Em entrevista à CNN Portugal, o psicólogo e professor universitário britânico explicou que, “começamos a sentir-nos insatisfeitos com as nossas vidas à medida que nos comparamos cada vez mais com os outros.” As redes sociais vieram potenciar a infelicidade, porque “encorajam a ‘comparar e a desesperar’”.
Bruce Hood é professor de psicologia na Universidade de Bristol, no Reino Unido. É responsável pelo curso Ciência da Felicidade, lançado em 2018, que ensina os jovens universitários a serem felizes. O curso deu origem ao livro “A Ciência da Felicidade – Sete lições para viver bem”.
O psicólogo nascido em Toronto, no Canadá, deixa claro que não se pode ser feliz sozinho e que a nossa felicidade depende também da felicidade de quem nos rodeia, garantindo que o egocentrismo é inimigo de uma “felicidade forte e duradoura”.
Na mesma entrevista à CNN Portugal, Bruce Hood diz que a felicidade tem também uma carga genética, mas é possível ensinarmos os nossos filhos a serem felizes: “É importante oferecer oportunidades para que o seu filho faça amizade com outras crianças, incentivando-o a ser generoso e gentil”. O resto, a vida irá devolver-lhe.
O especialista garante que é possível aprender a ser feliz e que é necessário manter algumas estratégias para que esses níveis permaneçam ativos em nós, pois caso contrário, volta tudo atrás. A felicidade não depende totalmente de nós mas “é uma experiência inteiramente pessoal, é gerada quando estamos satisfeitos com as nossas vidas e, isso inclui aqueles que nos rodeiam”. É nesse sentido que, duas das lições que apresenta no seu livro passam por evitar o isolamento e por conectar-se com outras pessoas.
Bruce Hood adiantou ainda que, começamos a sentir-nos insatisfeitos com as nossas vidas à medida que nos comparamos cada vez mais com os outros. “Por isso, diria que os problemas de saúde mental começam a crescer por volta da adolescência”, quando as crianças se comparam cada vez mais com os seus pares. Esta comparação é agravada pelas redes sociais, que encorajam os utilizadores a “comparar e a desesperar”, por causa das representações irrealistas que são retratadas online. Assim, a adolescência (e até meados dos 20 anos) é a altura de pico dos problemas de saúde mental “e penso que isto se reflete na transição para a idade adulta, quando há mais pressões”.
A felicidade vem e vai ao longo das nossas vidas. “Precisamos vivenciar a infelicidade como parte da nossa reação natural aos contratempos da vida e todos temos problemas. Ensino uma maneira melhor de lidar com os problemas para que eles não dominem as nossas vidas. É verdade que a felicidade não tem sido priorizada, pois a competição pelo sucesso significa que muitos sacrificam a sua saúde mental na busca pelo sucesso. Não há nada de errado em ser ambicioso, mas é extremamente importante obter o equilíbrio correto entre trabalho e vida pessoal.”
É impossível alguém estar permanentemente feliz. “Então, suponho que a felicidade seja feita daqueles pequenos momentos que acontecem quando algo corre bem nas nossas vidas”, resume o especialista à CNN Portugal.
O psicólogo vai mais longe e esclareceu que, “Ninguém pode e nem deve ser feliz o tempo todo, porque precisa do que é mau para apreciar o que é bom. Além disso, o cérebro acostuma-se com estados estacionários. Mas podemos passar mais tempo com um estado de espírito mais feliz do que com um estado de espírito infeliz, que é o que tento ensinar”.
Na introdução do seu livro, o especialista diz que o que faz uma criança feliz são, em parte, os genes dos pais. “A genética comportamental informa-nos que a herdabilidade da felicidade anda à volta de 50%. Isso significa que, se observarmos o grau de semelhança entre os filhos e pais, há uma grande variação. Algumas crianças são muito parecidas com os pais e outras muito diferentes dos pais, mas, em média, a semelhança é de cerca de 50%. Por outras palavras, mesmo que os pais estejam muito felizes, um filho ainda pode estar infeliz e vice-versa.”
O ponto principal é que há espaço para melhorias. Por exemplo, estudos com gémeos idênticos e não idênticos mostram que é possível ensinar os dois tipos a serem mais felizes, mas as vantagens não dependem da semelhança genética. Além disso, vale a pena considerar que a herdabilidade da felicidade é a mesma da inteligência. Todos reconhecem que a educação é importante para todos os níveis de inteligência e, portanto, o mesmo argumento se aplica à felicidade – todos podemos beneficiar.
Bruce Hood completa que, o cérebro dá atenção especial às informações negativas porque é uma estratégia evolutiva de sobrevivência para que possamos reproduzir-nos. Não há vantagem em prestar atenção nas coisas boas ou quando as coisas não estão a mudar. Em vez disso, é melhor antecipar os problemas e tentar resolvê-los ou concentrar-se em coisas que são potencialmente ameaçadoras. Nesse sentido, para que consigamos ser felizes, temos de incluir no nosso quotidiano experiências que nos fazem bem e que nos dão prazer, sob pena de ficarmos mergulhados em pensamentos negativos.
Na mesma sequência, o psicólogo adiantou que, “quando somos egocêntricos, direcionamos a nossa atenção e esforços para nós mesmos e não para os outros. Achamos que os nossos problemas são mais importantes do que os dos outros e por isso exageramo-los. Também tendemos a fazer comparações negativas, considerando o quão melhor estão os outros que são mais bem-sucedidos do que nós, em vez de considerar aqueles que são menos afortunados. Quando somos egocêntricos, não nos beneficiamos do apoio recíproco e da generosidade fornecida por outros, de que podemos necessitar para superar os problemas da vida”, realçou ao mesmo canal televisivo.
Para finalizar, Bruce Hood registou que, quando oferecemos algo a alguém, por mais simples que seja, “a felicidade que sentimos é muito maior e mais duradoura do que quando adquirimos algo para nós próprios, por muito caro e valioso que seja”.
Como conselho para criar filhos mais felizes, o especialista recomenda que, os pais incentivem os mais novos a estabelecer contactos positivos e gentis com outras crianças, que sejam generosos, uma vez que, “com o tempo vão tornando-se mais populares e isso ajudará a fortalecer as ligações sociais”.
A felicidade abrange uma série de questões, “mas penso que a melhor definição é uma sensação de contentamento com a vida em termos daquilo que alcançou, onde está atualmente e como acha que será o seu futuro. Abrange emoções positivas e pensamentos positivos. Pode medir isso simplesmente pedindo às pessoas que avaliem o quão verdadeiro isso é numa escala de 0 a 10 (que é o método usado pelo Relatório Mundial da Felicidade)”, sugere Bruce Hood na mesma entrevista.
Destapando a “ponta do véu”, aqui estão as sete lições de Bruce Hood para começar a construir a sua felicidade:
Primeira Lição: Alterar o ego.
Segunda Lição: Evitar o isolamento.
Terceira Lição: Rejeitar comparações negativas.
Quarta Lição: Ser mais otimista.
Quinta Lição: Controlar a atenção.
Sexta Lição: Ligar-se aos outros.
Sétima Lição: Sair de nós próprios.