Comportamentos

Pessoas que se dão pouco afetivamente

Por norma, estas pessoas evitam ao máximo qualquer tipo de intimidade emocional.
Por norma, estas pessoas evitam ao máximo qualquer tipo de intimidade emocional.  
Foto: Freepik
Há pessoas que se dão pouco afetivamente pelas mais variadas razões, sendo que, na maioria dos casos, o principal motivo está associado a experiências negativas na infância.

Designa-se por estilo de apego evitativo o facto de homens e mulheres sentirem dificuldades em manter uma relação de proximidade com o/a parceiro/a, fugirem aos compromissos e mostrarem alguma relutância em tomar a decisão de partilhar a vida com outra pessoa.
 
Na base destas atitudes está o facto de estas pessoas sentirem que o mundo afetivo e a entrega são um “terreno perigoso” e que pode comprometer-lhes a liberdade e a autonomia que desejam preservar.
 
Por norma, estas pessoas evitam ao máximo qualquer tipo de intimidade emocional e concentram-se no trabalho, nos grupos de amigos e outras relações mais superficiais, acreditando que essa distância as protege de uma ligação mais profunda e que implica mais envolvimento e menos independência.
 
Com este comportamento, as pessoas com um estilo de apego evitativo não falam do que realmente pensam e sentem, fogem daquelas conversas mais íntimas e honestas, pelo que a sua comunicação é frágil, pouco consistente e até menos interessante do que deveria, pois a constante fuga de determinados assuntos dá lugar à desconfiança e á instabilidade no seio de uma relação.
 
Segundo John Bowlby «as pessoas são biologicamente programadas desde o nascimento para estabelecerem vínculos com outras pessoas, pelo que, quem vive o estilo de apego evitativo reflete que passou por situações dolorosas que o levam a não conseguir entregar-se emocionalmente».
 
Segundo o mesmo especialista, geralmente as pessoas tornam-se mais distantes do mundo emocional porque passaram por experiências dolorosas na infância como sendo, pais pouco cuidadosos, distantes, frios e que se limitavam a satisfazer as necessidades básicas dos filhos, relações com vínculos pouco consistentes ou pais que abandonaram os filhos e cuja marca lhes ficou gravada. Também há casos em que os pais permanecem na vida dos mais novos, mas que dão tão pouco afetivamente que acabam por não permitir que os filhos desenvolvam um mundo emocional saudável. Quando adultas, estas pessoas refletem este percurso e sentem muita dificuldade em viver uma relação conjugal de qualidade.
 
Na prática e para que lhe seja mais fácil identificar, os entendidos nesta matéria apresentam os 4 sinais que demonstram que uma pessoa vive um estilo de apego evitativo:
 
1. Medo do compromisso
 
Estas pessoas ficam muito ansiosas quando têm de tomar a decisão de assumir um compromisso com alguém, seja para namorar, seja para casar, seja para partilhar a mesma casa. Sentem muito receio de fazer planos a médio prazo porque começam logo a pensar na perda da autonomia e independência, ao mesmo tempo em que imaginam que vão sofrer com uma ligação mais próxima e íntima, por isso, tentam fugir.
 
2. Medo da intimidade emocional
 
As pessoas com um estilo de apego evitativo demonstram muita dificuldade em mostrar o que pensam, o que sentem e o que gostariam de alterar na sua postura e na do outro porque tudo isso implica um maior envolvimento e uma ligação mais profunda. Este comportamento afeta a saúde da relação, uma vez que, a pessoa que está ao seu lado sente-se sempre excluída e incapaz de receber afeto, compreensão e carinho, ingredientes que o apego evitativo repele completamente.
 
3. Necessidade excessiva de espaço e autonomia
 
Todos precisamos de manter a nossa margem de conforto e liberdade numa relação, mas as pessoas com um estilo de apego evitativo apresentam um excesso de necessidade de se sentirem independentes, precisamente porque querem manter-se fora da relação e afastar qualquer tipo de profundidade. Assim, têm sempre planos individuais e pouco incluem a pessoa que está ao seu lado. Também lhes é fácil terminar uma relação sem motivo aparente e desligarem-se sem que se entenda muito bem porquê.
 
4. Comportamento defensivo
 
Em situações em que seria suposto estas pessoas manifestarem algum tipo de afeto e de sensibilidade, é quando se afastam, ficam mais fechadas e dão menos oportunidade ao diálogo e à partilha de palavras e sentimentos com quem supostamente deveriam amar. Este é um indicador do comportamento defensivo que adotam quando se sentem mais vulneráveis e acabam por expressar exatamente o oposto. Em vez de mostrarem afetividade, estas pessoas mostram-se agressivas, críticas, irónicas e sarcásticas como forma de se protegerem das emoções, o que não beneficia a relação e, em muitos casos, a destrói completamente.
 
Na posição dos entendidos em terapia de casal, há alguns conselhos que se podem aplicar para melhorar esta situação e, em muitos casos, salvar a relação, no entanto, tenha sempre em conta que, cada pessoa é única e especial, não há duas relações iguais e, em muitas situações, é necessário o apoio de um terapeuta.
 
1. Promova uma comunicação aberta e honesta
 
Mesmo que a pessoa que está ao seu lado tente fugir do diálogo, tente que o mesmo ocorra e demonstre a sua sensibilidade e abertura. Com sinceridade, há muitos casos em que é possível estabelecer uma relação de confiança e de abertura mútua.
 
2. Respeite o espaço e autonomia do outro
 
Numa fase inicial, é importante que ambos se sintam livres para querer ou não estar tanto tempo com o outro. Aos poucos, com esta liberdade, é natural que o casal se aproxime mais e que faça mais planos em conjunto. É um processo gradual e que exige muita calma e compreensão de parte a parte.
 
3. Mostre recetividade, paciência e compreensão
 
Apesar de muitas vezes ser difícil a tarefa de esperar pelo outro, é muito importante que se demonstre essa capacidade com uma pessoa que tem medo de se envolver afetivamente. Por isso, tenha calma, saiba esperar, conversar e mostrar amor. É possível que, no tempo, a pessoa que está ao seu lado se sinta mais confiante, que acredite na relação e que se entregue mais.
 
4. Peça a ajuda de um psicólogo
 
Como já referimos acima, em muitos casos, residem tantos problemas emocionais que o parceiro não consegue ultrapassar nem apoiar, pelo que é fundamental que se peça ajuda. Na maioria das situações é feito um trabalho individualizado e uma terapia de casal para que se reverta a situação. Mais uma vez alertamos que o tempo e a paciência são ingredientes valiosos em todo este processo.
 
Fátima Fernandes