Sociedade

Os benefícios de viver “de consciência tranquila”

 
Muitos de nós, recebemos uma educação muito mais baseada na quantidade do que na qualidade.

Fomos educados para a punição e para o “castigo”, sem que muitas vezes percebêssemos a razão pela qual algo nos foi vedado. Por essa razão, ao longo do nosso percurso temos a árdua, mas interessante tarefa de tentar compreender quem somos, aquilo de que gostamos e defendemos.
 
Temos de construir a nossa responsabilidade, a nossa consciência, a nossa forma de nos posicionarmos no mundo e nas relações com os outros. Digo que a tarefa é árdua porque nos exige uma permanente análise e reflexão dos nossos comportamentos e da forma de atuação dos outros. Aos poucos, vamos selecionando o nosso sentido, a nossa forma de estar e aquilo que assumimos como valores e como características pessoais.
 
É desse processo contínuo, com altos e baixos que resulta a consciência de quem somos na realidade e, é na mesma sequência que podemos compreender se estamos ou não de consciência tranquila.
 
Um indivíduo que se assume como honesto e cumpridor dos valores e leis da sociedade, terá muita dificuldade em lidar com o roubo, com a corrupção e outros desvios, razão pela qual não arrisca esse tipo de comportamentos.
 
Ao mesmo tempo que, uma pessoa que se assume como cumpridora das normas de um grupo, não terá facilidade em desrespeitar as regras que aceitou quando o passou a frequentar. Quando digo que é importante vivermos de consciência tranquila, é porque considero importante que façamos um exercício diário para nos posicionarmos no mundo e nas mais variadas situações em que participamos, no entanto, é essencial que tenhamos em conta a forma como os outros se mostram em sociedade para que possamos atualizar essa nossa atuação. Quero dizer com isso que, ao invés de sermos desonestos com alguém que o é connosco, podemos afastar-nos desse tipo de influência e ganhar mais energia para sermos como somos e gostamos de ser.
 
Não temos de andar em permanente conflito com o incumprimento dos outros, podemos fazer algo muito mais simples: afastar-nos daquilo que nos querem mostrar e da forma como nos enganam, mas temos de saber o que fazem para nos protegermos e depois decidirmos em consciência.
 
Quando tomo uma posição em relação a outra pessoa, por exemplo, tenho de ter os meus próprios argumentos e, geralmente suporto-me dos meus valores para fazer essa apreciação. Por um lado fico mais reforçada enquanto pessoa e, por outro, sou capaz de rejeitar aquilo que não se enquadra com aquilo que defendo.
 
Todos nós sabemos o que são as regras da nossa sociedade e quem não as cumpre. Nós assumimos a nossa responsabilidade enquanto cidadãos e, temos a liberdade para criticar quem age de forma incorreta, já que isso nos torna mais seguros e confiantes face ao nosso comportamento e nos reforça a consciência do que queremos ser.
 
Educo a minha filha nesta base. Em vez de lhe estar a dizer a toda a hora o que não deve fazer e a baralhá-la com tanta informação, converso com ela e ouço os seus desabafos, o produto dos seus conflitos na escola entre pares. A partir daí, dou-lhe estas dicas que a podem orientar a manter-se estável com a sua conduta e crítica face aos seus colegas.
 
Há dias ela dizia-me que os colegas não cumpriam as regras da funcionária e que iam para uma zona indevida. Aproveitei esse exemplo para lhe reforçar a importância de cumprir as regras sociais: se é proibido é porque existe uma razão e devemos cumprir as orientações dessa autoridade que é a funcionária da escola.
 
Não vale a pena perder tempo com divagações, é explicar-lhe com clareza aquilo que deve fazer e nem se preocupar mais em brincar com quem não cumpre essas orientações quando está em transgressão. Disse-lhe para brincar com outros colegas que não vão para esse local.
 
Percebi que são as exceções que baralham a nossa mente. Uma vez é permitido porque nos apetece, outra é proibido porque assim o entendemos. Isto não pode ser. Temos de ir à base da regra para a fazer valer e explicar com clareza. Cumprimos a regra, estamos de consciência tranquila, não a cumprimos, sentimo-nos mal e temos de falar sobre o assunto.
 
É para as crianças e é para os jovens e para os adultos. Estamos de consciência tranquila quando assumimos a nossa posição, quando nos responsabilizamos pelos nossos atos, quando pensamos acerca do assunto e tomamos uma decisão em função daquilo que sabíamos num determinado momento. Perante os resultados, reavaliamos a situação e corrigimos o que for necessário.
 
Somos mais felizes quando vivemos com esta clareza e objetividade, quando assumimos a nossa posição, os nossos valores e cumprimos as regras que nos são impostas.
 
Se queremos viver melhor, todos temos de ter este papel na nossa vida e na educação dos nossos filhos.
 
Fátima Fernandes