Família

Pais agressores e controladores acabam sozinhos

 
A comunidade científica une-se em torno da tese de que, estamos perante a melhor geração de pais de sempre, isto porque existe um enorme contraste entre os modelos de educação atuais e os de décadas passadas.

 
Para os investigadores, não há dúvidas de que o conhecimento alcançado nas últimas décadas tem surtido efeitos positivos, em especial desde que a escola se tornou mais aberta, desde que existem comissões de proteção de crianças e jovens em risco e uma maior atenção para com os mais novos perante os maus-tratos parentais.
 
Não é novidade para ninguém que se educa com razão e com o coração, mas também é uma realidade que se vivem tempos diferentes e que existe uma maior preocupação para com os pais para evitar que se repitam os erros do passado.
 
Continuam a existir pais agressores, sendo mais facilmente sinalizados pelas comissões. As crianças são-lhes retiradas caso não reúnam as condições mínimas de segurança, habitação, afetividade, alimentação educação entre outros, no entanto, muitos dos pais de hoje, são os filhos do passado, são as crianças vítimas de maus-tratos que, ou conseguiram superar e ser pais excelentes, ou reproduziram os padrões dos progenitores e continuam com problemas com as autoridades.
 
De facto, as coisas modificaram-se e sabe-se hoje que, a maior parte dos pais agressores e controladores, acabam por viver uma velhice triste e isolada, tudo porque os filhos evoluíram e não conseguem compreender a razão pela qual foram tão mal tratados por que os deveria amar, educar e proteger.
 
Muitos pais desse tempo, alteraram a sua conduta e aperceberam-se dos seus erros mantendo um valor positivo na vida dos filhos, mas nem todos tiveram essa capacidade, razão pela qual existem tantos idosos ao abandono neste país, pois se é fácil afirmar que se tratam mal os idosos em Portugal, não nos podemos esquecer da forma como os mesmos trataram os seus filhos no mesmo país a poucas décadas atrás.
 
Idealmente deveria existir uma compreensão do tempo e uma mudança, mas os problemas de imaturidade e de saúde mental, não permitem que os mais velhos de hoje percebam os seus erros do passado.
 
Está provado que podemos aprender até ao último dia de vida e que podemos sempre modificar algo, mas para isso é preciso tomar consciência daquilo que se fez, assumir os erros e querer mesmo orientar a vida num sentido mais livre, feliz e criativo. Mas é possível chegar a esse ponto se a maior parte destas famílias vive num nível de existência muito abaixo do normal? Nem todos sentem dificuldades económicas, mas sim em termos de autoestima, resultante de uma educação também ela baseada nos maus-tratos e no autoritarismo. Isso implicaria uma mudança profunda que só se consegue com apoio técnico especializado e a tal determinação em querer alterar aquilo que se assume como um erro, o que não é fácil para toda a gente.
 
Com o seu percurso de vida, com a tomada de consciência da realidade, os filhos acabam por compreender que foram maltratados pelos pais e por lhes perder o afeto que nunca se desenvolveu. Por essa razão, desligam-se e acabam por seguir o seu percurso, virando essa página da sua vida. Tentam ser bons pais para os seus filhos, tentam uma realização pessoal e profissional e constituem a sua família à margem do passado. Esta é uma das explicações pelas quais os pais agressores e controladores acabam por terminar o seu percurso sozinhos, pois ao não conseguirem cativar os filhos, muito menos atraem os netos e demais familiares.
 
Se há quem defenda que, pelo menos no Natal se deve fazer um esforço e reunir a família à mesa, fazendo de conta que nada se passou, são muitos os entendidos que consideram que não é nessa quadra que se apaga com uma borracha ou um corretor aquilo que não se assume, que não é alvo de arrependimento, muito menos de um sincero pedido de desculpas, pelo que se deixa ao critério de cada um a liberdade de fazer o que bem entender nessa e noutras noites do ano.
 
Naturalmente que, os pais agressores e controladores se baseiam nessa força para manterem os familiares por perto, mas quando estes lhes perdem o medo, dificilmente há volta a dar, já que acabam por seguir em frente sem olhar para trás. Este abandono acaba por ser como que uma moeda de troca por aquilo que se sentiu ao longo da vida…
 
Fátima Fernandes