Família

Pais queixam-se que filhos “estão cada vez mais rebeldes”

 
Muitos pais queixam-se que os filhos “estão cada vez mais rebeldes” e que não sabem como agir.

Diz a opinião pública que tal acontece porque existe falta de autoridade dentro de casa, que os pais de hoje não sabem educar, que se passou do autoritarismo para a libertinagem e daí por diante, mas na prática, pais e filhos estão de costas voltadas e é preciso ajudar estas famílias.
 
Na opinião de muitos psicólogos, é preciso atender a cada caso em particular e tentar perceber como é que cada família está a lidar com a situação para que se possa intervir da maneira mais correta, mas tendo por base muitos relatos de pais e filhos em consulta, é possível oferecer algumas linhas de orientação gerais, enfatizam os mesmos especialistas.
 
Assim, é preciso assumir que a sociedade mudou e que, «os modelos educativos de outros tempos; especialmente os baseados no autoritarismo, na violência física e verbal, as humilhações e críticas constantes, já não se aplicam, pelo que andar sempre a dizer que, «com uma boa palmada, um castigo á medida ou com o cinto tudo se resolve», não tem qualquer fundamento.
 
É preciso entender que, acima de tudo, pais e filhos merecem ser respeitados e que para isso, a relação se deve basear na autoridade e não no autoritarismo. «os pais são a referência dos filhos nos primeiros anos de vida e, é deles que se espera um exemplo positivo, a capacidade de dialogar, de ouvir os problemas dos filhos, de dar um conselho e, acima de tudo, de oferecer muito amor, respeito e compreensão».
 
Segundo os especialistas, «é também muito importante que os pais envolvam os filhos no processo educativo explicando-lhes a razão de existência de uma regra e qual a importância de a mesma ser cumprida».
 
É ainda fundamental que os mais novos sejam alertados para os principais perigos que podem encontrar  para que possam ser responsáveis pelos seus comportamentos e para que aprendam a proteger-se, como é o caso de locais que se frequentam, de consumos indevidos, más companhias e daí por diante».
 
Os jovens tornam-se rebeldes porque sentem falta de amor, compreensão e diálogo, sustentam muitos entendidos, pelo que, é imperioso conversar com eles, mesmo que isso não tenha sido uma prática habitual na educação. É necessário que os pais reconsiderem também o seu modelo e a forma como têm aplicado as regras, sabendo que, a imposição não funciona nem em crianças nem nos jovens. Os mais novos precisam de saber a razão pela qual não devem fazer isto ou aquilo, os motivos que levam a que os pais lhes retirem os smartphones, lhes limitam as saídas e daí por diante, pois caso contrário, «a guerra está instalada e a convivência torna-se muito difícil», alertam os mesmos entendidos.
 
Ao mesmo tempo, os pais precisam de ser firmes nas suas orientações para que os filhos entendam que existem consequências com os seus comportamentos e, sempre que uma regra não é cumprida, deve ser explicado o motivo ao filho. Isso é respeito e leva a que a criança ou jovem entenda que existe rigor e uma razão muito forte para que uma norma seja ultrapassada como é o caso de poder ir para a cama mais tarde porque está de férias, poder comer um doce porque é dia de festa ou sair até mais tarde porque está na presença dos pais e pode fazê-lo.
 
Não podemos perder de vista que, as crianças e jovens absorvem tudo o que veem, pelo que o exemplo dos pais é a sua base educativa. Neste sentido, se os pais souberem que os filhos os imitam, vão perceber que, muitos dos seus comportamentos erráticos são aprendidos em casa. Com uma melhoria nesse exemplo, todos estarão em linha com as desejadas regras, sugerem os entendidos.
 
Muitas das “más respostas” que os filhos dão aos pais, são observadas na forma como os progenitores lidam com eles ou no seio do casal, tal como muitos dos comportamentos que os pais reprimem nos filhos, são um reflexo do ambiente familiar. Ao perceberem isto, os pais poderão melhorar em conjunto com os filhos.
 
Se os pais não estão habituados a dialogar com os mais novos, não podem esperar que estes desabafem e falem dos seus problemas com os progenitores, pelo que, se os adultos chamarem os mais novos para uma conversa franca, se aceitarem as divergências e se procurarem chegar a um acordo, «certamente que a relação vai melhorar e muito», sublinham os mesmos especialistas.
 
«Não há filhos rebeldes sem que os pais falhem em alguns pontos», enfatizam. Muitos pais educam com base na educação que também receberam dos seus progenitores, imitando outras famílias e sem que parem para refletir acerca dos seus comportamentos ou que consigam compreender onde podem estar a falhar. Dizem que os filhos estão rebeldes, que não conseguem fazer nada deles, mas não vão ao fundo do problema, muitas vezes por desconhecimento. Nesse sentido, em muitos casos, é necessária a ajuda de um mediador familiar que pode fornecer instruções preciosas para que pais e filhos se entendam e, na maior parte dos casos, é um psicólogo ou terapeuta familiar que faz esse trabalho.
 
Acima de tudo, é essencial que pais e filhos queiram entender-se, que pretendam encontrar a harmonia na relação e que lutem em conjunto por essa conquista. Como mais velhos e adultos, os pais devem dar o primeiro passo, seja para chamarem os filhos até si, seja para pedirem ajuda a um profissional que os possa orientar.
 
É ainda importante reconhecer que, não há pais nem filhos perfeitos, que há mal entendidos que conduzem a verdadeiros dramas familiares e que, com afeto e muita compreensão, conseguem-se resolver muitos problemas, é preciso é que todos estejam interessados em mudar o rumo da relação.
 
Na posição dos psicólogos, muitas vezes os problemas arrastam-se porque não existe nenhuma parte com a força necessária para tentar resolver o conflito, pelo que, é mesmo aí que é preciso intervir, sob pena de a situação ganhar proporções maiores.
 
Os mesmos entendidos lembram que, em algumas famílias, não se aposta na educação nos primeiros anos de vida da criança e, quando os progenitores são chamados à atenção por professores ou têm de enfrentar problemas com a polícia e demais autoridades é que se pensa na educação como um alicerce essencial para o desenvolvimento sadio e para a correta integração social. Em muitos casos, é na adolescência que tal acontece, numa idade em que os jovens já são muito crescidos e em que se torna muito mais difícil chamar a atenção ou implementar uma regra. Idealmente, a educação deve começar no berço e orientar a vida diária das famílias. Quando tal não acontece, torna-se necessário que pais e filhos se sentem á mesma mesa, que sejam humildes, que se respeitem e que mudem o rumo da relação. É aí que ajuda muito a presença de um mediador e que se torna fundamental que os pais se assumam como mais velhos e referências de autoridade para que possam dar respeito em troca dele, firmeza e rigor.
 
Por último, é de registar que, a rebeldia é natural no ser humano e que todos a possuímos, já que, é a mesma que nos distingue, que nos caracteriza e nos torna únicos e especiais, pelo que não é nada de negativo ou algo novo que tenha surgido neste tempo, mas sim, algo que faz parte de todos nós e que deve ser alimentado com “conta, peso e medida”.
 
Devemos permitir alguns comportamentos nos nossos filhos para que eles se afirmem e corrigir aquilo que é menos correto para que aprendam as regras. É nesta dualidade que se baseia a educação. Com aquilo que permitimos, estamos a dizer aos mais novos que os respeitamos na sua essência e singularidade, com o que limitamos, estamos a mostrar-lhes que há uma consequência se aquele comportamento existir e os jovens compreendem muito bem o processo porque sabem que nem tudo lhes é permitido, mas que, aquilo que não constitui um perigo real lhes é autorizado, que têm o direito de serem iguais a si mesmos e que os pais os respeitam e valorizam tal como são.
 
Fátima Fernandes