Comportamentos

Psicóloga explica o que se esconde por detrás da Oniomania

 
O Algarve Primeiro falou com a psicóloga Soraya Rodrigues Aragão que, de uma forma sucinta e esclarecedora, nos apresenta um problema da atualidade, “com vista a elucidar a população acerca da Oniomania,” bem como oferecer recursos e estratégias para enfrentar e lidar com este distúrbio, de modo a diminuir o sofrimento e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida de quem sofre deste transtorno.

 
Em linhas gerais, a especialista avança que, “a Oniomania é o impulso incontrolável de comprar algo que não apresenta real necessidade”, onde a pessoa não dispõe de recursos financeiros ou que este supere o seu orçamento para efetuar o pagamento destas dívidas, dificultando ou mesmo prejudicando os seus compromissos, a sua qualidade de vida, bem como a de terceiros.
 
Soraya Aragão salienta  que, no caso em que a pessoa tem condições financeiras mas não controla o impulso de comprar, abarrotando objetos que não sabe sequer quando (e se) vai usar, também pode sofrer de oniomania, “pois a característica central deste transtorno não é a condição socioeconómica, e sim a dificuldade ou mesmo incapacidade de controlar este mesmo impulso”.
 
Refira-se que, a Oniomania ou Transtorno do comprador compulsivo tem acometido cada vez mais pessoas em todo o mundo, chamando a atenção da Organização Mundial de Saúde perante as estatísticas cada vez mais alarmantes.
 
Segundo a mesma psicóloga e autora de diversos trabalhos, este transtorno acomete mais mulheres que homens, podendo ser crónico ou recorrente.
 
Soraya Rodrigues Aragão divide os sintomas “em característicos e os de abstinência”, sendo que, no primeiro caso, ocorre "o comprar pelo prazer de comprar", não havendo necessidade nem funcionalidade de uso do objeto, tornando-se muito comum a compra do mesmo de cores diversificadas ou em número excessivo, com o intuito de usá-lo posteriormente. Quanto à sintomatologia de abstinência, a mesma psicóloga enumera, em casos mais brandos, a irritabilidade, e em casos extremos ou patológicos, a sudorese, a dispneia e o impulso incontrolável para a compra. Neste último caso, a oniomania não se diferencia dos sintomas característicos da síndrome de abstinência de drogas como o cigarro e o álcool, bem como dos jogos patológicos e da nomofobia (vício de uso de smartphones, tablets e computadores).
 
De acordo com a mesma especialista, o ato de comprar torna-se um distúrbio quando a pessoa tem pensamentos intrusivos que só são aliviados quando efetua uma compra, resultando em prejuízos económicos, sociais e relacionais.
 
Soraya Aragão faz ainda a analogia entre a Oniomania e o Transtorno Obsessivo Compulsivo, ilustrando que, a primeira apresenta muitas características em comum com o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), tais como a acumulação de objetos, as obsessões (pensamentos intrusivos), a compulsividade para aliviar a ansiedade provocada pelas obsessões, bem como o sentimento de culpa após efetuar a compra. No entanto, diferencia-se do TOC, visto que os oniomaníacos apresentam apenas o ritual de comprar, mas não os rituais de verificação, limpeza, simetria, superstição, entre outros. Ainda assim, realça a mesma psicóloga,  “isto não implica que a compulsão por compras não possa estar presente no Transtorno Obsessivo Compulsivo”.
 
No que se refere a questões psicológicas relacionadas com a Oniomania, esta especialista não tem dúvidas de que, “assim como  em qualquer transtorno, existem questões subjacentes de cunho psicológico que são “deflagradores preditivos de comportamentos de adição” os quais se configuram “como mecanismos de defesa para lidar com a carência afetivo-emocional, a baixa autoestima, a necessidade de autoaceitação, de inclusão social e o vazio existencial que norteiam a nossa atual sociedade hedonista, descartável e imediatista”. Neste contexto, “é necessário rever os valores que direcionam a nossa vida, de modo a termos consciência do que de facto é importante para mantermos a tranquilidade e paz de espírito, apesar dos condicionamentos e apelos dos media e do marketing”.
 
Relativamente aos recursos para enfrentar e lidar com a Oniomania, Soraya Aragão realça que, “o primeiro passo para a cura é a auto aceitação”. A pessoa tem de se auto perceber, avaliar-se,  auto questionar-se sobre as suas reais necessidades. Neste caso, procurar compreender qual a função do comportamento de compra na sua vida, que vazio emocional está a tentar preencher, quais os conflitos existenciais que está a tentar anestesiar através da obtenção de objetos pessoais.
 
Em suma, é necessário compreender o que existe por detrás do desejo irracional de comprar, para que, a partir da ajuda de um psicólogo possam ser modelados novos comportamentos.
 
Na posição de Soraya Rodrigues Aragão, torna-se necessário que o indivíduo saiba administrar o que lhe proporciona prazer e bem estar, de modo a que estes não se configurem posteriormente como uma dependência.
 
A mesma especialista evidencia que, “caso se tenha identificado com o problema e acredite que necessita de ajuda profissional, uma ótima recomendação é a psicoterapia e as redes sociais de apoio”.
 
Fátima Fernandes