Saúde

Presidente da ULS Algarve diz que projeto do Centro Oncológico do Sul nunca teve autorização expressa do Governo

Tiago Botelho, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve
Tiago Botelho, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve  
Foto - ULS Algarve
O projeto do Centro Oncológico do Sul nunca foi autorizado pelo Governo e a Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve não possui direito de superfície sobre o terreno onde deveria ser construído, disse hoje o presidente da ULS.

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“Da tutela, nunca existiu uma aprovação deste projeto e era na altura obrigatório um parecer favorável da Administração Regional de Saúde do Algarve e da Administração Central do Sistema de Saúde, a ACSS, e, de facto, uma autorização expressa da tutela, que nunca existiu”, disse à Lusa Tiago Botelho.

Na passada semana, o projeto do Centro Oncológico de Referência do Sul (CORS) esteve em debate na comissão parlamentar de Saúde, na qual foram ouvidos os presidentes das autarquias de Faro e Loulé, que cederam o terreno para onde estava prevista a sua implantação, e a atual e anterior administração da ULS do Algarve.

Em declarações à Lusa, o atual presidente da ULS, que tomou posse em novembro, disse que apesar de não haver autorização da tutela, o antigo Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) despendeu mais de 400 mil euros na aquisição de serviços de consultoria e na execução de projetos de especialidades.

Segundo Tiago Botelho, pela sua dimensão financeira, o projeto carece de uma autorização expressa da tutela e de um parecer favorável do Conselho Fiscal da agora ULS, mas “nem um nem outro existem” de forma a permitir viabilizar o investimento, que deverá rondar os 23 milhões de euros.

Por outro lado, acrescentou, a única fonte de financiamento assegurada é uma verba de 8 milhões de euros do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), inscrita no Algarve 2030, não existindo “nenhum compromisso da tutela de inscrever em Orçamento do Estado o restante valor”, apontou.

“É um dos processos na Administração Pública que, dada a sua dimensão e dado o dinheiro que entretanto já está gasto, que eu poderei dizer que foi gerido da forma mais inábil que eu vi”, afirmou o responsável, defendendo que o projeto, do ponto de vista legal, jurídico e funcional, “não tem maturidade para avançar”.

O centro, que iria servir 3.500 doentes por ano, proporcionaria uma resposta atualmente inexistente no Sul do país, através da disponibilização de um equipamento de PET-TC, evitando, assim, que os utentes tivessem de se deslocar a Lisboa ou Sevilha para poder receber tratamentos e fazer exames na área oncológica.

O terreno onde deveria ser construído, no Parque das Cidades, foi cedido em abril de 2023 pela Associação de Municípios Loulé/Faro, mas, em novembro de 2024, a Câmara de Loulé rejeitou liminarmente o projeto, alegando o facto de este se encontrar em Área Verde Equipada no Plano de Pormenor do Parque das Cidades e, também, por extravasar os limites da parcela.

Segundo o despacho da divisão de Urbanismo da Câmara de Loulé relativo ao licenciamento para a construção do centro, a que a Lusa teve acesso, o “uso proposto de um centro oncológico não se enquadra na área verde equipada (…) pelo que o processo será alvo de uma rejeição liminar”.

Para Tiago Botelho, “tudo aqui correu mal”, no sentido em que se avançou com projetos para um terreno sem viabilidade construtiva e sem que tenha sido feito um pedido de informação prévia à Câmara Municipal de Loulé, além do facto de haver apenas a “promessa da entrega” de um terreno e não a sua posse efetiva.

“E, portanto, chega-se a este ponto sem dinheiro, sem terreno e sem projeto, porque o próprio projeto não cabe dentro do lote disponibilizado”, lamentou, reiterando que existe uma intenção de entrega de terreno expressa num protocolo firmado entres os municípios e o antigo CHUA, mas nunca concretizada.

Assim, o presidente da ULS considera que “não faz sentido continuar a investir tempo e dinheiro num projeto” cuja viabilidade não está assegurada, sendo preferível integrar o futuro centro no Hospital Central do Algarve, cujo perfil assistencial já prevê a instalação de equipamentos para radioterapia e de um PET-TC.

Lusa