Família

Os filhos não resolvem os problemas dos pais

Ainda se assiste muito a casos de pais que dizem estar juntos “por causa dos filhos”, de dívidas que empurram o casal para a mesma casa e fazem com que os mais novos assistam diariamente a cenários deploráveis de violência, isto para não falar em casais que só sabem viver nesse ambiente violento, seja de forma física, verbal ou outra.

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Lamentavelmente muitos adultos ainda não perceberam que, se se enganaram na pessoa que escolheram para casar, não são os filhos que têm de acarretar essas consequências.
 
Muitos adultos ainda precisam de compreender que, os mais novos não são responsáveis nem pela felicidade nem pela infelicidade de um casal. Foram esses mesmos adultos que tomaram a decisão de se unirem, fosse com que interesse fosse e que assumiram que queriam ter filhos num determinado momento.
 
Há quem se refira a uma gravidez indesejada para explicar esse casamento, mas a liberdade em se poder separar quando se apercebe da incompatibilidade entre o casal, consegue evitar que os mais novos cresçam num ambiente que não merecem.
 
Se repararmos bem, os filhos deveriam nascer de um ato de amor, se tal não acontece, temos de prevenir uma gravidez indesejada. Se a mesma ocorreu, a mãe pode muito bem fazer o seu caminho e o pai validar as suas escolhas sem que o filho seja ou se sinta o produto desse erro.
 
Assistimos a inúmeros casos destes e precisamos de ajudar as pessoas a pensarem mais em si mesmas e nas crianças que nada têm a ver com a imaturidade dos pais, mas ainda colhemos justificações de toda a espécie para que tal aconteça.
 
Se no passado uma mulher era obrigada a estar com uma pessoa que não queria e até ter de casar com ela, essa não é a realidade dos nossos dias, pelo que já não temos a mesma desculpa para repetir o erro. Podemos fazer o melhor por nós mesmos e zelar pelo desenvolvimento equilibrado de uma criança que é fruto de uma relação que não se queria e que não se tem de arrastar.
 
A criança vive muito melhor com pais separados que se respeitam e que a respeitam, do que com pais que, à custa de “quererem cuidar dela”, estão a destruir-lhe o presente e a comprometer-lhe o futuro.
 
Temos de falar cada vez mais abertamente nestes temas para despertar consciências, para pedirmos ajuda quando não sabemos o que fazer e para melhor aconselharmos quem está numa situação semelhante.
 
Está provado que 37% dos casais portugueses estão juntos por questões financeiras. Terão esses pais pensado no futuro dos seus filhos quando se podem separar e cada um dar o seu melhor aos descendentes?
 
Ao mesmo tempo, mais de 60% dos jovens portugueses queixam-se de falta de atenção dos pais, o que nos leva a questionar como é que isto é possível num tempo em que as pessoas decidem ter ou não uma relação com outra pessoa, podem casar-se pessoas do mesmo sexo em Portugal e inclusive as mentalidades estão muito mais abertas para este novo tempo e para os perigos atuais.
 
Como se explica que ainda se tratem assim as nossas crianças e jovens?
 
A única resposta que encontro é que os adultos andam muito ocupados com outras coisas e não pensam no valor que os filhos têm para as suas vidas.
 
Se no passado o desconhecimento parecia ser a resposta para tudo, nos dias de hoje em que existe tanta informação disponível, tanto conhecimento técnico, qual é a resposta para esta realidade?
 
Acredito que paramos pouco para pensar acerca dos nossos atos e das nossas escolhas. Sim, andamos muito ocupados com promoções na carreira, com novas aquisições materiais e ainda mais com a imagem que se mostra aos outros. De tal ordem que, só quando os nossos filhos nos começam “a dar problemas” é que nos lembramos de que eles existem…
 
Deveríamos educar para prevenir problemas, mas os adultos que são pais dessas crianças que se dizem esquecidas pela família, realmente têm pouco tempo e disponibilidade para elas e isso verifica-se nas mais variadas situações e extratos sociais. Andamos todos muito acelerados, mas sem saber gerir o nosso tempo e as nossas prioridades. Como é que podemos entregar os nossos filhos à sociedade quando não sabem sequer proteger-se?
 
Como queremos que aprendam a vida se ainda não tiveram tempo e vivências suficientes para conseguirem fazê-lo?
 
Acredito que alguns especialistas na matéria têm razão quando dizem que, muitos pais são imaturos e incompetentes para assumirem essa função, ainda assim, é importante que se assumam, que peçam ajuda e que melhorem o seu comportamento, pois os filhos não só não resolvem os problemas dos pais, como são os seus principais alvos.
 
Muitos dos adultos de hoje não conseguem ser felizes porque nunca tiveram amor e compreensão por parte dos seus progenitores. Será justo reproduzirmos esse modelo nos nossos filhos que nada têm a ver com o passado e que nasceram neste tempo?
 
É importante que deixemos de procurar as melhores desculpas e que passemos para a ação. Analisar o que estamos e não estamos a fazer. Conversar com os nossos filhos e compreender o que se está a passar dentro deles e ver até que ponto estamos felizes no nosso casamento para evitarmos dizer que somos uma família feliz, ou “está tudo mais ou menos”, quando na realidade estamos tristes e a precisar de ajuda.
 
Temos de pensar na nossa vida de uma forma responsável e muito mais orientada para nós mesmos.
 
A sociedade ajuda-nos a acrescentar aquilo que precisamos, não é dela que recebemos o apoio e o carinho de que necessitamos. Esses sentimentos têm de vir de casa, dos pais e, os progenitores só dão se receberem do outro adulto com quem vivem.
 
Assim, temos em mãos a tarefa de avaliarmos a nossa parceria amorosa, a qualidade da nossa vida afetiva para podermos medir o nosso grau de satisfação. É daí que resulta a qualidade que se dá aos nossos filhos e, temos de ter coragem para nos separarmos quando o ambiente é negativo, sob pena de os nossos filhos serem os agressores de amanhã por já terem sofrido demais para a sua idade. E, como se isso já não fosse um motivo suficiente para os pais seguirem os seus caminhos, temos o sofrimento de um filho que se vê instável e inseguro no ambiente que deveria ser de amor e carinho, de proteção.
 
Os filhos procuram a proteção dos pais e, em muitos lares portugueses apenas encontram a violência, o desentendimento, a irritabilidade, o mal-estar e a frustração de quem acaba por culpabilizar os filhos por terem nascido, pois de outra forma, dizem que “não estariam naquela prisão”.
 
Estariam sempre mesmo se assim não tivesse acontecido. Uma pessoa que suporta a violência dentro de casa, aceita-a com ou sem filhos porque é ela que está errada na sua forma de se respeitar a si mesma, por isso, vamos pedir ajuda a quem de direito e cortar com esta situação por si e pelos seus filhos.
 
Fátima Fernandes