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Psicologia explica o que se esconde por detrás da vitimização

 
Recorremos às palavras de Albert Brandura para introduzir este tema da seguinte forma: “As pessoas que acreditam ter o poder de exercer um certo grau de controle sobre as suas vidas são mais saudáveis, mais eficazes e mais bem-sucedidas do que aquelas que não têm fé na sua capacidade de realizar mudanças nas suas vidas”.

É um facto que, num qualquer momento de vida, todos já nos passamos por vítimas, uma vez que, quando nos sentimos mais vulneráveis, sabe bem sentir o apoio e conforto dos outros, sabe bem ter a atenção toda para nós e quase esquecer que temos responsabilidades, no entanto, quando isso se torna num modelo de vida, acaba por ser problemático e por se designar como vitimização crónica.
 
As pessoas que sofrem de vitimização crónica, acreditam que tudo lhes acontece de errado, que só elas passam por situações complicadas e difíceis e “sugam” a energia e a atenção dos outros com a sua negatividade. Quem ajuda a primeira vez, sente-se mal por não voltar a fazê-lo já que tem medo de ser criticado pelos demais e, ao mesmo tempo, apresenta um grande sentimento de culpa por não estar a ajudar “aquela pessoa indefesa” num momento em que tanto precisa, o problema é que isso se torna tanto num hábito como num círculo vicioso e quem apoia acaba por ser refém dessa pessoa que encontra sempre motivos para se lamentar e para chamar a atenção.
 
A psicologia designa esse processo como "focus de controle externo", no qual a pessoa não assume as suas responsabilidades e acaba por projetar tudo nos outros. Em vez de procurar as soluções para os seus problemas, acaba por pedir tudo o que precisa a alguém que esteja disponível para isso e, quando tal não acontece, apresenta uma profunda ingratidão e mal estar ao outro que a ajudou.
 
Ao mesmo tempo, as pessoas que se vitimizam tendem a exacerbar o que lhes acontece, gerando uma sensação ainda maior de gravidade em relação ao que se está a passar, o que as impede de ver o lado positivo das situações. Estas pessoas estão completamente focadas no negativo,, pelo que, o melhor da vida lhes passa completamente ao lado. Por esse motivo, não conseguem encontrar alternativas, fazer algo de forma inovadora e diferente, muito menos acreditar que é possível inverter uma situação.
 
Neste sentido, as pessoas que se vitimizam fazem uso da chantagem emocional como forma de comunicação, manipulando os que os rodeiam. Para concretizarem os seus objetivos, procuram as pessoas mais empáticas que, naturalmente “lhes fazem todas as vontades” para que alcancem o que pretendem.
 
Quando as pessoas não fazem o que elas querem, proferem frases “baixas”, lamentam-se, falam mal delas a outros e dizem frases depreciativas a seu respeito, numa crítica feroz e que as deixa profundamente abaladas.
 
Para se proteger das vitimizações crónicas, é importante que não lhes faça todas as vontades, que assuma uma posição firme e que lhes diga que vão ter de lutar pelo que pretendem e, sobretudo, é fundamental manter uma boa distância emocional face a essas pessoas e aos seus relatos e pedidos. Não tenha medo de dizer “não”, ainda que o possa fazer de forma correta e educada. Uma boa solução também passa por conversar com a pessoa e mostrar-lhe possíveis alternativas, motivá-la para ver a realidade numa perspetiva diferente onde possa criar soluções para os seus problemas. Mostre-lhe que esse é o seu papel, não o de ombro que só lhe ampara as lágrimas e os desabafos.
 
Depois, é importante que não se sinta culpado por ter de ser firme e assertivo, pois como já referimos, as pessoas que se colocam permanentemente no papel de vítimas, jogam muito com a chantagem emocional. Proteja-se mostrando-se tal como é, clarificando aquilo em que pode ajudar. Não abdique dos seus desejos e objetivos em prol de uma pessoa assim. Ajude de forma razoável naquilo que considerar que é o seu papel.
 
Em muitos casos, a ajuda passa por outras pessoas e/ou instituições, pelo que pode alavancar esse processo e entregar a pessoa aos cuidados de profissionais na matéria. É também possível que a intervenção de um psicólogo possa ser útil em casos de vitimização grave, em que uma psicoterapia pode conduzir o paciente a encontrar outras formas de encarar a vida. Por tudo isto, é essencial identificar bem a pessoa que vive em vitimização crónica, já que há uma tendência para que arraste muitos outros para o seu sofrimento e negatividade. A melhor ajuda não é fazer o que a pessoa quer, mas sim levá-la à consciência do que precisa de desenvolver e mudar para encontrar o que pretende, sublinham os especialistas na área da psicologia.