação, pois naturalmente que o par vai confrontar-se com dúvidas, medos, bons sentimentos e ansiedade e, isso pode dar lugar a flutuações no entendimento.
 
Depois, é preciso limitar o mais possível o julgamento, uma vez que, este é inimigo de qualquer relacionamento. Se alguém está com outra pessoa a pensar mal dela, o ideal é que não prolongue esse conhecimento, pois já está a ativar um ponto muito negativo. O mesmo se passa com as frases pré concebidas que prejudicam qualquer relação.
 
Se vamos para uma relação a pensar na experiência do amigo que correu menos bem, naturalmente que nem vale a pena avançar. O mesmo se passa com a influência de terceiros, como sendo familiares ou outros que, sem se aperceberem, destroem as relações com as suas “previsões” e a sua noção de compatibilidade já esgotada.
 
É importante assumir o que se quer de forma adulta e responsável e sem a influência de outrem, pois afinal quem vai viver a relação são os seus intervenientes.
 
Muitas vezes, não nos damos conta de que precisamos de falar com amigos sobre a maior parte dos assuntos que deveriam fazer parte da nossa privacidade. Esse ato faz com que poucas vezes saibamos aquilo que queremos e se tomamos a melhor decisão.
 
Quem quer ser compatível com alguém tem de colocar de lado esse tipo de dependência dos outros e assumir as suas escolhas, desejos e interesses, pois apesar de os amigos testemunharem um casamento, só participam se nós quisermos e se eles quiserem. Existe liberdade de escolha, mas acima de tudo, respeito.
 
Muitos dos conflitos que se vivem entre casais e mesmo entre colegas de trabalho e familiares devem-se ao facto de se falar mais fora da relação do que dedicarmos algum tempo a resolver o que se passa a partir do diálogo com a pessoa em causa.
 
É preciso empenharmo-nos para que a compatibilidade ocorra e se desenvolva e, esse tempo para conversar, para dizer o que pode estar menos bem, é precioso para melhorar, para corrigir e para manter duas pessoas juntas, pois é daí que resulta a confiança mútua.
 
Também é fundamental recordar os bons momentos que já se viveu em conjunto, pois é essa memória que permite manter a relação viva e interessante na tal cumplicidade que se pretende. As fotos, as lembranças, os risos que se trocaram, devem ser enaltecidos quando assim se proporciona para que ganhem mais expressão.
 
A compatibilidade é uma construção que é muito gratificante, mas que exige essa felicidade interior para que ganhe mais entusiasmo. Os sentimentos surgem e crescem em função daquilo que vamos experimentando e colocando em causa, bem como daquilo de que nos libertamos para dar mais espaço à emoção. Se por um lado temos de afirmar aquilo que queremos, por outro temos de nos permitir libertar daquilo que não queremos em nós mesmos e no outro, por isso, importa não “chocar de frente” com o problema, mas sim tentar contorná-lo.
 
Em vez de chegar ao pé do outro de forma agressiva depois de ter uma emoção negativa, procure parar, pensar e escutar-se a si mesmo e os seus sentimentos antes de agir ou reagir. Este autocontrole ajuda muito a respeitar o outro e a não darmos uma má imagem a nosso respeito.
 
Na prática, todos procuramos relações pacíficas, interessantes e duradouras, então não podemos de forma alguma alimentar os focos de conflito e aquilo que sabemos que nos é prejudicial em termos pessoais e em termos relacionais.
 
Ao mesmo tempo, não se pode arrastar uma situação que nos incomoda. A compatibilidade requer a esta gestão que se vai aprendendo a partir do treino, do tempo e da experiência, por isso tente acreditando que vai resultar, mas sabendo que, se não chegar ao que pretendia, pode sempre tentar novamente e fazer melhor!
 
Boa sorte!
 
Fátima Fernandes