Sociedade

Poluição:Estudo europeu revela que todos os fabricantes de carros a gasóleo ultrapassam níveis da Volkswagen

Os resultados deste estudo demonstram que a União Europeia e os Estados-membros não tomaram as medidas necessárias que se exigiam há um ano, quando o Dieselgate aconteceu, revelou hoje um comunicado da Quercus.

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Decorrido um ano após o escândalo das emissões nos Estados Unidos que envolveu a Volkswagen (‘Dieselgate’), um estudo divulgado esta segunda-feira em Bruxelas pela Transport&Environment (T&E), da qual a Quercus é membro efectivo e presidente da direção, revela que este fabricante está atualmente a vender, na Europa, os veículos a gasóleo menos poluentes. Por outras palavras, todas os outros fabricantes de automóveis a gasóleo (ligeiros de passageiro e comerciais) estão em claro incumprimento dos valores limite de emissão de óxido de azoto (NOx), estabelecidos pelas normas Euro 6.
 
Esta melhor performance da Volkswagen, no que diz respeito às exigências impostas pela norma Euro 6, não tem no entanto nada que ver com o ‘Dieselgate’. 
 
Explica-se, sim, por opções tecnológicas mais inteligentes após o escândalo de há um ano, em que a marca foi acusada de fraude pela Agência do Ambiente Americana (EPA) por incluir um dispositivo de "software" nos motores dos seus veículos a gasóleo comercializados entre 2011 e 2015, que permite reduzir as emissões de poluentes em laboratório comparativamente aos valores reais em estrada, não cumprindo a norma Euro 5.
 
Os modelos a gasóleo da Fiat e da Suzuki lideram o ranking, tendo excedido por 15 vezes o valor máximo permitido para o óxido de azoto (NOx) de acordo com a norma Euro 6, que estabelece os mais recentes limites de emissão. Já os modelos da Renault-Nissan excederam esse limite por mais de 14 vezes. Segue-se a General Motors (fabricante das marcas Opel e Vauxhall), com 10 situações de incumprimento. A Volkswagen ocupa a última posição, na qualidade do fabricante com menos infrações, mas ainda assim tendo registado duas situações com emissões de NOx acima do limite legal.
 
Este estudo da T&E revela ainda que nas estradas Europeias circulam cerca de 29 milhões de veículos a gasóleo, ligeiros de passageiros e comerciais, em situação de incumprimento das normas de emissão. Estes veículos emitem, pelo menos, três vezes acima do que o limite de NOx Euro 5. Apenas um em cada quatro veículos a gasóleo registados desde 2011 cumprem este limite.
 
Segundo o mesmo comunicado da Quercus, estes veículos foram aprovados para venda pelas autoridades nacionais responsáveis pela sua homologação, principalmente na Alemanha, França, Reino Unido, Espanha, Itália, Luxemburgo e Países Baixos.
 
Os países onde circulam o maior número de veículos poluentes são a França (5,5 milhões), seguida pela Alemanha (5,3 milhões), o Reino Unido (4,3 milhões), a Itália (3,1 milhões), a Espanha (1,9 milhões) e a Bélgica (1,4 milhões).
 
Em Portugal, estima-se que 376 mil veículos não cumpram as normas Euro 5 e Euro 6.
 
Refira-se a este propósito que a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveu o agravamento dos níveis de poluição do ar como uma "emergência de saúde pública".
 
No ano passado, a Agência Europeia do Ambiente afirmou que o dióxido de azoto (NO2) emitido principalmente pelos veículos a gasóleo em áreas urbanas, foi responsável por um número estimado de 72.000 mortes prematuras na Europa, em 2012, com especial incidência em Itália (21.600); no Reino Unido (14.100); na Alemanha (10.400); na França (7.700); em Espanha (5.900) e na Bélgica (2.300).
 
Em Portugal, a AEA estimou a ocorrência de 470 mortes prematuras, em 2012, devido aos elevados níveis de NO2.
 
Quercus defende criação de um observatório europeu
 
Para a Quercus, é inadmissível que, um ano após o escândalo da Volkswagen nos EUA, que se estendeu a outras marcas, os fabricantes de automóveis continuem a comercializar veículos a gasóleo poluentes, com a conivência da Comissão Europeia e dos Estados-membros. 
 
Para a Quercus, o verdadeiro escândalo do “Dieselgate” na Europa manifesta-se através do olhar cego dos reguladores nacionais perante a evidência de manipulação dos dados de emissão, com o único propósito de proteger os fabricantes automóveis europeus.
 
Nesse sentido, considera urgente a criação de um observatório europeu independente que vigie a ação das entidades reguladoras dos vários Estados-membros e assegure que o mercado único de veículos acautela o melhor interesse e a defesa da saúde de todos os cidadãos.